Há um mês, iniciava-se a fase mais dramática da crise política em Brasília, com milhões de manifestantes indo às ruas contra o governo. De lá para cá, a presidente da República Dilma Rousseff (PT) evitou compromissos políticos externos e se cercou de aliados próximos no Palácio do Planalto.
O tema do impeachment se tornou uma constante nas falas da presidente e o tom das críticas à oposição e à imprensa subiu consideravelmente a medida que o processo de impeachment avançou na Câmara.
No dia 13 de março, 3,6 milhões de manifestantes contrários ao governo – segundo contas das Polícias Militares estaduais – foram às ruas pedir a saída da presidente. Quatro dias depois, os integrantes da comissão do impeachment foram indicados.
Desde então, ela pouco saiu do Palácio em compromissos oficiais: foram seis ocasiões, na Bahia, no Rio de Janeiro e no próprio Distrito Federal. Em Feira de Santana (BA) e no Rio, ela realizou entregas do programa Minha Casa, Minha Vida. No Rio, ela também participou da inauguração do Parque Aquático que será usado nas Olimpíadas. Em Salvador, ela inaugurou uma doca da Marinha, e em Brasília ela participou de duas inaugurações militares.
Por outro lado, a presidente realizou oito cerimônias públicas no Palácio – além da posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil. Houve encontros com artistas e com juristas contrários ao impeachment, dois eventos da área de educação, o lançamento de programa contra o mosquito Aedes Aegypti e cerimonias com beneficiários do Minha Casa, Minha Vida e movimentos que defendem a Reforma Agrária.
Na maioria dessas cerimônias, houve presença maciça de apoiadores da presidente, e discursos contrários ao impeachment de representantes de movimentos sociais, artistas e juristas. Nomes como Guilherme Boulos, Ziraldo e Márcia Tiburi participaram desses eventos.
O tema impeachment
Como era de se esperar, a crise política foi um tema constante durante as falas de Dilma nesse período. Mesmo em ocasiões públicas nas quais o tema não era a defesa de seu mandato, a questão veio à tona. Ela inclusive declarou que seus opositores de ameaçam programas sociais criados durante os governos petistas.
“Vamos continuar fazendo um grande esforço para manter estes programas sociais tão importantes. Além disso, quem pretende interromper meu mandato é o projeto que considera um erro do governo federal colocar recursos para programas como o Minha Casa Minha Vida. Não concordamos com este tipo de posição“, declarou, por exemplo, em cerimônia no Rio de Janeiro.
Ao contrário do início do ano, quando evitava o confronto, o tom das falas de Dilma sobre o assunto ficou mais forte à medida que a crise avançava. Na ocasião da ligação grampeada com Lula, ela declarou que a divulgação do conteúdo da conversa era um princípio de golpe. “Convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdades, de métodos escusos de práticas criticadas, viola princípios e garantias constitucionais, viola os direitos dos cidadãos e abre precedentes gravíssimos. Os golpes começam assim”, disse.
Nesta semana, sem dizer nomes, ela acusou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de articularem um golpe, após “vazamento” de áudio no qual o vice-presidente fala como se o impeachment tivesse sido aprovado. “Ontem, ficou claro que existem, sim, dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada. Como muitos brasileiros, tomei conhecimento e confesso que fiquei chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento que foi deliberado, premeditado, vazando para eles mesmos. Estranho vazamento”, disse, em discurso.
Em todas as falas, Dilma trata o processo do impeachment como um golpe. “Condenar alguém por um crime que não praticou é a maior violência que se pode cometer contra qualquer pessoa. É uma injustiça brutal. É uma ilegalidade. Já fui vítima desta injustiça uma vez, durante a ditadura, e lutarei para não ser vítima de novo, em plena democracia”, declarou, em evento com juristas.
Nesta quarta-feita (13), porém, ela amenizou o discurso e falou em um nova pactuação do poder após a votação do impeachment. “Agora te digo qual é meu primeiro ato pós-votação na Câmara: a proposta de um pacto, de uma nova repactuação entre todas as forças políticas, sem vencidos e vencedores. Seja na Câmara, seja pós-Câmara, mas também pós-Senado. No pós-Senado é que isso será mais efetivo“, explicou.
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