Foragido desde esta quarta-feira (25), quando teve a prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) , o advogado Edson Ribeiro representa o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró desde o início dos processos da Operação Lava Jato. Ribeiro é acusado de “fazer jogo duplo” na defesa do ex-diretor e representar, na verdade, os interesses do senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira (24) também por ordem do STF.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Edson Ribeiro estaria tentando impedir que o ex-diretor fechasse um acordo de colaboração premiada com os investigadores da Lava Jato. O interesse de Ribeiro seria poupar o senador Delcídio Amaral e o banqueiro André Esteves. Em uma conversa gravada pelo filho do ex-diretor, Bernardo Cerveró, Amaral e seu chefe de gabinete Diogo Ferreira discutem a possibilidade de o senador interferir junto ao STF para colocar Cerveró em liberdade e a execução de um plano de fuga.
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Leia a matéria completaQuando Cerveró foi preso, em janeiro deste ano, Ribeiro chegou a aconselhar o cliente a não prestar esclarecimentos aos investigadores sobre o esquema na Petrobras. Um dos argumentos usados por Ribeiro seria de que Cerveró estaria à disposição das autoridades desde abril de 2014, mas nunca foi ouvido, portanto só deveria prestar esclarecimentos caso fosse solto. O advogado mudou de ideia apenas depois de ter tido acesso à denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que motivou a detenção.
Morde e assopra
A defesa do ex-diretor mudou de estratégia mais de uma vez quando o assunto é o envolvimento da presidente Dilma Rousseff (PT) no esquema da Lava Jato. Em janeiro desse ano, Ribeiro chegou a arrolar a presidente como testemunha de defesa em um dos processos no qual Cerveró é réu na Justiça Federal de Curitiba.
Ribeiro protocolou a defesa na ação penal que acusava Cerveró de receber propina pela contratação da Samsung Heavy Industries para aquisição de navios-sonda e entre as testemunhas arroladas estava a presidente, que pertenceu ao Conselho de Administração da Petrobras. Cerca de três horas depois, a defesa desistiu de ouvir Dilma e substituiu a testemunha.
A justificativa para a desistência, de acordo com Ribeiro, é que ele teria “se enganado” e que foi alertado por Cerveró de que a contratação das sondas não passava pelo Conselho de Administração da estatal. O episódio, no entanto, chegou a ser considerado um “recado” para o Palácio do Planalto.
Em abril de 2014, Ribeiro afirmou que os conselheiros da Petrobras, incluindo a presidente Dilma, receberam com 15 dias de antecedência o contrato da compra da refinaria de Pasadena (EUA), negócio que teria gerado prejuízo à estatal. “Cerveró não vai aceitar ser bode expiatório”, disse o advogado na época.
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Leia a matéria completaEm janeiro desse ano, porém, ao ser preso, Cerveró permaneceu em silêncio durante depoimento à Polícia Federal (PF) sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal. Uma semana antes, Ribeiro havia anunciado que o ex-diretor responsabilizaria a presidente Dilma Rousseff e o resto do Conselho de Administração da estatal pela compra de Pasadena.
Depoimento na CPI
Outra polêmica envolvendo Cerveró e seu defensor ocorreu em agosto do ano passado, quando Ribeiro precisou se explicar em relação à suspeita de que Cerveró teria recebido antecipadamente as perguntas que lhe seriam feitas na CPI da Petrobras. De acordo com uma matéria publicada pela revista Veja na época, o ex-diretor teria recebido previamente as perguntas que seriam feitas e as respostas que deveriam ser dadas.
Ribeiro negou a acusação, e disse em nota que “Nestor Cerveró jamais compactuou com farsas advindas de quem quer que seja. Nestor Cerveró foi convidado a participar de um ‘media training’ [treinamento com perguntas e respostas sobre temas críticos, realizado por grandes empresas com seus executivos] comportamental, oferecido pela Petrobras”.
Briga com Sergio Moro
O advogado de Cerveró também é um dos defensores mais críticos em relação à competência do juiz federal Sergio Moro para julgar os processos da Lava Jato. Ribeiro chegou a impetrar uma exceção de competência e outra de suspeição contra o juiz paranaense.
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Leia a matéria completaEntre os argumentos apresentados pelo advogado contra Moro estava o de que a investigação foi realizada na Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro. A defesa também afirmava que o juiz, em ação anterior, se autodeclarou suspeito para processar e julgar o doleiro Alberto Youssef, considerado como peça-chave do esquema de desvios ocorridos na Petrobras. As mesmas teses chegaram a ser usadas pelos defensores de outros réus da Lava Jato, mas até agora sem sucesso.
Outro episódio de desentendimento com o juiz ocorreu em maio desse ano. Moro aplicou multa de 55 salários mínimos (R$ 43.340) a Ribeiro, por “abandono” de um dos processos que o ex-diretor respondia. A sanção foi revogada pelo magistrado alguns dias depois.
Moro havia dado um prazo para que a defesa do ex-diretor apresentasse suas alegações finais nos autos em que Cerveró havia sido denunciado por lavagem de dinheiro na compra via offshore uruguaia de uma cobertura de R$ 7,5 milhões em Ipanema, no Rio. O prazo não foi cumprido por Ribeiro.
Interpol
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou nesta quinta-feira (26) a inclusão no alerta vermelho da Interpol do nome do advogado Edson Ribeiro . O defensor estaria em Orlando, nos Estados Unidos, onde a família possui uma residência. Caso seja preso, o advogado deve ser trazido para o Brasil.
O advogado Beno Brandão, que faz também atua na defesa de Cerveró, informou que seu escritório continua atuando no caso do ex-diretor. Segundo o advogado, ele e Alessi Brandão, que também representa o ex-diretor, discordavam da estratégia de defesa de Ribeiro. “Ele era contra a delação e nós a favor”, disse o advogado. Brandão evitou entrar em detalhes sobre a relação com Ribeiro e a atuação do advogado no caso.
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