A onda de emboscadas contra agentes penitenciários em São Paulo provocou o aumento do número de pedidos de licenças médicas e exonerações na categoria. Segundo os dois sindicatos que representam os agentes, nas últimas duas semanas, aumentou o número de agentes que procuram o Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo, órgão que concede as licenças, para pedir afastamento por motivo de saúde.
Um levantamento feito pela secretaria de Administração Penitenciária, a pedido do GLOBO ONLINE, mostrou que em 104 unidades prisionais há 615 agentes em licença médica para tratamento de saúde. Os pedidos das últimas semanas são feitos, basicamente, sob argumento de problemas psicológicos decorrentes da situação de risco.
Nesse período, pelo menos cinco agentes foram assassinados e outros emboscados. A polícia atribui os crimes a uma facção criminosa que atua no estado. Escutas feitas pela polícia revelaram que integrantes da facção tinham ordem para matar entre 5 e 15 agentes penitenciários em Centros de Detenção Provisória (CDPs) em dez dias.
O número de agentes que estão hoje em licença médica representa cerca de 3% dos funcionários do sistema prisional. Para o estado, significa um desembolso de R$ 1,6 milhão sem que os trabalhadores estejam exercendo suas atividades. A tendência, porém, é aumentar.
A SAP informou que não tem como comparar o número atual de licenças com os pedidos feitos em meses anteriores para confrontar a informação do sindicato, pois não há levantamentos anteriores. A SAP também não confirma que houve um crescimento do número de licenciados.
O Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp) informa que entre os agentes mais assustados com a onda de violência, e que estão entrando com pedidos de licença, estão os transferidos do interior para a capital.
- São rapazes de 21, 22 anos, que vieram transferidos do interior para a capital e que estão estressados, aterrorizados, sem condições de exercer suas funções com as mortes de colegas que estão acontecendo. Muitos moram em repúblicas e nem estão voltando para casa. Eles preferem ficar em hotéis para evitar serem alvo de atentados. Muitos estão pedindo licença e até exoneração e voltando para o interior - diz José Rosalvo da Silva, secretário-geral do Sindasp.
O presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo, João Rinaldo Machado, afirma que os familiares de agentes estão fazendo muita pressão para que eles deixem a função.
- Eu mesmo tenho 12 anos de trabalho no sistema prisional e estou sendo pressionado pelo meu pai para sair do emprego. Até minha sogra pede para eu sair. Eles estão com medo - diz João Rinaldo.