As investigações da Operação Lava Jato envolveram em 2016 políticos de praticamente todos os principais partidos do país. E a perspectiva é de que isso se intensifique ainda mais neste ano. Esse cenário aumenta as chances de haver na disputa presidencial de 2018 candidatos de fora do meio político com reais chances de vitória. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado no mês passado mostrou que só 32% dos eleitores brasileiros votariam num político, contra 49% que preferem escolher um candidato de fora do meio caso tenham essa opção em 2018. E há pelo menos seis “figuras” que podem encarnar esse perfil.
O juiz-herói
Já faz alguns anos que a figura do “juiz-herói” – que pune os corruptos malfeitores – tem atraído admiração e até idolatria. Responsável pelos processos da Lava Jato, Sergio Moro se encaixa nesse perfil, mas já negou que tenha intenção de virar político. Apesar disso, pesquisa Datafolha divulgada em dezembro mostra que ele, se mudar de ideia, será um candidato forte. Apareceu em segundo lugar, com 11% das intenções de voto, empatado com Marina Silva e à frente de Aécio Neves (7%). O primeiro na sondagem foi Lula, com 24%.
Outro que poderia ter chances é Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF que relatou o processo do mensalão, cujo julgamento foi concluído em 2013. À época, com o prestígio em alta, Barbosa começou a ser cotado para disputar a Presidência. Em 2014, houve uma tentativa de articulação para que ele fosse vice de Marina Silva. Não deu certo. Mas em novembro do ano passado, questionado se poderia concorrer ao Planalto, deixou a possibilidade em aberto: “Sou um homem livre”, disse, enigmático.
O arquétipo do “caçador de corruptos” também pode eventualmente vir a ser ocupado por um integrante do Ministério Público. Nos bastidores, especula-se que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teria interesse em, um dia, ser candidato a presidente. Em 2017, ele deve ficar em evidência ao denunciar ao STF políticos com foro privilegiado envolvidos na Lava Jato.
O militar linha-dura
Parte da população acredita que o país precisa de um “homem forte” para acabar com a bagunça em que os políticos colocaram o país e para resgatar a moral e os bons costumes. E aí o militar linha-dura preenche esse imaginário popular.
Por enquanto, quem mais está perto desse perfil é o polêmico deputado Jair Bolsonaro (PSC), que é militar da reserva. Outro nome que já chegou a aparecer nas bolsas de aposta para concorrer à Presidência é o do general da reserva Augusto Heleno – que foi comandante militar da Amazônia e chefe da missão brasileira no Haiti.
O comunicador do povo
Radialistas e apresentadores de televisão costumam ter sucesso eleitoral para cargos de vereador e deputado. Mas dificilmente vencem disputas majoritárias importantes – prefeituras de grandes cidades, governos estaduais e Presidência da República.
Ainda assim, embalados na popularidade, podem ter alguma chance. Quem chegou mais perto foi Silvio Santos, que disputou a eleição presidencial de 1989. À época, liderou algumas pesquisas de intenção de votos. Mas o então candidato Fernando Collor questionou o registro do partido de Silvio Santos (o nanico PMB). A Justiça Eleitoral cassou o registro da legenda e, consequentemente, a candidatura de Silvio.
Atualmente, o empresário Roberto Justus – que disse cogitar disputar o Planalto – se encaixa nesse perfil, bem como no do empresário de sucesso. Ele foi apresentador dos programas O Aprendiz, Roberto Justus +, Power Couple Brasil e A Fazenda – todos na TV Record.
O empresário de sucesso
A má qualidade dos serviços públicos, quando comparada aos ofertados pela iniciativa privada, cria a convicção em muitos eleitores de que a gestão empresarial é muito mais eficiente. Nesse cenário, o empresário de sucesso aparece para a população como um bom gestor que pode fazer a máquina pública funcionar.
As eleições municipais do ano passado – sobretudo com a vitória de João Doria em São Paulo – mostraram que gestor da iniciativa privada é um perfil com chances na sucessão presidencial. Para o ano que vem, o empresário, publicitário e apresentador de televisão Roberto Justus aparece como um possível candidato à sucessão presidencial.
Mas a figura do empresário também pode enfrentar dificuldades eleitorais. Um dos maiores industriais do país, Antônio Ermírio de Moraes, morto em 2014, concorrer com chances ao governo de São Paulo em 1986. Perdeu para um político tradicional, Orestes Quércia – que conseguiu explorar um dos imaginários negativos associados aos empresários: o de que, como governador, iria agir como um “patrão”.
O esportista vencedor
Atletas campeões passam a imagem de sucesso. E não é incomum que usem esse “capital” para se aventurar pela política. O tetracampeão Romário é o esportista que disputou eleições e chegou ao cargo mais alto até agora: o de senador. Mas o técnico da seleção de vôlei Bernardinho, que também já foi jogador, tem sido há muito tempo cotado para cargos eletivos. Ele inclusive já é filiado desde 2013 a um partido, o PSDB. Além do perfil de profissional vitorioso, Bernardinho encarna outro arquétipo importante em uma eleição: a do líder.
Também na área esportiva, dirigentes de clubes de futebol também costumam ter algum sucesso eleitoral. O caso mais recente é o de Alexandre Kalil, do ex-presidente do Atlético Mineiro, que se elegeu prefeito de Belo Horizonte. Apesar disso, os cartolas no Brasil têm em geral uma imagem muito ruim. Mas não se pode descartar a possibilidade de concorrerem, embalados no exemplo de Alexandre Macri, atual presidente da Argentina. Ele comandou por muitos anos o tradicional Boca Juniors.
O homem de Deus
Não é de hoje que a religião se misturou com a política. Pastores evangélicos têm ocupado espaço cada vez maior nos cargos públicos eletivos, sobretudo no Poder Legislativo. E, em 2016, venceram mais uma barreira: a conquista de um importante cargo no Executivo – a prefeitura do Rio de Janeiro, com Marcelo Crivella. Embora ele não seja um outsider na política – era senador –, ficou conhecido por ser pastor da Igreja Universal.
A figura do “homem de Deus”, porém, tende a enfrentar um grande obstáculo numa eleição presidencial: a grande pulverização de denominações evangélicas. Ou seja, dificilmente um candidato conseguiria aparecer como representantes de todos os grupos. Na eleição de 2014, por exemplo, Pastor Everaldo concorreu à Presidência e ficou apenas em quinto lugar (não atingiu nem 1% dos votos).
Além disso, a maior religião do país – o catolicismo – não estimula a participação de seus líderes em disputas eleitorais.
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