Nos últimos 30 anos, o IDH do Brasil cresceu mais do que a média. Veja tabela comparativa| Foto:

Nós brasileiros estamos tão satisfeitos com nossas vidas como os franceses e os alemães. É o que diz o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado nesta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). De 0 a 10, damos nota 6,8 – uma média boa, considerando que a mais alta foi de 7,8, na Dinamarca.

CARREGANDO :)

Na verdade a nossa nota é a mesma de 2010. O que mudou foi a percepção de muitos povos europeus. Eles é que ficaram menos satisfeitos com a vida. Ninguém pediu minha opinião nenhuma vez, mas até que concordo com a nota alta dada pelos brasileiros. Principal­­mente após ver alguns detalhes do relatório do Pnud.

O documento é tão rico de dados (literalmente, são 191 páginas) que é possível fazer dezenas de leituras diferentes. Teve gente que não gostou, como o ex-presidente Lula. Mesmo com problemas de saúde, ele reclamou do levantamento, que mostra que o Brasil ocupa a 84.ª posição no ranking do IDH entre 187 países. Na comparação com 2010, melhoramos "apenas" uma posição.

Publicidade

O petista reclama sem razão. Segundo o Pnud, dos 187 países, apenas 2 conseguiram avançar três posições em 2011: Turquia e Ucrânia. Quatro nações subiram duas casas: República Dominicana, Guiana, Camboja e Arábia Saudita. Outros 29 países, entre eles o Brasil, avançaram um posto. Trinta e um perderam posições.

Focando no médio prazo, até que não fizemos feio. Entre 1980 e 2011, o grupo de países com desenvolvimento humano elevado, do qual fazemos parte, teve um crescimento médio anual de 0,61% no índice. O desempenho do Brasil foi melhor: 0,69%.

Certo, a média da China e da Índia foi mais alta no mesmo período. Não há dados sobre a Rússia. O quarteto de países faz parte dos Brics, países de economias emergentes. A leitura fácil que muitos fazem é que ficamos para trás. Mas é preciso ver as entrelinhas.

Para começar, é bom refrescar a memória (senta que lá vem história): em 1980 o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar. A abertura já era uma realidade, mas coisas bizarras ainda aconteciam. Em 1981 militares explodiram duas bombas no Pavilhão Riocentro, tentando incriminar esquerdistas e reavivar a repressão. Felizmente não deu certo.

Aos sustos e soluços a democracia retornava. Quase tivemos Tancredo Neves. Assumimos o papel de "fiscais do Sarney", mas os malabarismos econômicos nos deixaram desesperados. Elegemos Fernando Collor de Mello, sonhando com a promessa de caça aos marajás. Mas a única coisa caçada foi a nossa poupança. Fomos às ruas, derrubamos Collor (ele voltou como senador, mas pelo menos foi derrotado recentemente na votação que pretendia manter em sigilo eterno documentos públicos).

Publicidade

Com Itamar Franco, o Brasil parecia uma ficção: inflação de 6.000% (seis mil, isso mesmo!) ao ano. A distração do povo era falar do topete e de outros deslizes do mineiro, mas é que só o tempo mostrou a grande realização do seu governo (pelas mãos do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso): o Plano Real. A partir daí as coisas começaram a se estabilizar e melhorar.

Difícil comparação

Cada país tem seu passado, que pode ter sido tão difícil ou mais fácil do que o do Brasil. É complicado comparar. O país é muito desigual, claro, mas esse é um grande desafio para um país em desenvolvimento e de grande extensão. Mas acho incrível o avanço pelo qual o país passou nas últimas décadas. Pelo relatório, o porcentual de população brasileira em pobreza grave atualmente é de 0,2% (pelos critérios do PNUD). Contra 28,6% da potência Índia e 4,5% da superpotência China.

Por essas e por outras não invejo o IDH de outros países emergentes. Eles nem parecem muito felizes. As notas que os russos (5,4), indianos (5) e chineses (4,7) deram para as próprias vidas são menores do que a dos brasileiros (6,8). Nós não moramos na França, nem na Alemanha, mas nunca antes tantos brasileiros tiveram condições de conhecer esses países. Vai dizer que isso não é muito bom?Com Itamar Franco, o Brasil parecia uma ficção: inflação de 6.000% (seis mil, isso mesmo!) ao ano. A distração do povo era falar do topete e de outros deslizes do mineiro, mas é que só o tempo mostrou a grande realização do seu governo (pelas mãos do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso): o Plano Real. A partir daí as coisas começaram a se estabilizar e melhorar.

Publicidade