Em um café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira (16), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a bater forte no governo Dilma Rousseff (PT). Ele disse que vê um governo perdendo a cada dia sua governabilidade e reclamou que a crise política de hoje “não termina”. “Se Brasil vivesse o Parlamentarismo, não teríamos a crise de hoje”, declarou o peemedebista, que é defensor do modelo.
Cunha atribuiu ao vice-presidente Michel Temer a aprovação do pacote de ajuste fiscal e a minoração da crise, mas voltou a defender a saída do peemedebista da articulação política do governo assim que as medidas estiverem consolidadas, que sua “missão” no ajuste fiscal for cumprida. “Temer não pode ficar cuidando de coisas menores”, pregou.
Câmara pretende ter opinião em 30 dias sobre impeachment pedido pelo MBL
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) admitiu que está consultando juristas – além de assessores da Casa– sobre o pedido de impeachment apresentado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e que pretende ter uma opinião sobre o assunto em 30 dias.
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Leia a matéria completaO presidente da Câmara enfatizou que essa é a primeira vez na história recente que um governo não tem maioria no Congresso. Ele acredita que após o recesso parlamentar, os deputados devem voltar “mais duros” em relação ao governo, já que a expectativa é que haja pressão das base eleitoral, que está insatisfeita com o aumento do desemprego. “A instabilidade não é boa para ninguém. Não desejo o insucesso de nenhum governo”, afirmou.
2º mandato
Cunha também criticou o governo por não ter capacidade de assumir uma agenda na área econômica e concluiu que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff sequer começou. “O governo não diz qual sua agenda para a economia. Precisa assumir sua ação. O governo neste segundo mandato não começou”, declarou.
Aos jornalistas, Cunha defendeu o projeto que trata da remuneração do FGTS e disse que a proposta não tem impacto sobre o gasto público. Ele ressaltou que não tem histórico de apoiar “causas que comprometam as contas públicas”.
Sobre a proposta de reformulação do PIS/Cofins, o peemedebista deu um recado ao governo: “se houver aumento de carga tributária não vai passar”.
Aliança quase rompida
Cunha disse nesta quinta-feira (16) que agora “todos estão falando a mesma língua” em seu partido em relação ao rompimento da aliança com o PT para as próximas eleições. Segundo Cunha, os peemedebistas estão “doidos para cair fora”. “Ninguém aguenta mais aliança com o PT”, resumiu.
Para o peemedebista, a realidade é que seu partido não está no governo porque não participa das discussões públicas. Em sua avaliação, só os ministros ocupam espaço na Esplanada dos Ministérios. No entanto, por “responsabilidade com a governabilidade”, ele pregou que a legenda continue no governo Dilma. “Seria uma irresponsabilidade sair do governo”, declarou. Ele, no entanto, não descartou um rompimento antes de 2018.
Em sua avaliação, o vice-presidente Michel Temer conseguiu melhorar “muito” a articulação política com o Congresso e talvez, sem ele, a pauta do ajuste fiscal não teria passado. “Sem o Michel, o caos estaria instalado”.
Cunha evitou falar em futura candidatura à Presidência da República e diz que não pensa no futuro. “Penso no presente”, desconversou. Ele afirmou que o tempo definirá quem representará a sigla na disputa de 2018. “Todo mundo que usou o cargo com ambição pessoal deu com os burros n’água”, afirmou.
Em pé de guerra com os petistas, Cunha ironizou a possibilidade de haver um panelaço durante seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV na noite dessa sexta-feira (17). “Estou fazendo prestação de contas, não estou esperando aplausos”, respondeu. Ele disse que “ficará muito feliz” se houver manifestação contrária porque isso significará que o PT estará liderando o movimento, o que dará mais destaque ao pronunciamento. “Será um PTzaço”, brincou.
Embora tenha criticado o “espetáculo” na Operação Lava Jato, principalmente no cumprimento de mandado de busca e apreensão contra políticos nesta terça, 15, Cunha - que é um dos investigados - evitou fazer comentários sobre o andamento das investigações. “Estou muito tranquilo. Não devo nada”.
Acuado, presidente da Câmara parte para o ataque
- Luis Lomba, especial para a Gazeta do Povo
No mesmo dia em que foi acusado pelo delator Júlio Camargo de receber US$ 5 milhões desviados da Petrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), previu o agravamento das dificuldades do Executivo na Casa e disse que a análise do Congresso Nacional das chamadas “pedaladas fiscais” do governo Dilma Rousseff será “política”, e não técnica, como defende o Palácio do Planalto. “Cunha vai tentar dificultar a vida da Dilma, mas ele e os deputados do baixo clero que tem sob seus braços são parte do problema da governabilidade”, analisa o cientista político Luiz Domingos Costa, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Costa aponta a busca do PMDB e de Cunha por mais poder como um dos ingredientes da crise de governabilidade. “Cunha defende o ativismo legislativo e está criando uma pauta paralela a do Executivo dentro do Legislativo, aprovando medidas contrárias aos interesses do governo federal, como a redução da maioridade penal”, diz. Mas o principal fator de crise política, segundo Costa, é “um movimento cíclico do presidencialismo de coalizão”, com a governabilidade dependendo muito da popularidade do presidente da República.
“Aconteceu com Collor, com FHC e agora com Dilma. Presidente com baixa popularidade se enfraquece também no Congresso e isso dificulta a solução de problemas políticos. O agravante para Dilma é que o Eduardo Cunha quer impor a agenda dele, não importa se colocar o Brasil 100 anos para trás, como fez na aprovação da redução da maioridade penal”, afirma Luiz Domingos Costa. Ele concorda com Cunha que o recesso na Câmara não vai aliviar as coisas para o governo Dilma. “Ameaçado por denúncias de corrupção, o presidente da Câmara pode engrossar o coro pelo impeachment, o que seria muito ruim para o País. Não se pode derrubar um governo em seu primeiro ano. Isso nos levaria de volta para as décadas de 50 e 60”, opina.