A crise
Veja quais as denúncias que recaem sobre a ex-ministra Erenice Guerra e seus parentes:
ACUSAÇÕES
Correios
- A Consultoria Capital, empresa dos filhos de Erenice, teria recebido propina de R$ 5 milhões para intermediar a assinatura de um contrato de R$ 84 milhões da MTA Linhas Aéreas com os Correios, para transportar cargas da estatal. A denúncia é da revista Veja.
- Erenice teria pleno conhecimento do tráfico de influência, ao ponto de dizer que o dinheiro da propina saldaria compromissos políticos. A ministra teria se encontrado quatro vezes com o empresário Fábio Baracat, ex-sócio da MTA. As reuniões teriam ocorrido quando Erenice era secretária-executiva da Casa Civil, durante a gestão de Dilma Rousseff, e depois de ela assumir o comando do ministério, em abril.
BNDES
- Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Saulo Guerra e Israel Guerra, filhos de Erenice, teriam cobrado propina para obter liberação de empréstimo no BNDES para a empresa ERDB do Brasil Ltda, do ramo de energia.
- De acordo com o empresário Rubnei Quícoli, consultor da EDRB, a empresa do filho de Erenice Guerra cobrou uma taxa de 5% sobre um financiamento de R$ 9 bilhões do BNDES caso o dinheiro fosse liberado para a empresa. Teria sido pedido ainda o valor de R$ 5 milhões para ajudar na campanha de Dilma Rousseff.
QUEM É QUEM
Erenice Guerra
- Erenice Alves Guerra tem 51 anos e nasceu em Brasília. Na administração federal, foi gerente da Eletronorte, consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia. Chegou a Casa Civil como secretária-executiva da então ministra Dilma Rousseff. Assumiu a pasta quando a petista deixou o governo para concorrer à Presidência, em abril.
Israel Guerra
- Filho da ministra, usou a Capital, empresa do irmão Saulo para supostamente intermediar negócios de empresas privadas no governo federal.
Rubnei Quícoli
- Empresário paulista, procurador da EDRB. Tinha autorização para buscar investidores e viabilizar negócios em nome da empresa.
Vinícius Castrou Assessor jurídico da Casa Civil, viabilizou o encontro entre Quícoli e Erenice.Marco Antônio Oliveirau Tio de Vinícius e ex-diretor dos Correios. Quícoli foi apresentado a Vinícius por Oliveira.
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A série de denúncias que atingem a Casa Civil concentra cinco problemas-chave da administração pública brasileira nepotismo, confusão entre público e privado, tráfico de influência, financiamento ilegal de campanha e contratação de funcionários fantasmas. A mistura reflete pecados já disseminados e que a cada escândalo parecem mais sem solução. "É mais uma prova de que ainda estamos longe de um nível de maturidade em que a distribuição de cargos é definida a partir de virtudes como equilíbrio, temperança, bom-senso e prudência", avalia o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília.
Entre fatos e versões, as acusações que começaram a ser divulgadas há oito dias evidenciam interesses particulares de filhos no cargo ocupado pela mãe, a ex-ministra Erenice Guerra. Cópias de contratos apresentados às empresas MTA (de transporte aéreo) e EDRB (de geração de energia) supostamente comprovam que a Capital Consultoria, que está no nome de Saulo e Israel Guerra, teria cobrado para intermediar negócios que dependiam do aval da pasta. O consultor da EDRB, Rubnei Quícoli, também declarou que uma das hipóteses de pagamento pelos serviços era a doação de R$ 5 milhões para a campanha de Dilma Rousseff, mas não apresentou provas para comprovar a denúncia.
"É necessário tomar muito cuidado ao falar desse escândalo porque ele é muito recente e obviamente tem efeitos eleitorais. Mas o que parece indiscutível até agora é essa relação inadequada entre parentes", afirma a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (SP). Há cinco anos na cúpula do ministério mais influente da República, Erenice teve três irmãos e um filho, Israel, em cargos comissionados do governo federal todos foram demitidos em 2008 devido à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu o nepotismo no serviço público.
Israel e o tio, José Euricélio Alves de Carvalho, conseguiram recolocações no governo do Distrito Federal. Ambos foram demitidos na quinta-feira e Israel será alvo de um processo administrativo. Os dois também são citados em um relatório da Controladoria-Geral da União que investiga desvios de R$ 5,8 milhões em contratos fantasmas da editora da Universidade de Brasília.
José Euricélio era membro da direção da editora e havia contratado o sobrinho como assessor. Os dois teriam recebido R$ 134 mil em pagamentos irregulares entre os anos de 2005 e 2008, quando Erenice era secretária-executiva da Casa Civil. Segundo as investigações, os dois estão entre 529 pessoas receberam dinheiro da editora sem ter comprovado a execução do serviço para o qual foram contratados.
Desde sexta-feira, a Polícia Federal planeja realizar um pente-fino nos contratos entre o governo federal e as empresas que usaram a Capital como intermediadora. Se todos os indícios forem comprovados, a ex-ministra e os filhos podem ter cometido crimes de corrupção passiva, improbidade administrativa, tráfico de influência, concussão (exigir para si ou para outro dinheiro ou vantagem em razão da função) e prevaricação (crime praticado por funcionário público contra a administração pública).
Na carta em que justificou o pedido de demissão, Erenice ressaltou que já abriu seus sigilos telefônico, bancário e fiscal para todas as apurações necessárias. Também disse ser vítima de uma campanha de desconstituição de sua imagem e da sua família. "Não apresentam uma única prova sobre minha participação em qualquer dos pretensos atos levianamente questionados", declarou no texto.
Para o cientista político Octaciano Nogueira, a conjunção de todas as denúncias demonstra a inabilidade do PT em aprender com os próprios erros. "A Casa Civil tem sido o eixo do poder neste governo e concentra escândalos desde o ex-ministro José Dirceu. Às vezes parece que eles se acham blindados, que podem fazer qualquer coisa que ninguém vai perceber."
O cientista político e estudioso do nepotismo Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, afirma que os fatos refletem o comportamento geral da estrutura de poder brasileira. "Por trás da maioria das principais lideranças, há múltiplas redes de nepotismo, de interesses particulares."
Segundo ele, o problema se deve à tolerância do eleitorado. "Aqui há o nepotismo de resultados. Se a população entende que o governante fez algo positivo para ela, acaba relevando outros desvios. Privilegiar parentes, infelizmente, é considerado um pecado secundário."
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