O resultado da eleição americana serviu para esquentar no Brasil a ambição de populistas de direita com tendências radicais e de atemorizar setores da esquerda que não querem vê-los na Presidência em 2018 nem pintados de vermelho. O medo do discurso demagógico não é irracional, mas falta à massa de internautas indignadas transformarem o xororô das redes sociais em ação prática.
À direita, à esquerda, a demagogia sempre foi um perigo que rondou o Brasil e causou estragos estrondosos. Líderes carismáticos já captaram, e ainda captam, muito bem os anseios populares e com base nisso prometem uma gestão fantasiosa. Mas a realidade faz com que a máscara caia logo após serem eleitos e terem de lidar com a dura situação das contas públicas e das deficiências crônicas da máquina estatal. O resultado conhecido é o estelionato eleitoral, o desmentido de promessas das promessas de campanha, o fim dos discursos virulentos de campanha.
O perigo de acirramento do discurso demagógico no país hoje é uma realidade que não guarda nenhuma relação direta com a ascensão de Trump à Casa Branca. Aliás, é bastante difícil dizer se o republicano irá levar a cabo as promessas que o elegeram. O risco, no Brasil, é de que redes de intolerância e simpáticas ao radicalismo se fortaleçam e se traduzam em projetos de poder que ameacem as liberdades civis. Se não houver desrespeito de direitos de outros cidadãos, essas redes estarão atuando politicamente de forma legítima, dentro do que se espera num regime democrático.
E enquanto isso, do outro lado, o que se vê é mais xororô nas redes sociais do que práticas que combatam o avanço de populistas e demagogos. Se a intenção de conter o populismo e a demagogia é verdadeira, então, torna-se necessário, deixar o Facebook e o Twitter partir para a ação. Do contrário, é apenas mais um reclame, um falso instinto de cidadania.
Embora não exista solução mágica, única e grandiloquente para acabar com o problema, há atualmente uma ampla variedade de grupos se organizando, fora dos partidos e outras instituições tradicionais, que contribuem significativamente para fortalecer a democracia. Diversas iniciativas estão ocorrendo em Curitiba, das sociedades de debate, ao hacker-ativismo, passando pelas entidades que se espelham no movimento de “cidades e transição”, até aquelas, como o Instituto Atuação, que pretendem tornar Curitiba um modelo de democracia e participação.
Falta muito para se combater os demagogos e populistas, sejam eles de direita ou esquerda. É preciso que as iniciativas existentes se multipliquem e outras, ainda mais sofisticadas, como as que estimulam o aprendizado sobre questões de orçamento público, sejam criadas. Afinal, dão dá mais para aceitar promessas de candidatos, nem admitir discussões tão fantasiosas sobre as contas públicas. Uma grande quantidade de iniciativas rodando tendem, no médio prazo, a mudar comportamentos e gerar novos padrões sociais que vão contendo o discurso radical e populista.
Se é genuína a indignação com Trump e o receio de que um populista de direita se torne presidente, então que se pare de reclamar e se parta para a ação. Do contrário, estará se vivendo mais uma miragem de participação política em redes sociais.