O uso de cenas do presidenciável José Serra (PSDB) junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa gratuito de TV do tucano na noite de quinta-feira (19) ganhou apoios, mas também gerou irritação na oposição. Enquanto isso, o PT, da candidata Dilma Rousseff, preferiu a ironia e tentar o caminho da Justiça Eleitoral.
"Do jeito que a coisa anda, o próximo programa do Serra vai mostrá-lo como o coordenador do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", ironizou José Eduardo Dutra, presidente do PT.
Fontes do PSDB afirmam que essa tentativa de associação veio para ficar na campanha. Ou seja, virou estratégia colar Serra em Lula na tentativa de contrapor a participação intensiva do presidente na campanha para eleger Dilma.
A exploração da popularidade do presidente por um nome da oposição reforça a tese de que é personagem central de sua própria sucessão.
Na peça publicitária apresentada na noite passada, ele e o tucano apareciam juntos em diferentes ocasiões, numa clara intenção de sugerir proximidade. Um locutor dizia: "Serra e Lula, dois homens de história, dois líderes experientes."
"Num primeiro momento, pode causar certa espécie, mas, na verdade, Serra é quem melhor pode continuar (o que Lula fez). O Lula deixou o país em uma determinada situação e não há ninguém melhor do que ele para avançar", disse à Reuters o senador Sérgio Guerra (PE), coordenador geral da campanha e presidente do PSDB.
A decisão de exibir o presidente logo na abertura do programa eleitoral partiu de pesquisas qualitativas e da ideia de que o tucano não poderia se apresentar como o candidato anti-Lula.
"O Lula não está concorrendo nesta eleição e Serra sempre teve com ele uma boa relação. Acho que o Serra agiu certo", defendeu o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). "Ficaria ruim se eu colocasse o presidente no meu programa, mas o Serra nunca hostilizou Lula. Não vejo problema."
O PT entrará nesta sexta-feira com uma ação contra a campanha tucana por "associação dissimulada" com o presidente. O caso é novidade para eleições presidenciais e deve provocar o Tribunal Superior Eleitoral a discutir muito o assunto.
Perda de identidade
Mas o risco para essa estratégia, dizem integrantes da oposição que discordaram da veiculação, é fortalecer ainda mais o presidente e, portanto, sua candidata.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, desaprovou a tática. Mais: previu um risco de identidade da oposição e discordou do fato de Lula entrar em evidência e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ser escondido.
"Isso é perda de identidade. Podemos perder a eleição --isso é decorrência da luta--, mas não podemos perder a identidade. Agora, se não tiver oposição, Lula vai ungir quem ele quiser", afirmou o aliado, que já havia feito críticas à campanha na véspera.
"Não tem oposição mais. Todos são filhos do Lula. E o Lula quer fazer do patriarcado dele um matriarcado para que todos passem a ser filhos de Dilma Rousseff", completou.
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