O delator Milton Pascowitch, dono da Jamp Associados, afirmou ao juiz Sergio Moro ter entregado R$ 10 milhões em dinheiro a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, em uma “mala de rodinhas”, com remessas em torno de R$ 500 mil levadas no diretório nacional do partido entre o fim de 2009 e meados de 2011 — o delator já havia citado a cifra de R$ 10 milhões em depoimento do ano passado.
O dinheiro, segundo ele, era destinado às eleições de 2010 e correspondia a propinas de contratos com a Petrobras firmados pelas empresas Engevix, Hope e Personal. Outros R$ 4 milhões foram pagos na forma de doação eleitoral oficial, declarada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O total chegou a R$ 14 milhões.
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“Eu entregava pessoalmente, levava numa malinha com rodinhas. Entregava dentro do diretório nacional do PT, na sala dele [Vaccari]”, afirmou Pascowitch, que prestou depoimento nesta quarta-feira a Moro na ação da Operação Pixuleco, que levou à prisão o ex-ministro José Dirceu.
Pascovitch afirmou que os pagamentos a Vaccari passaram a ser feitos devido à necessidade de o partido receber o dinheiro para as eleições. Entre 2003 e 2009, afirmou, a propina era repassada ao grupo político do ex-ministro José Dirceu.
O delator confirmou ter atuado como operador no pagamento de propinas a políticos. Inicialmente, o dinheiro ao “grupo político” foi pago a Silvio Pereira, que foi secretário-geral nacional do PT e ao lobista Fernando Moura, que também assinou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato. Silvinho saiu de cena com o escândalo do mensalão. Pascovitch contou que em 2007 conheceu o ex-ministro José Dirceu e, a partir de então, passou a fazer os contatos diretamente com ele ou por meio de intermediários dele, como o irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e o assessor Roberto Marques.
Segundo o delator, a propina paga a Dirceu correspondia a 0,5% dos contratos firmados pela Engevix com a Petrobras e envolveu obras em várias refinarias, além do projeto Unidade de Tratamento de Gás Natural de Cacimbas em Linhares, no Espírito Santo, dividida em dois contratos – Cacimbas I e II.
Pascovitch contou ter iniciado os contatos na Petrobras por meio de Fernando Moura, a quem já conhecia, com o intuito de aumentar os negócios da Engevix com a estatal. Até 2003, a empresa tinha apenas alguns contratos na Transpetro. Em seguida, conheceu o gerente da Petrobras Pedro Barusco, com quem passou a jogar golfe.
“Eu me servia das informações de Barusco para passar a Fernando Moura, do grupo político. Eles as usavam para cobrar propinas”, afirmou.
Foi Moura quem pediu a Pascowitch que passasse a atuar como operador de propinas também em contratos feitos por outras empresas, além da Engevix.
Ao juiz Sergio Moro, o delator afirmou que a propina era de 1,5% do valor dos contratos com a Petrobras. Além do 0,5% dos políticos, entregue ao grupo de Dirceu, a “casa”, formada pelos executivos da Petrobras, ficava com 0,5% e ele próprio com 0,5%, a título de remuneração pelo serviço.
Pascovitch pagava a propina ao grupo de Dirceu de diversas formas. Para Moura, diz ter pago diversas despesas pessoais dele e de seus parentes. Para Dirceu, pagou reformas na casa do ex-ministro em Vinhedo (SP) e simulou a compra de um sobrado da filha.
Os funcionários da Petrobras receberam em dinheiro dentro e fora do Brasil, em reforma de imóveis e em obras de arte.
Pascovitch disse que pagou no exterior US$ 380 mil dólares por obra de arte comprada no Brasil pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e uma escultura comprada em leilão de arte em São Paulo. Também repassou dinheiro para uma empresa de Duque, a D3TM, e pagou reformas de um apartamento dele em São Paulo.
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras e também delator da Lava Jato, recebeu US$ 860 mil em contas no exterior, além de pelo menos R$ 100 mil pagos em espécie no Brasil.
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