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A capital de Pernambuco parou por volta de 11h desta quarta-feira (13). Quando as primeiras notícias sobre um acidente com o jatinho em que viajava o ex-governador Eduardo Campos (PSB) se espalharam, a reação dos moradores foi de apreensão e incredulidade.

● Leia a cobertura completa da morte de Eduardo Campos

O vendedor Davison Galvão, que trabalha em uma loja de eletrodomésticos no Santo Antonio, região central do Recife, disse que soube do acidente pelos televisores expostos na loja.

"A nossa esperança era que ele não estaria no avião. Muitas pessoas ficaram em frente às TVs e isso diminuiu o movimento da loja. Depois da notícia foi pior ainda", afirmou."Foi um impacto grande, uma surpresa. A gente não estava acreditando."

A administradora Maria do Carmo Barbosa conta que assistia à missa na igreja Nossa Senhora do Paz, no bairro de Afogados, quando o padre recebeu um bilhete sobre a morte de Campos.

Segundo ela, o sacerdote interrompeu a missa após receber a notícia. "Ele estava de pé e um ajudante dele interrompeu entregando um bilhete. Nesse momento o padre passou mal e sentaram ele", contou.A notícia foi transmitida aos fiéis pelo ajudante do padre. "Teve gente que começou a chorar, foi um clima de comoção total", afirmou.

O taxista Henrique Silva estava com um passageiro quando recebeu uma ligação da mulher contando que Eduardo Campos tinha morrido. "É uma notícia triste, mas a verdade é que para os taxistas ele não trouxe nada de bom."

Em Boa Viagem, na zona sul do Recife, o bancário Frederico Vieira disse que a notícia foi "um impacto grande". "Eduardo Campos era uma liderança grande no Estado e a gente estava vendo o tempo todo ele na TV e nos jornais, o que aumenta o impacto da perda. É uma pena porque estamos carentes de liderança no Estado", disse.

O colega dele, o também bancário Ricardo Melo, disse estar "decepcionado com o destino". "Eduardo era a minha esperança de mudança na política e hoje não temos uma alternativa. É triste, ele morreu no auge", lamentou.

"Ele ia mudar o destino da nação", afirmou o administrador Frederico Pessoa de Queiroz, para quem Campos tinha "ideias boas" para o setor sucroalcooleiro e "era coerente com esse produto sustentável". "Ele seria uma alternativa à política atual", completou.

Imprensa internacional

A notícia da morte de Campos também teve destaque na imprensa internacional.Para o "Financial Times", a tragédia em Santos (SP) pode "mudar radicalmente" o cenário da disputa eleitoral no Brasil. "Alguns analistas esperavam que ele formasse uma aliança com Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno", diz o jornal.O site do jornal americano "New York Times" traz um vídeo com imagens do acidente.Na homepage do portal da rede americana CNN, uma foto de Campos acompanha a chamada "Candidato brasileiro possivelmente morto em acidente de avião".

O britânico "The Guardian" destacou a trajetória do ex-governador de Pernambuco e o apoio que tinha de setores da indústria e do mercado financeiro. O jornal já cogita a hipótese de Marina Silva, vice na chapa, assumir a vaga de candidata a presidente. "Ela conta com forte apoio dos eleitores jovens e dos evangélicos", diz.

A rede britânica BBC lembra que a família de Campos, neto do também ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005), lutou ativamente contra a ditadura militar (1964-85), e relata o comunicado do vice-presidente, Michel Temer, lamentando a morte do candidato.

"Morre em acidente o candidato socialista à presidência do Brasil", diz matéria publicada no portal do jornal espanhol "El País", em referência ao partido de Campos.O jornal francês "Le Monde" lembra que Campos era pai de cinco filhos.

A revista americana "Slate" lembra que Campos era o terceiro colocado nas pesquisas eleitorais para a disputa da Presidência.

Luto

O Congresso Nacional decretou luto oficial de três dias em razão da morte de Eduardo Campos. Em nota, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a tragédia deixa o Brasil "chocado e surpreso" diante da morte precoce de Campos.

"Eduardo Campos foi um homem respeitável em todos os aspectos de sua personalidade, um pai exemplar e uma referência como homem público nos cargos que exerceu. Em nome do Congresso Nacional e em meu próprio envio condolências à família, ao PSB e ao governo do Estado de Pernambuco", afirmou Renan.O senador também disse que vai realizar uma sessão solene em homenagem a Campos para conceder ao ex-governador a Ordem do Mérito do Congresso Nacional, em data ainda a ser definida.

Da tribuna do Senado, congressistas fizeram sucessivas homenagens a Campos em discursos. Líder do PSB, o senador Rodrigo Rollemberg (DF) chegou às lágrimas ao lembrar de sua amizade com o ex-governador de Pernambuco -de quem era muito próximo."É com muito pesar que subo à tribuna do Senado para registrar essa tragédia, esse golpe que o destino pregou em todos nós. Essa morte hoje prematura do ex-deputado, ex-ministro, ex-governador Eduardo Campos é uma tragédia para o destino do país. Tive no Eduardo Campos um irmão, amigo, companheiro, um líder insubstituível", disse Rollemberg.

O líder afirmou que "no momento oportuno" o PSB vai definir se manterá candidatura à Presidência da República e se a ex-senadora Marina Silva (PSB-AC), candidata a vice na chapa de Campos, poderá assumir a disputa. "Agora estamos todos muito abalados, o partido está consternado, sofrendo a dor dessa perda."

Emocionado, o senador Humberto Costa (PE), líder do PT, disse que Campos havia optado por deixar a aliança com o Partido dos Trabalhadores nesta campanha, mas que seu histórico foi de unidade com a sigla."Estamos chocados, consternados, tristes. Tivemos uma longa trajetória conjunta. Eu pessoalmente tive oportunidade de ser deputado estadual com Eduardo Campos entre 1991 e 1995, pude naquela ocasião não somente desfrutar da sua relação pessoal, seu bom humor, mas acima de tudo dividir na bancada de oposição um trabalho de construção, de proposições, de ideias", disse o petista.

Ex-presidente do PMDB, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) leu uma nota assinada pela direção nacional do partido em homenagem a Campos. Na nota, os peemedebistas afirmam que a política brasileira fica "menor" com a morte do ex-governador "em um momento tão produtivo da sua vida". "Sua trajetória foi exemplar e era verdadeira inspiração para os jovens brasileiros. O PMDB lamenta essa perda."

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que teria um encontro político com Campos nesta quinta-feira (14) em Brasília, se disse "perplexo" com o acidente, uma vez que Campos era o "portador da esperança de um futuro melhor para o Brasil".

"Hoje, para perplexidade de todos, estamos aqui para homenageá-lo, não mais para esperá-lo, não mais para tratar dele como futuro do Brasil, mas como passado. Deixa a gente perplexo, sem saber o que fazer. Me sinto hoje em processo de desequilíbrio político", disse Cristovam.

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