Depois de muitos anos em que as urnas davam ao horizonte brasileiro um tom avermelhado, o país amanheceu na última segunda-feira com um céu mais azul e favorável para a revoada dos tucanos rumo a 2018. O PSDB foi o partido que teve melhor desempenho nas eleições municipais. E se fortaleceu para a sucessão presidencial.
Foi a sigla que mais recebeu votos no país: 17,6 milhões no total. A segunda que mais elegeu prefeitos: 793. A primeira com mais eleitos nas 93 cidades grandes e médias, com mais de 200 mil eleitores, onde se forma a opinião pública nacional. Foram 14 vitórias nesses municípios – incluindo São Paulo, a joia da coroa. E o número pode aumentar, chegando a 33 após o segundo turno.
Confira o desempenho por partido no Brasil
“Território inimigo” e superação
O desempenho do PSDB nas eleições municipais não foi bom apenas nos redutos tradicionais dos tucanos, como o estado de São Paulo. O partido conseguiu vencer em importantes cidades do Nordeste, região em que costuma ter dificuldade e onde o PT dominava. Manteve, por exemplo, o comando de Teresina (Piauí) e venceu em Campina Grande (Paraíba). Os resultados eleitorais no Rio Grande do Sul também mostram que os gaúchos superaram o “trauma” da gestão da tucana Yeda Crusius no governo estadual (2007-2011). Yeda saiu do governo com popularidade baixíssima. Mas o PSDB, agora, venceu em Pelotas – dentre as grandes cidades gaúchas. E está no segundo turno em Porto Alegre, com Nelson Marchezan Jr.
“O quadro ficou muito bom para o PSDB”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Segundo Monteiro, as eleições municipais preenchem 98% dos cargos eletivos disponíveis no país (535 mil das 560 mil vagas). E os prefeitos e vereadores eleitos no domingo passado serão os principais cabos eleitorais em 2018. Embora haja quem diga que isso é muito mais importante para eleger deputados federais do que um presidente, conquistar prefeituras e vagas nas câmaras municipais é considerado vital para qualquer partido. E por esse critério, o PSDB está bem posicionado.
“Mas isso não significa que a eleição de 2018 está decidida; apenas indica uma tendência”, diz Monteiro. A cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que será preciso levar em conta outros fatores nos próximos dois anos: a economia, o desempenho do governo Temer (apoiado pelo PSDB) e a avaliação dos prefeitos e governadores tucanos.
Bicadas
A divisão interna do PSDB também é outro componente que pode prejudicar a sigla em 2018. Antes mesmo de alçar voo em direção ao Planalto, os tucanos já começaram a se bicar dentro do ninho.
Na festa da vitória, domingo passado, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, aproveitou para lançar seu padrinho político, o governador paulista Geraldo Alckmin, à Presidência. O senador mineiro Aécio Neves, outro tucano que sonha em vestir a faixa presidencial, sentiu o golpe e contra-atacou. Defendeu a realização de prévias internas para a escolha do nome do partido à sucessão de Temer. “O candidato do PSDB [à Presidência] será aquele que tiver mais condições de unificar a legenda em todo o país”, disse Aécio. “Para vencer a eleição presidencial, é preciso que o partido esteja unido nacionalmente.”
O mineiro sabe o que diz. Alckmin tem força apenas no PSDB paulista. “Hoje o Aécio domina a máquina partidária”, diz um político que conhece bem como funcionam as engrenagens do partido. “Alckmin tenta se projetar em função da eleição do Doria. Mas isso é pouco. E o [José] Serra [ministro das Relações Exteriores, outro tucano que almeja a Presidência] está isolado dentro do partido.”
Diante desse cenário, o político que pede para não ter seu nome divulgado aposta que nem mesmo as prévias vão ocorrer. Assim, a tendência é que Aécio imponha seu nome. Mas ele adverte para o risco de o mineiro ser abatido em voo: “A Lava Jato pode mudar todo o cenário eleitoral”. Apesar de não haver nenhuma acusação formal contra o mineiro, Aécio foi citado várias vezes por delatores da operação como participante de um esquema de corrupção em Furnas, estatal do setor elétrico.
PMDB surge como principal concorrente do PSDB
No atual cenário político, o principal concorrente do PSDB na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018 é o PMDB. A sigla saiu das eleições municipais como a segunda força do país. Ganhou o maior número de prefeituras (1.028) – a maioria de municípios pequenos. Também comanda a Presidência da República e conta com as bancadas mais expressivas de deputados e senadores. E está organizado em praticamente todas as cidades brasileiras. Os peemedebistas se beneficiam ainda do enfraquecimento do PT e da esquerda de um modo geral. O problema será unificar o partido em torno de um nome de consenso e aumentar a popularidade do governo do presidente Michel Temer.
Embora afirme que não vai concorrer à reeleição, Temer é o nome natural do PMDB para 2018. “Mas ele teria de fazer um governo exitoso. Hoje, a popularidade do presidente é muito baixa”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Pesquisa Ibope divulgada no último dia 4 mostrou que sua gestão é aprovada por apenas 14% dos brasileiros.
Monteiro afirma ainda que o principal desafio do PMDB é escapar da tradicional lógica da sigla de agir como uma federação de líderes regionais. Desde 1994, quando lançou Orestes Quércia, o partido não tem candidato ao Planalto. Prefere manter a autonomia de seus líderes estaduais para fechar suas próprias alianças a estar unido nacionalmente.
Situação da esquerda
A cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que o PT se enfraqueceu expressivamente nas eleições municipais (o partido conquistou 61% menos prefeituras do que em 2012). “O [ex-presidente] Lula ainda tem força política, mas está muito desgastado. E também depende da questão jurídica para concorrer [à Presidência]”, diz Maria do Socorro. Lula pode virar ficha-suja se for condenado nos processos da Lava Jato a que responde na Justiça.
Ela afirma ainda que o PT vive uma crise interna que pode levar lideranças a abandonar o partido, enfraquecendo-o ainda mais. “O futuro do PT para 2018 também vai depender da atuação como oposição ao governo Temer”, diz a cientista política.
Diante das atuais circunstâncias, já se fala na possibilidade de o PT se aliar a outras siglas de esquerda para lançar um candidato à Presidência alternativo. O nome mais cotado atualmente é o do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
Outros concorrentes
Um partido que se animou com os resultados da eleição foi o PSD, que agora sonha em disputar a Presidência com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que é filiado à sigla.
No campo da esquerda, a Rede deve insistir em Marina Silva – que concorreu ao Planalto em 2010 e 2014. Mas o desempenho do partido foi fraco nas eleições municipais. E importantes líderes da sigla se desfiliaram do partido na segunda-feira passada criticando a postura centralizadora de Marina.
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