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O retorno do Congresso aos trabalhos na próxima semana trará de volta ao centro das atenções políticas insatisfações de aliados do governo Dilma Rousseff, com a demora em nomeações, não liberação de emendas deste ano e falta de interlocução, que podem dificultar as ações do Executivo para o segundo semestre.

Haveria um "caldeirão" de descontentamentos em ebulição, nas palavras de um assessor do Palácio do Planalto, e as consequências disso ainda não são mensuráveis. A saída estaria atrelada à capacidade de articulação política do governo, para evitar que haja contaminação da pauta prioritária do Executivo.

É nesse quadro de insatisfações que a oposição aposta para conseguir, por exemplo, criar uma CPI e investigar o setor de transportes, alvo de denúncias. No Senado, um requerimento para abrir uma investigação já conta com 23 assinaturas e faltam apenas quatro para formalizar o pedido.

Até agora, seis senadores filiados a partidos da base aliada assinaram o requerimento do PSDB. O líder dos tucanos no Senado, Álvaro Dias (PR), aposta nos aliados descontentes para aprofundar a crise no setor.

"Não tenha dúvida que fogo amigo pode ajudar na instalação da CPI. Há insatisfação, porque nessa responsabilização (das denúncias) alguém fica com carga maior e pode não gostar da ideia", afirmou Dias.

Os aliados com maior grau de insatisfação são os filiados ao Partido da República (PR), alvo principal da devassa feita pela presidente na área de transportes. Denúncias sobre irregularidades no ministério deslancharam um processo de reestruturação, que levou à saída do ex-ministro Alfredo Nascimento, diretores e funcionários do setor.

Uma importante liderança da legenda disse à Reuters, sob a condição de anonimato, que há um sentimento generalizado na bancada de que nas futuras votações na Câmara e no Senado não haverá alinhamento automático à posição do governo, apesar do partido ter afirmado diversas vezes que não deixará a coalizão de Dilma.

Mas a insatisfação não está restrita no PR. Um grupo de deputados peemedebistas programa para a próxima semana uma reunião para discutir uma posição em relação a temas polêmicos como a regulamentação dos gastos com saúde pela Emenda 29, que pode engessar o Orçamento federal, ou a criação de um piso salarial para agentes de segurança.

Esse grupo era formado por pouco mais de uma dúzia de deputados, a maioria de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, mas pode ganhar musculatura e aglutinar outros insatisfeitos da Região Nordeste, chegando a quase 30 parlamentares.

Segundo a fonte do Palácio do Planalto, que pediu para não ter seu nome revelado, o vice-presidente Michel Temer pode intervir se perceber um princípio de rebelião.

O partido, temendo uma disseminação de possíveis denúncias como as que caíram sobre o PR, chegou a ensaiar uma resposta e se mobilizou para afinar o discurso, mas até agora tem expressado alinhamento com o governo.

Além do PMDB, que luta para firmar a imagem de fiel ao governo Dilma, o PT também ainda sofre com problemas de desunião da bancada, que durante todo primeiro semestre causou dor de cabeça à presidente.

ARTICULAÇÃO

De olho nesse quadro e preocupada com os desdobramentos dessa insatisfação, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, se reúne no começo da semana com os presidentes da Câmara e do Senado e com os líderes do governo no Congresso.

Entre as prioridades, discutir uma estratégia para impedir a criação da CPI dos Transportes. Ela também deve acertar a ida de membros do governo para prestar esclarecimentos no Congresso como o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

A presidente estuda convocar uma reunião do Conselho Político da Coalizão, que reúne presidentes e líderes dos 17 partidos aliados, para debater os efeitos dos problemas financeiros na Europa e nos Estados Unidos e garantir apoio para aprovar as medidas que o governo pretende enviar ao Congresso.

Outro remédio preventivo será a nomeação de aliados para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e a liberação de recursos dos restos a pagar do Orçamento em meados de agosto.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que a presidente pediu que os ministros conversem com os aliados. Ele, por exemplo, tem feito parte das articulações junto ao PT.

"Será um retorno (aos trabalhos) nervoso", afirmou Dias.

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