Xênia Mello, candidata do PSol à prefeitura de Curitiba| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O Partido Socialismo e Liberdade (PSol), criado em 2004 e destino de muitos quadros da esquerda insatisfeitos com o PT, novamente não elegeu sequer um vereador no Paraná. Apesar disso, os votos no partido cresceram em termos quantitativos para as prefeituras do estado: saltaram de 26.360 em 2012 para 41.294 em 2016. Em Curitiba, o PSol também cresceu na disputa de vereadores - em 2012, o partido atingiu 42% do quociente eleitoral e, em 2016, chegou a 93%.

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A sigla lançou candidatos a prefeito em Curitiba, Jacarezinho, Ponta Grossa, Almirante Tamandaré, Paranaguá, Campo Mourão, Marechal Cândido Rondon, Piraquara, Paranavaí, Apucarana, Toledo, Londrina, Cascavel e Maringá, e cerca de 180 candidatos a vereador, nessas mesmas cidades e também em Guarapuava, Cantagalo e Bandeirantes.

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No contexto nacional, o PSol também cresceu, ainda que os números ainda sejam discretos. O partido disputa o segundo turno em duas capitais (Rio de Janeiro e Belém) e em Sorocaba, no interior de São Paulo. No primeiro turno, a sigla conquistou duas prefeituras, mesmo número de 2012: em Jaçanã e Janduís, no Rio Grande do Norte.

Além disso, saltou de 49 vereadores eleitos em 2012 para 53 em 2016, com destaque para o Rio de Janeiro, capital, onde seis vereadores vão compor a Câmara Municipal. O estado do Rio de Janeiro, proporcionalmente, é o que mais recebeu votos, com 12 candidatos eleitos, para os legislativos de Nova Friburgo, Niterói e Itaocara.

O PSol ainda elegeu três vereadores em cada uma das outras duas capitais da região Sul, Florianópolis e Porto Alegre. No Rio Grande do Sul, foram ainda uma vereadora eleita em Pelotas e outro em Viamão. O partido conquistou cadeiras nas cinco regiões do país.

Para Bernardo Pilotto, candidato a vereador em Curitiba e presidente do diretório paranaense do PSol, uma das explicações está na formação dos quadros no estado. “É uma situação bem particular. O PSol foi criado no Paraná sem a presença de nenhuma grande figura histórica da esquerda. Nenhum ex-prefeito, ou ex-vereador, ou ex-deputado, como nos outros estados. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul foi assim. Isso aumenta a nossa dificuldade”, explica.

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Outro fator está na sombra do senador Roberto Requião (PMDB). “Nós tivemos que construir o partido do zero no Paraná. O próprio PT, que é a referência da esquerda nacional, nunca foi tão forte aqui, até porque a esquerda sempre teve a referência de Requião. A esquerda paranaense cresceu na sombra do requianismo. Isso torna a nossa situação mais complexa na comparação com os outros estados”, afirma. “Ainda mais num contexto ruim para as ideias de esquerda. Mesmo assim, as votações, em geral, cresceram no Paraná. Na base de 50% em algumas cidades. Não podemos esquecer que vivemos um cenário conservador. Em algumas cidades ficou no quase: Curitiba e Ponta Grossa. Ficou o gosto amargo do quase”.

Além desse quadro, Pilotto cita as dificuldades em nível nacional. “O PSol tem tentando mostrar que as ideias da esquerda não se resumem ao projeto que o PT implantou no país. Esse é o nosso grande desafio. Nós queremos mostrar que a saída para crise não pode penalizar os mais pobres ou as políticas públicas. É uma luta difícil, porque você luta contra a força hegemônica”, conclui.

No Paraná, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e o Partido da Causa Operária (PCO) também não elegeram candidatos, e o PT passou de 437 eleitos em 2012 para apenas 158 em 2016, maior queda entre todos os partidos.

O cientista político e professor da PUCPR Mário Sérgio Lepre afirma que o eleitor visualizou na esquerda a falência do projeto de país dos últimos anos. “Isso é nacional. O eleitor identificou na esquerda os fatos que levaram à queda o governo Dilma Rousseff (PT). Como a esquerda tem identificação forte junto aos indivíduos, e também partido combativos, foi ‘mais fácil de punir’”, afirma.

Bernardo Pilotto, presidente estadual do PSol 
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Para o professor, um dos fatores que explica essa punição foi justamente o caráter fisiológico dos outros partidos. “O eleitor não sabe quais são os grupos do Ratinho Jr. ou do Ricardo Barros. Eles estão diluídos em alguns partidos, no centrão. Isso leva a uma dificuldade do eleitor de conseguir punir o partido por conta dos desmandos dos políticos. Imagina que o PP, do Barros, é o partido com mais parlamentares implicados na Lava Jato. O próprio PMDB, fisiológico, não foi atingido por essa revolta. Esses partidos ficam numa geleia e o eleitor não consegue identificar o partido com o fato, com a corrupção, digamos. Esse é um dos motivos que faz com que a identificação com os partidos de esquerda seja imediata. E assim o eleitor vota para eleger e também para punir de forma mais impactante.”

Partidos tradicionais em queda

O partido que mais perdeu seu eleitorado no Paraná foi o PT: desancou de 437 eleitos em 2012 para 158 em 2016. No entanto, todos os outros partidos tradicionais perderam votos. O comparativo dos números é de 2012 com 2016, com dados do primeiro turno: PMDB (677 x 590), DEM (307 x 286), PDT (368 x 356), PP (345 x 318), PPS (225 x 219), PSD (366 x 332), PSDB (570 x 507), PTB (274 x 249).

Já alguns partidos cresceram ao longo dos últimos anos, com destaque para PSC (224 x 382), PR (214 x 250), PSB (183 x 214) e PV (100 x 128). O SD partiu do zero para 96 eleitos. Outros três partidos conseguiram votos municipais pela primeira vez: PEN (33 eleitos), PMB (22) e Rede Sustentabilidade (19).