O doleiro Alberto Youssef, de camisa quadriculada, nos anos 90. Na época, ele foi preso por envolvimento na lavagem de dinheiro do caso Banestado| Foto: Arquivo/ Jornal de Londrina

Delações devem expandir investigações

A delação premiada de Alberto Youssef deve ser a terceira homologada pela Justiça dentro da Operação Lava Jato. A primeira foi de Luccas Pace Júnior, funcionário da doleira Nelma Kodama, apontada como outra operadora do esquema de lavagem de dinheiro por meio de empresas fantasmas. A segunda homologação, firmada nesta terça (31), foi do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O Ministério Público Federal (MPF) confirma que já foi procurado por outros investigados para fazer o acordo.

Para as investigações, porém, os depoimentos de Youssef e Costa são os mais importantes. Isso porque, apesar de o esquema ter pelo menos 40 investigados, os dois são apontados como os "cabeças" da operação. Com as informações das delações, é possível que os investigadores apurem a relação dos envolvidos com outros escândalos ou cheguem a novas ramificações do esquema.

O jornal O Estado de São Paulo apurou que pelo menos 10 investigados na Lava Jato foram citados em outros escândalos recentes da política brasileira – entre eles o mensalão, o Caso Banestado e a CPI dos Bingos. Youssef, por exemplo, foi um dos principais doleiros do caso Banestado e foi citado no mensalão – neste caso, não chegou a ser denunciado.

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O doleiro Alberto Youssef começará a ser ouvido nessa quinta-feira (2), provavelmente na sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele irá depor em delação premiada – acordo para revelar informações do escândalo da operação Lava Jato em troca de diminuição da pena. A expectativa do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF) é de que pelo menos R$ 30 milhões possam ser recuperados. Mas o principal objetivo da delação - considerado o mais importante pelos investigadores - é o detalhamento que Youssef poderá fazer do modus operandi do esquema investigado e a conexão com políticos e estatais.

INFOGRÁFICO: Entenda como funciona o esquema de corrupção envolvendo a Petrobras e que é investigado na operação Lava Jato

O doleiro já negociava a delação premiada desde a semana passada com o MPF e a PF. Ele é apontado como o principal operador do esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões.

Depois que o acordo de delação for homologado pela Justiça, Youssef deverá devolver cerca de R$ 30 milhões aos cofres públicos, oriundos principalmente de bens que o doleiro adquiriu irregularmente com dinheiro da corrupção.

Conforme o MPF, a recuperação de dinheiro do esquema da Lava Jato pode ser o maior da história da país. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, sozinho, terá que devolver US$ 28,5 milhões que haviam sido remetidos a paraísos fiscais nas Ilhas Cayman, Suíça, e Luxemburgo e Liechtenstein, além de pagar multa de R$ 5 milhões. Juntos, o que Youssef e Costa deverão devolver soma cerca de R$ 104 milhões.

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A título de comparação, o órgão do Ministério da Justiça destinado a desarticular lavagem de dinheiro internacional – o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) – conseguiu repatriar cerca de R$ 35 milhões em 10 anos de existência.

Ligação com políticos

Os depoimentos de Paulo Roberto Costa – que deixou a sede da PF em Curitiba e começou a cumprir prisão domiciliar nesta quarta – motivaram a investigação de pelo menos 40 pessoas ligadas ao esquema, incluindo políticos. A informação consta de decisão emitida nessa terça-feira (30) pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que confirma o foro privilegiado de pelo menos alguns dos investigados.

Segundo a revista Veja, Costa teria citado pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP), que teriam tirado proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras.

A expectativa é que os depoimentos de Youssef possam endossar as acusações de Costa ou ainda adicionar outros nomes de empresas e políticos envolvidos.

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Em 2003, o doleiro já havia firmado acordo de delação premiada no escândalo do Banestado. Por ter reincidido em atividades criminosas - e por isso quebrado o acordo -, Youssef foi condenado em setembro deste ano a cumprir quatro anos e quatro meses de prisão por corrupção ativa naquele caso.

Prisão domiciliar

O advogado de Youssef, Antônio Figueiredo Basto, disse que irá se reunir com a força-tarefa do MPF na manhã desta quinta. Ele confirmou que o acordo de delação premiada pode ser assinado neste encontro, mas ressaltou que isso dependerá do andamento das conversas.

Basto não entrou em detalhes sobre os termos do acordo, mas disse que "não está descartado" que o cliente poderá cumprir a pena em prisão domiciliar. "Estamos tentando evoluir [nos termos do acordo], mas isso está nas mãos no MPF", disse.

O MPF, porém, considera que "dificilmente" Youssef poderá cumprir a pena da ação da Lava Jato em prisão domiciliar, por ele ter quebrado o primeiro acordo de delação que firmou. O londrinense Youssef está preso em Curitiba desde março deste ano.

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