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| Foto: Roosewelt Pinheiro / Agência Brasil

Ex-ministra sempre esteve ao lado de Dilma

Erenice Guerra, 51 anos, sempre teve Dilma Rousseff como "ma­­drinha" no governo Lula. As duas co­­­meçaram a trabalhar juntas em 2002, durante a transição da administração de FHC para a de Lula. A parceria prosseguiu no ano seguinte, quando Dilma assumiu o Ministério de Minas e Energia.

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  • Entenda o caso que levou ao pedido de demissão de Erenice
  • Confira que em menos de uma semana, duas denúncias levaram a demissão da ministra

Brasília - Depois de uma nova denúncia de tráfico de influência na Casa Civil, a ministra Erenice Guerra não teve outra opção: pediu ontem demissão para não contaminar a campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República e, assim, não ameaçar o projeto petista de ficar mais quatro anos à frente do governo federal. Apesar disso, as acusações contra os filhos de Ere­­nice, publicadas na edição desta quinta-feira do jornal Folha de S.Paulo, pela primeira vez atingiram diretamente Dilma. Empre­­­sários afirmaram ao jornal que o esquema na Casa Civil envolvia o pagamento de propina para financiar a campanha eleitoral da petista.

Segundo a reportagem da Fo­­­lha, Israel Guerra, um dos filhos de Erenice, cobrou dinheiro da em­­­presa de energia EDBR do Brasil Ltda. para obter a liberação de um empréstimo de R$ 9 bilhões no Banco Nacional de Desenvolvi­­­men­­­to Econômico e Social (BNDES), administrado pelo governo federal.

Em entrevista ao jornal, o empresário Rubnei Quícoli, consultor da EDBR, disse que o filho da ministra cobrou R$ 240 mil mais R$ 450 milhões (5% sobre o valor do empréstimo) para que o dinheiro fosse liberado rapidamente. O pedido de propina, segundo ele, foi recusado. Um dos sócios da EDBR, Aldo Wagner, confirmou que a empresa recebeu a proposta de propina.

Ainda segundo a reportagem, foi pedido à EDBR que a empresa repassasse R$ 5 milhões para a cam­­­panha de Dilma. O caso todo ocorreu, de acordo com a Folha, entre o ano passado e março deste ano, quando Dilma ainda era ministra da Casa Civil e Erenice, secretária-executiva da pasta.

Ontem, Quícoli reafirmou a denúncia e disse que tem como provar as denúncias da negociação para liberar o empréstimo do BNDES, mas não a acusação da cobrança de contribuição para a campanha de Dilma.

Ele também acusou Erenice de participar de reuniões em que o "negócio" do BNDES estava sendo discutido. De acordo com ele, a ex-ministra participou de uma reunião na Casa Civil com os representantes da EDBR em novembro do ano passado. A reunião, segundo ele, foi agendada por Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil e cuja mãe é sócia da Capital As­­­­sessoria – a empresa de consultoria usada por Israel Guerra para fa­­­zer lobby no governo federal. Castro pediu demissão no início da semana.

Quícoli ainda contou que o pedido de dinheiro para a campanha de Dilma foi feito por Marco Antonio de Oliveira, ex-diretor de Operações dos Correios – estatal que também está envolvida nas denúncias de tráfico de influência feita pelo filho de Erenice (veja quadro). A proposta, de acordo com ele, ocorreu em março deste ano, pouco antes de Dilma deixar o governo e quando, pela legislação eleitoral, não poderia começar a arrecadar recursos para tentar se eleger.

"O Marco Antônio falou [que o dinheiro] era para tampar um buraco da campanha da Dilma, da Erenice e também que uma parte era para ajudar o Hélio Costa [PMDB], candidato a governador de Minas Gerais", disse Quícoli. "Ele falou isso logo depois que [o empréstimo] foi bloqueado no BNDES. Ele me comentou que o Israel, que eu fiquei sabendo que era o filho da Erenice, disse o seguinte: ‘Se eu não pagasse, eles iriam bloquear’, como o que houve. Aí, eu recebi a notificação do BNDES , dizendo que o projeto não foi aprovado."

Vítima eleitoral

A força das novas denúncias tornou inviável a permanência de Erenice no governo. Em entrevista ao portal IG, pouco antes da conversa definitiva com Erenice, Lula foi taxativo: "Quando a gente está na máquina pública, não tem o direito de errar. E, se errar, a gente tem de pagar".

Ao presidente, a agora ex-ministra da Casa Civil afirmou que não suportava mais a pressão. "Minha vida virou um inferno", teria desabafado. "Vou me defender fora do governo." Erenice acertou sua exoneração do governo em uma reunião de apenas dez minutos com o presidente Lula.

Ela, então, redigiu uma carta de demissão – devidamente revisada pelo ministro da Comu­­­nicação Social, Franklin Martins – e a divulgou à tarde. Na carta, se diz vítima de "sórdida campanha de desconstituição" da sua imagem e da sua família, e de "pai­­­xões eleitorais" que levaram a "um vale-tudo".

O presidente Lula decidiu pela saída de Erenice ao avaliar que ela perdeu o "controle" da situação e devido a pesquisas internas do PT apontando que o caso envolvendo seus familiares tinha um alto potencial de dano para a campanha de Dilma – muito maior do que o vazamento de dados fiscais na Receita Federal. Erenice era muito ligada a Dilma e a substituiu quando a petista deixou o governo para se candidatar à Presidência.

Apesar de ter se dobrado à ne­­­­cessidade de demitir Erenice, Lula, à noite, em discurso em Belém (PA), reclamou do "jogo rasteiro da oposição", sem se referir diretamente às denúncias que envolvem sua ex-ministra. "Pre­­­cisamos dizer para essa elite política rabugenta, que não aceita a gente governando o país, que nós não vamos fazer o jogo baixo que eles fazem", disse.

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