Se implantada, a proposta do candidato Ney Leprevost (PSD) de distribuir 2 kg de leite em pó para cada criança matriculada nos CMEIs de Curitiba pode custar mais de R$ 18,4 milhões por ano aos cofres da Prefeitura.
A proposta, exibida no site de campanha de Leprevost, fala na implantação do programa Leve Leite “para ajudar na formação nutricional das crianças”.
Segundo a Prefeitura de Curitiba, 32 mil crianças estão matriculadas nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) em toda a cidade. No total, são 42 mil crianças matriculadas na educação infantil, levando em conta os convênios do município com instituições particulares. Se Leprevost levar em conta o número total de crianças matriculadas, o gasto anual com a distribuição subiria para R$ 24,1 milhões.
A despesa com o programa seria maior do que o valor gasto em 2015 em obras e instalações em espaços sob o guarda-chuva da Secretaria de Educação. Naquele ano foram investidos R$ 16,9 milhões em obras. O orçamento para 2016 na área de educação em Curitiba foi definido em R$ 1,2 bilhão. O orçamento total da Prefeitura nesse ano foi de R$ 8,3 bilhões.
Problemas nutricionais
A proposta de Leprevost esbarra em pelo menos três problemas nutricionais, além do gasto. O primeiro é a quantidade ofertada, que de acordo com a coordenadora do curso de nutrição da PUC-PR, Flávia Auler, é insuficiente.
Segundo a nutricionista, as crianças da educação infantil (até 5 anos) precisam de 700 ml de leite por dia, o que equivale a 21 litros por mês. Considerando o consumo de leite em pó, que é o que propõe Leprevost, seriam necessários 3,1 kg do produto por mês, já que cada 15 gramas do produto equivalem a 100 ml de leite líquido.
Se Leprevost seguir a recomendação da nutricionista, o gasto anual sobe para R$ 27,6 milhões com as crianças matriculadas nos CMEIs e para R$ 36,2 milhões se consideradas todas as crianças matriculadas na educação infantil.
Outro problema é que nem todas as crianças podem consumir leite. “Existe um grupo de crianças que têm necessidades alimentares especiais”, explica Auler.
Nesse grupo, de acordo com a nutricionista, estão as crianças diabéticas, intolerantes e com alergias à proteína do leite, por exemplo. “Tenho três doenças cujo o tratamento é justamente a restrição ao leite de vaca”, lembra.
Além disso, a coordenadora lembra que algumas crianças são veganas e não podem consumir o alimento. “Teria que ter também uma proposta de outros tipos de leite para essas crianças”, diz Auler.
Segundo a nutricionista, todas as crianças devem ter acesso a uma alimentação adequada e restringir o acesso das crianças com necessidades alimentares especiais não seria benéfico para a cidade. “Se for ofertar para parte das crianças, todas têm que ser assistidas”, diz.
Uma opção, segundo a nutricionista, seria distribuir o extrato solúvel de soja, conhecido como leite de soja, para as crianças com restrições. O produto, porém, é mais caro que o leite normal.
O programa tem ainda mais um obstáculo que precisa ser considerado. Nos CMEIs estão matriculadas crianças a partir de 4 meses de idade, mas o consumo de leite de vaca só é recomendado para crianças a partir de um ano. “Essa distribuição de leite pode desestimular o aleitamento materno”, explica Auler.
O consumo do produto por crianças menores de um ano pode causar problemas, segundo a nutricionista. “O que pode acontecer é que se a criança não nasceu com intolerância ou alergia e consumir esse produto antes de um ano, e tiver casos na família, ela pode desenvolver esses problemas”, explica Auler.
Custo do leite
A reportagem da Gazeta do Povo fez uma pesquisa de preços dos leites em pó instantâneos disponíveis no mercado. O produto mais barato custa R$ 19,25 em um pacote com 800g. Sendo assim, o quilo custa R$ 24. Se cada criança receber dois quilos por mês, o custo será de R$ 48 mensais e R$ 576 por ano para cada criança matriculada.
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