O lobista Fernando ‘Baiano’ Soares, apontado como operador de propinas do PMDB, afirmou à Procuradoria-Geral da República, em delação premiada, que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu propina em forma de doação eleitoral para o partido. As declarações foram prestadas no dia 10 de setembro de 2015 e agora juntadas a pedido de novo inquérito contra Cunha, encaminha pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Deputado sugere a líderes afastamento de Cunha da Presidência da Câmara
Após virem à tona novas notícias das contas secretas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Suíça, o deputado Silvio Costa (PSC-PE) está sugerindo aos líderes dos 28 partidos com representação na Câmara dos Deputados que se unam pelo afastamento do peemedebista do cargo.
Vice-líder do governo na Câmara, ele fez questão de destacar que a iniciativa é de cunho pessoal, como parlamentar de oposição a Cunha. “Desde que ele era o todo poderoso da Câmara, queridinho de 80% da imprensa, sou contrário a ele. Não votei nele, porque sei quem ele é”, afirmou.
Nesta sexta-feira ele deu início a uma empreitada de telefonemas e pede que eles elaborem um documento conjunto, assinado pelos líderes e vice-líderes partidários, pedindo o afastamento de Cunha da Presidência “por motivos óbvios”. “Ele negou o tempo todo que não tinha conta. Agora aparece extrato. Acho que não dá mais nem para esperar o chamado tempo regimental. Agora é uma questão da Câmara, uma situação muito inusitada. O presidente da Câmara de uma das maiores democracias do mundo com conta na Suíça...”, completou Costa.
O deputado, que já havia conversado com alguns deputados até esta tarde, não quis revelar os nomes nem o posicionamento de cada um deles. Segundo Silvio Costa, todos têm sido unânimes em dizer que é importante esperar para ver o que Cunha vai dizer.
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A sugestão do peemedebista teria sido feita em 2012, ano das eleições municipais. Segundo o delator, o lobista Julio Camargo estava atrasando o pagamento de propina sobre contrato do navio-sonda Vitória 10000, da Petrobras.
PSOL diz que situação de Cunha chegou ao limite e pede seu afastamento imediato
Julio Camargo atuava como representante de multinacionais perante a Petrobras. Ele escancarou o capítulo relativo à propina do presidente da Câmara. “Julio Camargo começou a dizer que estava tendo dificuldade para disponibilizar dinheiro em espécie para pagar Eduardo Cunha; que, então, o depoente (Fernando Baiano) sugeriu que Julio Camargo fizesse uma doação oficial para Eduardo Cunha ou para o PMDB; que esta ideia em verdade partiu do próprio Eduardo Cunha”, afirmou Fernando Baiano.
Eduardo Cunha já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara defende enfaticamente o modelo de doação de empresas a campanhas políticas.
Ainda segundo o operador do PMDB - condenado a 16 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro do esquema Petrobras -, em 2012, ‘que era mais uma vez ano eleitoral, Eduardo Cunha passou a pressionar o depoente para cobrar Julio Camargo’.
A delação de Fernando Baiano, dividida em vários depoimentos à Procuradoria-Geral da República, confirma os relatos anteriormente dados por Julio Camargo. Segundo o operador do PMDB, as cobranças da propina atrasada ‘foram feitas em reuniões pessoais com Eduardo Cunha’.
Fernando Baiano citou o doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava Jato, que derrubou a rede de propinas no esquema Petrobras. Youssef teria providenciado o pagamento de parte da propina em espécie. “Nesta época, Julio Camargo já havia pago em tomo de R$ 4 milhões, que era o valor recebido de Youssef”, afirmou Baiano.
Em um trecho de um de seus depoimentos, Fernando Baiano afirma que o total da propina era de US$ 10 milhões e que ela seria paga de maneira parcelada.
Como Julio Camargo atrasou essas parcelas, Fernando Baiano disse que ‘passou a cobrar’ o lobista. “Que, então, o depoente passou a cobrar Julio Camargo, não apenas os valores devidos a si, mas também para valores de Eduardo Cunha; Que o depoente queria, no entanto, que Julio Camargo resolvesse prioritariamente os débitos com Eduardo Cunha, até porque era ano eleitoral e havia a pressão dele; Que Julio Camargo começou a dizer que estava tendo dificuldade para disponibilizar dinheiro em espécie para pagar Eduardo Cunha; Que, então, o depoente sugeriu que Julio Camargo fizesse uma doação oficial para Eduardo Cunha ou para o PMDB; que esta ideia em verdade partiu do próprio Eduardo Cunha.”
Eduardo Cunha negou reiteradamente o recebimento de propinas no esquema Petrobras. O PMDB tem reiterado que jamais autorizou qualquer pessoa a agir em nome do partido.
PSOL diz que situação de Cunha chegou ao limite e pede seu afastamento imediato
O PSOL divulgou nota na tarde desta sexta-feira, 16, em que diz que a situação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chegou ao limite e defende sua saída imediata do cargo. No texto, assinado pelo líder Chico Alencar (RJ), o partido diz considerar que “não há mais sequer o benefício da dúvida brandido por alguns” em favor do peemedebista.
O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem abertura de novo inquérito contra Cunha e a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu hoje novo bloqueio de duas contas bancárias mantidas na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara. Cunha é acusado de ocultar conta também nos Estados Unidos. “Aos que esperavam ‘provas cabais’, como a assinatura do parlamentar em operações bancárias no exterior, e outros documentos probatórios de seu envolvimento direto com transações ilícitas, ei-los: inquestionáveis, contundentes, definitivos!”, diz a nota.
Com o apoio de 34 deputados petistas, PSOL e Rede Sustentabilidade entraram nesta semana com uma representação por quebra de decoro parlamentar contra Cunha no Conselho de Ética.
Alencar informa na mensagem que vai pedir que os novos documentos sejam anexados à representação. “Não se trata de aditamento de novos elementos, mas de peça que reforça o que ali já está denunciado”, explica o líder.
Deputados do PSOL e da Rede foram os únicos a cobrar em plenário a saída de Cunha. Tanto partidos de oposição quanto de governo evitaram se pronunciar abertamente sobre um possível afastamento do peemedebista. Enquanto governistas querem evitar o início do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, os oposicionistas esperam que Cunha defira os requerimentos protocolados pedindo o afastamento da petista.
Líderes da oposição destacaram que emitiram nota no último final de semana pedindo a saída de Cunha, mas evitaram pressioná-lo publicamente.
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