Os empresários Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, que comandavam duas das maiores empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras — a Odebrecht e a OAS, respectivamente —, estão fechando um acordo entre eles para, em seguida, começar a negociar colaboração premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) da Operação Lava Jato. A informação foi repassada à reportagem por uma pessoa ligada a um dos executivos.
Numa operação casada, Marcelo e Léo Pinheiro querem se colocar à disposição dos procuradores para delatar o que sabem sobre a corrupção na Petrobras e em outras áreas da administração pública. Em troca, pretendem receber os benefícios previstos em lei, assim como outros réus da Lava Jato. O acordo, segundo a fonte, não envolve combinação de versões entre os executivos. O plano é os dois fazerem opções simultâneas por uma mesma tentativa de resolver o problema. “O acordo de colaboração de um está casado com o do outro”, disse uma pessoa que acompanha de perto as tratativas entre as partes.
Um dos objetivos da decisão dos donos da Odebrecht e da OAS é salvar as duas empresas de prejuízos irreversíveis ou até mesmo da bancarrota, caso as investigações da Lava Jato se prolonguem por tempo indefinido. Uma ação conjunta a favor de acordos de delação evitaria, segundo a fonte, um futuro descompasso entre as duas gigantes da construção civil. Odebrecht e OAS acham que uma ação isolada de uma das empreiteiras poderia ser fatal para uma ou para ambas. Uma iniciativa simultânea reduziria riscos.
Relações com Lula
A delação dos dois empresários poderia ser explosiva. A Odebrecht e a OAS estão entre as maiores financiadoras de campanhas eleitorais no país. As duas empresas também teriam papel fundamental no esclarecimento sobre as questões levantadas na 24.ª etapa da Lava Jato: as relações entre os dois grupos e o ex-presidente Lula. As empreiteiras fizeram um consórcio informal para fazer reformas em sítio de Atibaia (SP) usado por Lula. O sítio está em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna. A força-tarefa investiga se o sítio pertence ao ex-presidente.
Os investigadores querem saber também por que a OAS fez reforma num apartamento triplex no Guarujá. O apartamento era destinado a Lula, mas ele anunciou o desinteresse em ficar com o imóvel depois que os gastos da OAS no empreendimento passaram a ser investigados. Odebrecht e OAS estão entre as cinco empreiteiras que mais repassaram dinheiro para o Instituto Lula e para a LILS Palestras e Eventos, a empresa responsável pelas palestras do ex-presidente.
Pressa
Segundo a fonte, representantes dos dois empresários participam da negociação, e os dois grupos têm pressa em chegar logo a um desfecho, por questões financeiras e penais. Pinheiro, que está em prisão domiciliar, já foi condenado a 16 anos de cadeia. Se a condenação for confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, Pinheiro voltará imediatamente à prisão em regime fechado.
A situação de Pinheiro se complicou especialmente depois de deliberação do Supremo Tribunal Federal, mês passado, sobre a execução penal. Para o tribunal, o cumprimento da pena começa a partir da ratificação de condenação em segunda instância e não do trânsito em julgado do processo, como ocorria anteriormente.
O caso de Marcelo Odebrecht é diferente, mas as perspectivas deles não são melhores. O executivo, que está preso em Curitiba desde 19 de junho do ano passado, sabe que tem poucas chances de sair da prisão diante do volume de acusações que surgem sobre o envolvimento da empresa dele com a corrupção na Petrobras.
Devido às investigações, a Odebrecht já perdeu contratos e tem feito corte de funcionários. Outros executivos da Odebrecht já estariam negociando acordo de delação com o respaldo prévio do dono da empresa, embora até agora se dissesse na Odebrecht que Marcelo não iria aderir à delação premiada.
Marcelo enfrenta um complicador a mais, que o pressiona a decidir o mais rapidamente possível. O juiz Sergio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, está prestes a lavrar a sentença no processo em que ele é acusado de envolvimento em organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. Procuradores da República têm interesse no acordo. Mas um deles disse à reportagem que são cada vez mais remotas as chances de uma negociação favorável aos empresários a esta altura das investigações. A Lava Jato já conta com mais de 40 delações, e novos acordos dependem de revelações realmente substanciais e não apenas de declarações tópicas sobre assuntos ainda não totalmente explorados.
“Eu não acredito nisso. Essa conversa (de acordo simultâneo) só poderia ser travada por outras pessoas em nome deles. Alguém falar em nome deles é complicado”, disse o advogado Roberto Telhada, defensor de Léo Pinheiro. O advogado Nabor Bulhões, encarregado da defesa de Marcelo Odebrecht, também negou tentativa de acordo entre os dois executivos: “Não ouvi isso do Marcelo Odebrecht. Estive com ele na última quinta-feira e o que eu ouvi foi para que eu continuasse na luta pela sua liberdade e pela sua inocência”.