Rádio: Campanha mais agressiva
No rádio, o último dia de campanha dos tucanos foi mais agressivo que o da tevê. Os dois também reforçaram o tom mais popular, típico da propaganda eleitoral de rádio.
Além de citar a orientação do Papa Bento XVI aos bispos brasileiros, o programa do candidato tucano José Serra voltou a acusar Dilma Rousseff (PT) de ter entregue uma parte do pré-sal para empresas estrangeiras. Um novo jingle diz que "o petróleo do pré-sal nem jorrou e a Dilma já entregou o pré-sal pro estrangeiro".
Já a propaganda da candidata petista de rádio manteve o mesmo discurso que apresentou na tevê. A associação entre Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi explorada. Um novo jingle compara a biografia dos dois, com o intuito de mostrar que, embora tenham trajetórias de vida diferentes, a intenção de Dilma e Lula seria a mesma.
De acordo com o especialista em marketing político Carlos Manhaneli, Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, a linguagem de rádio precisa ser didática porque não existe a imagem para ajudar a passar a mensagem. "A linguagem em cada um dos veículos é diferente. No rádio, você tem de explicar para formar uma imagem."
Músicas e "sonhos" embalam a propaganda
A campanha dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) apelaram para discursos carregados de termos emotivos, músicas e depoimentos de aliados ou de eleitores para reforçar o último dia do programa eleitoral no rádio e na tevê. Os dois programas também abusaram de imagens de crianças e mulheres grávidas.
Opinião: A campanha e as virtudes
Interessante. O segundo turno da eleição presidencial brasileira de 2010 tinha tudo para ser mais vibrante do que o primeiro. A simples redução de toda aquela "muvuca" falamos das centenas de sorridentes candidatos e seu rosário diário de nomes, números, ideias e bobagens , somada à percepção de que a biografia dos pleiteantes que chegaram ao dia 31 de outubro possui um mínimo de substância, forneciam a esperança de uma campanha legal.
A emoção dominou o último dia do programa eleitoral dos candidatos à Presidência no rádio e na tevê. Fé e religiosidade que foram explorados no primeiro programa eleitoral de segundo turno dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e dominaram boa parte da campanha voltaram ontem a pontuar a fala dos dois candidatos.
Embora não tenham explorado a religião com tanta força como na propaganda que abriu o segundo turno, no último dia 8, os programas de ontem dos dois concorrentes foram permeados pela palavra "fé". Os dois candidatos também destacaram as políticas públicas que pretendem adotar para defender a família, as crianças e a saúde da gestante uma alusão à polêmica sobre a descriminalização do aborto.
Na propaganda de rádio do tucano, foi lembrada a orientação dada ao Papa Bento XVI a bispos brasileiros que o encontraram na última quinta-feira em Roma. No encontro, o Papa afirmou que os religiosos devem orientar politicamente os fiéis quando estiverem em jogo temas como o aborto e a eutanásia (a abreviação da vida de doentes terminais).
Já na propaganda de Dilma, não foi feita qualquer alusão às declarações do Papa. No entanto, também houve referência a temas religiosos. "Deus foi mais que generoso comigo e me deu a oportunidade de trabalhar para mudar a vida de uma família imensa chamada Brasil", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um dos momentos em que aparece no vídeo. Em outro trecho, o locutor afirma: "Ele [Lula] vai deixar a Presidência com a certeza de que, se Deus permitir, e o povo brasileiro quiser, sua obra vai continuar".
Na avaliação da cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o tema religiosidade nunca saiu do debate do segundo turno. "Os dois candidatos estão preocupados em relação a este fator porque é uma forma de perda de votos", diz ela. "E isso preocupa especialmente o PT porque a candidata deles esteve no foco da polêmica sobre a descriminalização do aborto." A cientista política observa que os dois concorrentes tentaram mostrar, na propaganda eleitoral, que são contrários à prática e defensores da vida. Para isso, apresentaram propostas para a saúde da grávida.
Cabo eleitoral x biografia
No último dia de propaganda, Dilma e Serra também reforçaram a estratégica adotada ao logo da campanha. Enquanto no programa da candidata petista a presença de Lula foi marcante, a propaganda de Serra apostou na comparação das biografias dos dois. Na avaliação do professor da área de ética e política Bianco Zalmora, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), os dois programas foram típicos de final de campanha, "muito bem alinhavados na estratégia do marketing eleitoral".
O programa petista focou na imagem de Lula, reforçando a construção da ideia de que ele é o homem que veio do povo e que Dilma será a sua continuidade. Em um dos momentos em que Lula aparece pedindo votos para a concorrente, ele chega a dizer que votar na candidata é votar nele também. "Pela primeira vez, depois de cinco eleições, o meu retratinho não vai estar mais lá na urna. Mas, na hora que você apertar o 13 e aparecer o retratinho da Dilma, você vai estar votando na candidata mais preparada para ser presidente e também estará votando um pouquinho em mim", afirmou Lula.
Do lado tucano, foi exatamente esse apadrinhamento de Lula à candidatura de Dilma que recebeu críticas. Logo no início do programa da tarde, um ator faz uma metáfora futebolística para reforçar a necessidade de ter um candidato com biografia extensa.
Serra também apareceu para destacar sua trajetória de vida política. "Tenha certeza, durante toda a minha vida, eu nunca consegui nada de mão beijada (...). Eu não teria sido eleito e reeleito tantas vezes pelo povo se eu não tivesse trabalhado direito", disse o tucano. De acordo com Zalmora, com isso Serra tenta mostrar que sua candidatura é natural, enquanto a presença de Dilma na eleição tem um caráter artificial.