O professor Adriano Codato, da UFPR, diz que certo dia recebeu um pesquisador de fora da cidade que queria conhecer o tal Observatório das Elites Políticas e Sociais do Brasil. “Acho que ele pensou que era um prédio grande, daqueles espelhados. Tive que decepcionar o visitante e contar que o observatório ficava ali mesmo, no meu laptop”, diz, sorrindo.
Apesar de realmente ter uma estrutura mínima, faz sentido que o pesquisador tenha tido interesse em conhecer o projeto – e que tenha ouvido falar dele. Embora seja feito com base no empenho de uns poucos pesquisadores, a maior parte com endereço em Curitiba, o Observatório nada tem de quixotesco – pelo contrário: sabe muito bem que não está diante de gigantes, e que agora é hora de estudar a fundo os moinhos de vento para entendê-los melhor.
O trabalho de estudos de elites surgiu de uma necessidade histórica. No período da ditadura militar, contam os pesquisadores, o funcionamento da política profissional no Brasil estava em fase de exceção. Pouco valia estudar como as coisas funcionavam. Mas foi exatamente neste período que as ciências sociais desenvolveram técnicas cada vez mais aperfeiçoadas para saber de onde vinham suas elites políticas, como elas governavam e com quais resultados.
Foi a partir do início dos anos 2000 que o Brasil começou a reduzir seu atraso diante das pesquisas estrangeiras. Mesmo assim, não havia um grupo dedicado a prioritariamente aplicar estas ferramentas às elites brasileiras num trabalho sistemático. Trabalho que inclui ir aplicar questionários em convenções partidárias. Estudar a biografia de ocupantes de diretorias do Banco Central ao longo dos anos para achar tendências. Ou separar candidatos para descobrir porcentagens de mulheres negras que se candidatam e se elegem no país.
Trabalho de formiguinha, mas que ajuda a entender como funcionam as elites do país – e aqui não há que misturar com o uso pejorativo que se banalizou no país, principalmente graças ao ex-presidente Lula. “Não se trata de juízo de valor. Elite, como estudamos, é qualquer grupo de pessoas que tenha poder de mando, em qualquer área”, explica Renato Perissinoto, um dos colaboradores do grupo.
Hoje, o Observatório se tornou referência no país. Em seu site, reúne pesquisas feitas em diversos lugares do Brasil, além de disponibilizar bancos de dados e de enviar uma newsletter. Também serve como arena para troca de ideias. Lá, os pesquisadores também vão atualizando os dois grandes projetos que tocam atualmente: um analisa o recrutamento dos políticos profissionais brasileiros: de onde vêm e quem são; o outro compara as elites brasileira e argentina dos anos 1950 para saber porque aqui houve mais industrialização do que lá.
Para incentivar que mais trabalhos do gênero sejam feitos, Codato e Perissinoto também lançam agora um livro que reúne artigos de diversos cientistas políticos sobre o tema. “Como estudar elites”, da Editora da Universidade Federal do Paraná, explica as ferramentas mais consagradas para o tema. Livro para ajudar a criar uma nova elite – dessa vez, de pesquisadores.
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