Até que ponto a lógica dos argumentos é eficaz diante do caráter emocional de algumas das reivindicações da multidão que toma as ruas de Curitiba e de outras grandes metrópoles do país? Até que ponto, por exemplo, o prefeito Gustavo Fruet será capaz de resistir ao grito que clama pela redução da tarifa de ônibus da capital e de municípios da região metropolitana?

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Os argumentos do alcaide são calcados em dados. Fruet parte da premissa de que seus números são incontestáveis: se o transporte de um passageiro custa R$ 2,99 e se o preço da passagem é R$ 2,85, já há aí um prejuízo de 14 centavos por passageiro. Multiplique-se esse (aparentemente) pequeno valor por 2,8 milhões de passagens/dia e se tem como resultado um rombo monstruoso – rombo que está sendo arcado por subsídios governamentais e desonerações de impostos.

Logo, do ponto de vista da aritmética mais elementar, baixar a tarifa significa aumentar o prejuízo do sistema. Entretanto, o povo que toma as ruas quer que a tarifa baixe para R$ 2,60 nos dias de semana e de R$ 1,50 para R$ 1,00 aos domingos. No fundo, portanto, o povo está pedindo – na visão do prefeito – que os prejuízos sejam ainda maiores e que o poder público tire mais dinheiro de outros setores essenciais para colocá-lo no transporte.

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Olhada friamente, a matemática do prefeito está perfeita, assim como é correta também sua percepção das consequências: saia de onde sair – do município, do governo do estado ou do federal – o dinheiro para subsidiar o transporte fará falta para a educação, para a saúde, a segurança e tantos outros inúmeros serviços públicos.

De que adiantam tais argumentos frente à pressão popular que não olha para os números do prefeito – aliás, de qualquer prefeito, seja Fruet em Curitiba, Haddad em São Paulo ou Eduardo Paes no Rio de Janeiro? Entretanto, ontem, tanto em São Paulo quanto no Rio, as tarifas ficaram 20 centavos mais baratas. Uma decisão política, amedrontada, nada técnica. Em Curitiba, Fruet, após negociações com líderes do movimento, pediu mais um ou dois dias para pensar. O que virá, não se sabe.

E qual foi a reação dos paulistanos e cariocas quando tomaram conhecimento da vitória que obtiveram? Além de choros de emoção, anunciaram: o movimento vai continuar, mas agora para que o transporte público seja gratuito! Isto é, não há argumento lógico nem limite para conter a emoção dos cortejos que tomam conta das cidades.

Nem por isso se há de condenar o grito da multidão – um grito juvenil que nasceu espontâneo, sem lideranças visíveis, sem participação de políticos aproveitadores, sem partidos, sem sindicatos pelegos, sem pregações ideológicas. E, amém, tomara que esse espetáculo de democracia assim permaneça.

O grito, embora mais concentrado na causa concreta das tarifas, é claramente extensivo aos muitos outros motivos da exaustão a que o povo está sendo levado. Exaustão e sensação de impotência contra a corrupção, contra a desfaçatez de comportamento de muitos políticos, da má gestão do dinheiro público, da gastança desenfreada com inutilidades... Em contraposição a tudo isto que aí está, o povo se vê frente ao drama da morte na fila dos hospitais; da educação pública precária; do medo dentro e fora de suas casas por falta de segurança...

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Diante de tanto, não há que se exigir que a emoção das ruas se renda às lógicas econométricas.

Incontestáveis?

Mas ainda cabem observações sobre os números que o prefeito Gustavo Fruet considera incontestáveis e que estão na base de sua argumentação contrária à redução das passagens. Seriam mesmo incontestáveis? Com certeza, pelo menos um deles não se discute neste momento: seja qual for valor pago pelos passageiros – não interessa se R$ 2,85 ou R$ 2,60 –, as empresas do transporte coletivo continuarão recebendo R$ 2,99 a cada vez que catraca roda.

E eis, então, a questão: esse é o preço justo pelo serviço que prestam? Nem mesmo Fruet sabe ainda, pois não se comprovou até hoje a correção dos valores escondidos na "caixa-preta" da Urbs. A única certeza que se tem é que o dinheiro que abastece as empresas decorre do contrato que a Urbs firmou com elas em 2010, quando o atual governador do estado era prefeito de Curitiba.

Embora não tenha sido responsável por esse contrato, Fruet ainda deve aos eleitores a promessa que lhes fez de abrir a "caixa-preta". Quem sabe encontre ali números que desconhece e que lhe permitam reduzir a passagem sem causar prejuízo a outros serviços que a prefeitura tem obrigação de prestar.

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