O Palácio do Planalto e a cúpula do PT já começaram a traçar estratégias de reação a uma eventual gestão comandada pelo vice-presidente Michel Temer e decidiram que não farão qualquer tipo de transição de governo. A ordem no Planalto para todos os ministérios controlados pelo PT é deixar o peemedebista “à míngua”, sem informações sobre a administração, e acelerar os programas em andamento pela presidente Dilma Rousseff.
Em reunião a portas fechadas com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e com o presidente do PT, Rui Falcão, deputados foram informados ontem que a atual equipe não vai respaldar um governo “ilegítimo” e, por isso, não haverá transição para Temer. Até mesmo arquivos com dados estratégicos da administração estariam sendo apagados.
Com a certeza de que Dilma será afastada por até 180 dias no primeiro julgamento no plenário do Senado, que deve ocorrer em 11 de maio, o governo e o próprio PT já preparam os próximos passos do divórcio litigioso. A ideia é reforçar a estratégia de carimbar Temer como “golpista” e “vice 1%”, numa referência à sua falta de densidade eleitoral.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Dilma, com quem almoçou ontem, um “pente-fino” sobre todos os programas sociais dos 13 anos do PT no governo, desde o seu primeiro mandato. A intenção é bater na tecla do legado do partido, com vitrines como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, em contraposição ao programa “ortodoxo” de Temer, que, no diagnóstico dos petistas, prevê mais sacrifícios aos menos favorecidos.
Apesar de ser alvo da Operação Lava Jato e de ter perdido capital político, Lula ainda é o único nome forte de que o PT dispõe para a sucessão presidencial de 2018 e tudo será feito pelo partido para construir a narrativa de que Dilma foi “apeada do poder”.
Proximidade
“Se o PMDB não figurasse na chapa, em 2014, dificilmente a presidente Dilma venceria aquelas eleições”, rebateu o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, um dos dirigentes mais próximos de Temer nas fileiras do PMDB.
Padilha ajudou o vice-presidente na articulação política do governo com o Congresso, de abril a agosto do ano passado, mas saiu do posto por considerar que o PMDB era sabotado na equipe - na época, Temer também deixou a função, semanas após dizer que o Brasil precisava de “alguém tenha a capacidade de reunificar” o País. O ex-ministro foi um dos principais articuladores dos votos pró-impeachment na Câmara dos Deputados, ajudando a atrair antigos aliados de Dilma para o lado de Temer.
“Não se pode falar em golpe quanto tudo está sendo feito conforme a Constituição”, insistiu Padilha. “A luta política é legítima, desde que não queiram acirrar o clima do ‘quanto pior, melhor’.”
Embora a equipe de Temer também suspeite que petistas estejam deletando arquivos contendo as indicações políticas para os diversos cargos, isso não é considerado um problema. Motivo: antes de deixar o governo, o próprio Padilha entregou a Dilma e a Berzoini planilhas contendo todos os cargos do primeiro, segundo e terceiros escalões. As listas continham os padrinhos de cada um e como cada deputado e senador de partido aliado havia votado nos principais projetos de interesse do Planalto.
Na reunião com Berzoini, que contou com 45 dos 57 deputados da bancada petista, na sede do partido, houve muitas críticas ao Supremo Tribunal Federal, que ainda não se posicionou sobre o pedido da Procuradoria-Geral da República para afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Réu em ação no Supremo, acusado de desviar recursos no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha enfrenta processo de cassação do mandato no Conselho de Ética e foi o algoz de Dilma ao conduzir o impeachment na Câmara.
“Como a gente pode fazer transição para um governo desses, que tem Cunha como sócio de Temer?”, perguntou um deputado, confirmando a estratégia petista de “exportar” o desgaste do presidente da Câmara para o vice. “Transição é quando há um governo eleito, com legitimidade. Não é este o caso.”
Em conversas reservadas, Dilma deu sinais de que está disposta a enviar ao Congresso uma proposta de antecipação das eleições para encurtar o próprio mandato. O vazamento dessa estratégia, porém, contrariou Dilma. Os movimentos sociais são contra, sob o argumento de que isso enfraqueceria nas ruas a “batalha” contra o impeachment. Apesar de apoiar o plano, até para “emparedar” Temer, o PT decidiu não erguer agora a bandeira das “diretas já”.
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