Ele continua a ser apenas o Beto

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Se alguém chegar à prefeitura de Curitiba e perguntar para qualquer funcionário onde fica o gabinete do senhor Carlos Alberto Richa vai receber uma resposta padrão: "A sala do Beto fica no segundo andar". Quem não conhece o prefeito fica intrigado com a intimidade.

O filho do meio do ex-governador José Richa (falecido em 2003) cresceu, virou deputado estadual, vice-prefeito, secretário de obras municipal, prefeito de Curitiba, e continuou sendo o Beto.

Aquele que aos 7 anos, acompanhava o pai, então prefeito de Londrina, José Richa, nas inaugurações de fim de semana nos distritos. O mesmo que mais tarde dividiu a moradia entre Brasília e Londrina depois que Richa foi eleito deputado federal e senador. O Beto que virou filho de governador, em 1982.

Quem conviveu com ele em qualquer uma dessas diferentes fases tem a mesma definição: é uma pessoa simples.

Aos domingos, Beto costuma comer macarrão, polenta e frango no restaurante Madalosso, em Santa Felicidade, com os três filhos e a mulher, Fernanda. Durante a semana, aproveita brechas na agenda para uma parada no Bar Curytiba. Lá, qualquer garçom sabe o que ele vai pedir: um ambulante – sanduíche tradicional curitibano de pão, bife de mignon, queijo e cheiro verde. Para acompanhar, suco de laranja. "Antes de sentar, ele gosta de ir na cozinha cumprimentar o pessoal", diz o dono do bar, Fabrício Macedo.

Nas horas vagas, o cinema é outro destino certo. O lugar preferido para um passeio é o Parque Barigüi. Aos domingos costuma ir à missa, alternando entre a Igreja dos Passarinhos e a Santa Terezinha. "O Beto tem o estilo do pai, conciliador, responsável e principalmente humilde. O poder não lhe sobe à cabeça", afirma o padrinho de crisma, Euclides Scalco, que coordena a campanha de reeleição do tucano neste ano.

Apaixonado por esportes, Beto Richa acorda às 6h30 para fazer musculação e andar na esteira na academia. Depois de uma cirurgia no tornozelo em 2003, não pôde mais jogar futebol e tênis. Mas a maior frustração mesmo é a falta de tempo para se dedicar ao automobilismo.

Ele foi campeão paranaense de kart em 1984 e participou de vários campeonatos. Depois que entrou para a política, teve de se afastar das pistas, mas em dezembro vai participar da prova 500 milhas de Londrina, corrida que venceu em 2005 e que todos os anos é realizada em comemoração ao aniversário da cidade. "É só para brincar e rever os amigos. Não precisa estar bem treinado", explica Beto Richa.

O automobilismo lidera as práticas que o tucano quer voltar a incluir no seu cotidiano. "O dia que eu deixar a política, com certeza, volto a correr de carro, mas não para ser profissional porque passei da idade." Adepto de esportes de velocidade, Beto Richa comprou no ano passado uma moto Harley Davidson para dar umas "voltinhas" pela cidade, mas nesse período de campanha eleitoral, a moto está "empoeirada" na garagem do edifício onde mora, no bairro Ecoville.

Embora cercado de conforto e gostos pessoais caros, Beto Richa rechaça as críticas de alguns adversários políticos que associam sua imagem a de um "playboy" ou "mauricinho" que não leva as coisas muito a sério. "Isso é maldade", diz. "Ninguém ganha três vezes o prêmio de melhor prefeito do país sem dedicação e muito trabalho."

Na prefeitura, divide tarefas com a equipe e cobra bastante. "Como não é centralizador, ele faz questão de ter ao redor pessoas com qualificação técnica", comenta o diretor da Urbs, Fernando Ghignone, que também fez parte do governo de José Richa como secretário de Cultura e Esporte. "Ele é um observador muito atento e extremamente pão-duro em tudo, como o pai, não desperdiça nada."

A tranqüilidade é outro traço da personalidade. "Ele nunca chega nervoso, é uma pessoa muito calma, dificilmente está estressado", conta a secretária Lúcia Inácio, que acompanha Beto Richa há 15 anos.

No gabinete, é fácil perceber manias que nem o próprio se dá conta. Fica escrevendo o tempo todo em papéis enquanto conversa com algúem – improvisa quadradinhos e rabiscos. E fica tão à vontade que parece estar na própria casa. Tanto que costuma tirar os sapatos quando chega da rua e trabalha só de meias. Pode ser genético. O pai José Richa tinha o mesmo hábito e chegou a ser flagrado por um fotógrafo uma vez, quando era governador, despachando de meias no Palácio Iguaçu.

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