CPMI da Petrobras convoca ex-contadora de Youssef
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras aprovou na tarde desta quarta-feira em votação simbólica, a convocação da contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef. Meire relatou, de acordo com a revista Veja, que Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), circulava com "malas e malas de dinheiro" em esquema de lavagem que teria como destino políticos do PT, PMDB e do PP.
A CPMI da Petrobras também aprovou requerimento para ter acesso à cópia dos depoimentos da contadora Justiça Federal do Paraná. A decisão ocorreu ao fim do testemunho do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa que, frustrando as expectativas, permaneceu em silêncio durante toda a reunião.
Com a manutenção da sessão aberta da CPI mista da Petrobras no Congresso e diante do silêncio do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, parlamentares da oposição adotaram a estratégia de relacionar as recentes denúncias envolvendo a Petrobras com o mensalão do PT. Às vésperas das eleições, parlamentares afirmaram que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, tem responsabilidade sobre o esquema. Na época em que Costa atuou na estatal, Dilma era presidente do Conselho Administrativo da empresa. Peça-chave das investigações de desvio de dinheiro da estatal conduzida pela Petrobras na operação Lava Jato, Costa frustrou a expectativa de revelar uma lista de políticos que teriam recebido propina em contratos da empresa. No início do mês, veio a público que Costa aceitou fazer uma delação premiada e informou que dezenas de políticos receberam dinheiro desviado da Petrobras, entre eles os presidentes da Câmara e Senado, Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros, e o ministro das MInas e Energia Edison Lobão (leia abaixo). O ex-diretor se comprometeu a devolver US$ 23 milhões desviados da estatal.
Mesmo sem Paulo Roberto Costa falar, os parlamentares fizeram perguntas e debateram a possibilidade de fazer uma sessão fechada. Em votação, decidiram manter a sessão aberta devido a postura de Costa de não se pronunciar. Questionado pelo relator Marco Maia (PT-RS) sobre suposta corrupção na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), ele disse que continuaria calado. Outros questionamentos foram feitos, e Costa se manteve calado.
"Esse não é o mensalão dois. É o mesmo mensalão com fontes diferentes pagando políticos. O operador lá atrás [no caso do mensalão] era Marcos Valério e o operador dentro do governo era Paulo Roberto Costa", afirmou o deputado Fernando Francischini (SDD-SP). "Ele é chamado de Paulinho por Lula. O esquema de publicidade acabou, mas outro surgiu rendendo mais. O governo Lula, Dilma e o PT não aprenderam com o mensalão. Lá, foram condenados pelo STF [Supremo Tribunal Federal] mas o esquema é o mesmo. Estamos diante da continuidade do braço indicado por Roberto Jefferson [delator do mensalão]", afirmou o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS).
Para o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), Dilma tem responsabilidade sobre quem foi indicado para dirigir setores da Petrobras e criticou sua postura de dizer que não sabia de nada. "Estamos vendo que as nomeações daqueles que hoje estão sendo investigados e nominados como quadrilha que tomou contra da Petrobras teve o aval, o apoio do ex-presidente Lula, da atual presidente Dilma durante todo o período. Não apenas o aval, mas a nomeação. Se não sabem de nada, o que estão fazendo lá", disse.
Dilma tem dito que não sabia do esquema montado por Costa na estatal e afirmou que, se soubesse, não apenas teria demitido o ex-diretor como teria mandado investigar, como aconteceu neste ano. Ela explicou que Costa foi demitido da Petrobras em 2012 por falta de afinidade com ela.
Os parlamentares da oposição tentaram, no início da sessão, tornar a sessão secreta com o argumento de que eles poderiam tentar convencer Costa a falar alguma coisa. "Manter sessão aberta é manter um jogo combinado. Se não fechar vai ganhar quem não quer investigar", afirmou Lorenzoni. O deputado Afonso Florence (PT-BA) protestou diante do que considerou ser uma "acusação" contra os governistas.
O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), chegou a apresentar um requerimento para tornar a sessão secreta. Ele foi derrotado por dez votos favoráveis à manutenção da sessão aberta contra oito que defendiam fechá-la. A defesa pela sessão aberta foi feita por integrantes da base aliada do governo, que temiam que Costa pudesse falar algo para os parlamentares. Assim que chegou à reunião, Costa afirmou que iria permanecer em silêncio mesmo em uma sessão secreta. Os parlamentares têm usado o tempo das perguntas para fazer discursos políticos, uma vez que o ex-diretor disse que não responderá aos questionamentos da CPI.
Delação
Na sessão da CPI, os congressistas reclamaram que o Supremo Tribunal Federal ainda não deu garantias explícitas de que irá enviar para a comissão de inquérito os documentos com a delação premiada de Costa. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), recolheu assinaturas para pedir uma reunião com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, nesta quinta-feira (18).
Além do presidente do STF, o ministro Teori Zavascki vai participar do encontro. Ele é relator do caso que envolve as denúncias contra a Petrobras. Inicialmente, os membros da CPI se reuniriam com o presidente do STF e com Zavascki na semana que vem, mas depois de apelos da oposição, Vital disse que Lewandowski abriu espaço em sua agenda para receber uma comissão de integrantes da comissão de inquérito.
Ex-diretor deixou Curitiba pela manhã
Paulo Roberto Costa está preso desde março na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no bairro Santa Cândida. Ele recebeu uma autorização especial do juiz federal Sérgio Moro para viajar a Brasília. Ele decolou na manhã dessa quarta-feira.
O ex-funcionário da Petrobras fez um acordo recente de delação premiada e poderia se prejudicar se falasse sobre o caso, em sessão aberta, na CPMI.
O traslado do ex-diretor foi cercado de forte esquema de segurança. Desde o começo da tarde, três viaturas da Polícia Federal vigiam a entrada do Congresso. No caminho, manifestantes espalharam barris de petróleo pintados de verde e amarelo e com frases alusivas ao escândalo na empresa. Costa desembarcou com um visual diferente, um grande bigode branco e foi protegido do contato com a imprensa.
O ex-diretor está sem algemas, seguindo determinação judicial, e vai ficar isolado na sala até o momento do depoimento. A Polícia Federal foi responsável pelo transporte de Paulo Roberto até o Congresso. Dentro do Legislativo, a segurança do ex-diretor ficará a cargo da Polícia Legislativa.
Eduardo Campos, Lobão, Renan e Cabral na lista de beneficiados por esquema na Petrobras
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa listou a relação de mais de 30 políticos envolvidos com esquema de corrupção na Petrobras. Em seu depoimento, Paulo Roberto Costa cita pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos PT, PMDB e PP, que teriam tirado proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras.
Entre os envolvidos estão o ministro Edison Lobão ( Minas e Energia), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores estão Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e os deputados Cândido Vaccarezza (SP), João Pizzolatti (PP-SC), Mário Negromonte (PP). Entre os governadores, Paulo Roberto Costa cita o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, morto no dia 13 de agosto em um acidente aéreo em Santos (SP).
Paulo Roberto Costa ocupou a diretoria da Petrobras entre 2004 e 2012, isto é, participou dos dois governos Lula e dos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff. Costa foi preso em março deste no, quando a Polícia Federal prendeu o ex-diretor sob acusação de participar de um megaesquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef. De acordo com Costa, a distribuição do dinheiro servia para garantir que os partidos aliados continuassem a apoiar o Palácio do Planalto no Congresso Nacional.
As investigações da PF já haviam revelado a existência de uma ampla rede de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da empresa, grandes empreiteiras, doleiros e políticos importantes. Os depoimentos de Paulo Roberto Costa estão sendo colhidos desde o dia 29 agosto pela Política Federal. Ao todo, já são mais de 40 horas de conversas gravadas, revela a revista.
Por envolver políticos, que têm direito a foro privilegiado, o caso está sendo acompanhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Barroso vota por manter exigência de decisão judicial para responsabilizar redes por ofensas
Dias de pânico: o que explica a disparada do dólar e dos juros
Congresso fecha lista do “imposto do pecado”; veja o que terá sobretaxa e o que escapou
Como funciona a “previdência militar” que o Congresso vai rever