Não tenho conta não declarada e não tenho empresa offshore, não sou acionista, cotista. Tenho um contrato com um trust, e ele é o proprietário nominal dos ativos que existiam.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou que só ficou sabendo quem havia depositado 1,3 milhão de francos suíços (cerca de R$ 4,8 milhões) em uma conta na Suíça durante a Operação Lava Jato. Em entrevista publicada na edição deste sábado do jornal Folha de S.Paulo, Cunha afirmou que o depósito havia sido identificado pelos gestores da conta, mas que ele não tinha ideia de onde o dinheiro vinha, e que por isso nunca o usou.
Cunha, que está respondendo a um processo no Conselho de Ética na Câmara sob acusação de ter mentido na CPI da Petrobras, nega que tenha quebrado o decoro ao negar ter contas na Suíça. A existência das contas foi comprovada pelo Ministério Público suíço. Caso os deputados acreditem que ele mentiu, Cunha pode ter o mandato cassado.
Na entrevista à Folha, Cunha afirmou que não mentiu porque as contas não estão em seu nome, mas sim de um “trust”, uma espécie de fundo entregue à gestão de terceiros. O deputado admitiu ter entregue dinheiro ao trust, mas diz que a conta não é propriamente dele, já que ele não pode retirar o dinheiro a qualquer momento.
Não tenho conta não declarada e não tenho empresa offshore, não sou acionista, cotista. Tenho um contrato com um trust, e ele é o proprietário nominal dos ativos que existiam.
“Não tenho conta não declarada e não tenho empresa offshore, não sou acionista, cotista. Tenho um contrato com um trust, e ele é o proprietário nominal dos ativos que existiam”, disse Cunha à Folha. O deputado afirmou ainda que o dinheiro teria sido ganho licitamente e que isso “não tem nada de mais”.
O Ministério Público da Suíça aponta inconsistências na defesa apresentada por Eduardo Cunha e diz que as movimentações financeiras realizadas por ele indicam suspeita de lavagem de dinheiro de origem ilícita. Segundo as autoridades suíças, a decisão de bloquear as contas atribuídas a Cunha ocorreu depois que as investigações apontaram para depósitos incompatíveis com a remuneração dele como presidente da Câmara dos Deputados.
Fontes próximas ao processo de Cunha na Suíça, porém, afirmaram que o deputado é, sim, o responsável pelas contas. “Existe uma suspeita inicial suficiente de que, também em relação a estas transações efetuadas para Cunha, trata-se de produtos criminosos”, alertou informe interno do Ministério Público suíço.
“Existe uma forte suspeita de que os pagamentos efetuados às contas de Cunha são pagamentos de propina e que Cunha é culpado também por lavagem de dinheiro”, disse o MP.