De carona no espírito olímpico, a bancada do PSol na Câmara fez nesta quarta-feira (3) um ato no Salão Verde para pressionar pela votação do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O partido improvisou, em papelão, um “Pódio da Cumplicidade” com lugares para as medalhas de ouro, prata e bronze a serem ocupados pelos que estariam contribuindo para evitar a votação, em Plenário, do processo de perda de mandato de Eduardo Cunha, já aprovado no Conselho de Ética da Casa.
O ato contou com a participação dos cinco deputados do PSol e do deputado petista padre Luiz Couto (PB). No pódio do partido, o medalhista de ouro na modalidade “prote(la)ção a Cunha é o novo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a prata ficou com o governo “Temer(oso)” e o bronze com “líderes omissos”. Segundo o líder da bancada, deputado Ivan Valente (SP), Maia anunciou “de forma frouxa” a leitura do processo em sessão na próxima segunda-feira, mas avisou que só votará em Plenário depois de apreciar o polêmico projeto que trata da renegociação da dívida dos estados.
“Há um imenso conluio para proteger Cunha e o presidente interino Michel Temer, uma articulação para que o processo só seja votado após o impeachment. Líderes que sustentam o governo fazem corpo mole na cobrança da votação porque Cunha ameaça abrir o jogo com delação ou sair atirando, o que poderia atingir o coração do governo Temer”, criticou Ivan Valente.
“É um cinismo inaceitável e por isso montamos essa pódio para mostrar quem são os campeões da cumplicidade”, acrescentou.
O deputado Chico Alencar (PSol-RJ) destacou que o processo contra Cunha já tramita há 294 dias na Câmara. Para ele, se o processo for mesmo lido por Rodrigo Maia na próxima segunda-feira, será possível votá-lo ainda na próxima semana.
“Se houver vontade política é possível votar, mas não estamos vendo isso. O centrão, a boca pequena, diz que pode tirar 200 deputados de plenário, o que não acreditamos. Maia diz que só vota com 400 deputados na Casa, mas se não marcar a sessão e chamar, não saberá se virão. Esse é um jogo de números sujo, nada olímpico, uma barganha da pior qualidade. Vamos resistir. Para o bem da Câmara, temos que votar e tirar daqui essa caveira de burro”, disse Alencar.
A deputada Luiza Erundina (PSol-SP) conclamou a sociedade brasileira a vir ao Congresso Nacional e pressionar pela votação do processo contra Cunha. “A sociedade tem que vir para cá nos ajudar a pressionar e a tira o Cunha. Está na hora dessa Casa ouvir o povo!”, disse ela.
Maia nega protelação
Ao deixar o gabinete, Maia disse que na democracia cada um faz a manifestação que acha melhor. Mas, questionado se era correta a afirmação de que estaria protegendo Cunha e protelando a votação em plenário, o presidente da Câmara reagiu.
“A Casa tem uma agenda, uma prioridade, quer tirar o Brasil da crise. Alguns querem construir, outros querem destruir. Eu quero construir. Vamos manter a leitura do processo na semana que vem, vamos votar o 257 (projeto da renegociação das dívidas dos estados), inclusive votar o pré-sal”, disse Maia.
“Acho que vamos dar uma sinalização importante para o Brasil de que a Câmara está colaborando com a superação da crise econômica, o que é muito importante. São mais de 11 milhões desempregados no país esperando por isso”, acrescentando.
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