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Bibinho leva palavras cruzadas ao tribunal
Vindo do quartel central da Polícia Militar, no qual está preso desde agosto, Bibinho deu mostras de que chegou ao fórum, na manhã de ontem, preparado para passar o tempo. Nas mãos, uma revista de palavras cruzadas. Nos primeiros instantes na sala de audiências, optou pelo silêncio e permaneceu cabisbaixo, muitas vezes com os olhos fechados. Folheava a revista, mas sem sacar a caneta do bolso da camisa para preencher as lacunas.
Em muitos momentos, o ex-diretor-geral parecia distante e pensativo. Tirava os óculos e, segurando-os pela haste, ficava girando, com o olhar perdido. Mas, por vezes, Bibinho se mostrava interessado no que estava sendo dito nos depoimentos, inclusive orientando o advogado sobre o que devia ser perguntado às testemunhas ou contestando, ao pé do ouvido, algumas declarações feitas. "Isso lá é pergunta, pô!", comentou sobre um questionamento do MP a uma testemunha acerca do procedimento para a abertura de contas bancárias de funcionários. "Isso [que está sendo perguntado] está nos autos?", indagou ao advogado, em forma de cochicho, em outro momento. Muitas vezes mexia a cabeça, concordando ou discordando do que estava sendo dito pelas testemunhas. (KB)
Servidores da Assembleia Legislativa do Paraná confirmaram, em depoimento judicial, que pessoas foram contratadas de modo irregular, ignorando a documentação necessária para a nomeação. As declarações, que reforçaram a existência de atos secretos no Legislativo estadual, marcaram o início do julgamento do ex-diretor-geral da Casa Abib Miguel, o Bibinho, na manhã de ontem.
Os depoimentos fazem parte da ação judicial que acusa Bibinho e outros dois ex-diretores da Assembleia José Ary Nassiff e Cláudio Marques da Silva, que também estão presos, de providenciar a contratação de mais de uma dezena de integrantes da família Gbur, que teriam recebido salário sem nunca ter trabalhado na Casa. O envolvimento da família teria possibilitado o desvio de mais de R$ 13 milhões, mas o Ministério Público (MP) estima que o rombo com o esquema de funcionários fantasmas é bem maior e supera a casa dos R$ 100 milhões.
Seis pessoas prestaram depoimentos ontem. Thayse Gbur contou que trabalha em uma empresa que lava carrros e que foi informada pelo Ministério Público que esteve na lista de funcionários da Assembleia. Disse que cedeu cópias de documentos pessoais para um parente do marido, Alessandro Gbur, com a promessa de ser beneficiada por um seguro. Acrescentou que não assinou documento algum nem abriu conta bancária. Dois permissionários de táxi confirmaram que Eduardo Gbur, que também já esteve na lista de servidores da Assembleia, é taxista pelo menos desde 2008.
Marco Antonio Marconcin, que presidiu a comissão de sindicância instalada pela Assembleia, disse que a investigação interna não encontrou prova de que o ex-diretor participou de qualquer ato ilícito, mas reforçou que toda a contratação de pessoal, necessariamente, passava pela diretoria-geral.
O atual diretor de pessoal, Antonio Carlos Gulbino, afirmou que era coordenador de recursos humanos até março e que encontrou arquivos incompletos de funcionários. Segundo ele, algumas pastas estavam sem o ato de nomeação, tinham número de ato incompatível ou não tinham a documentação assinada pelos responsáveis pela contratação. Gulbino ainda acrescentou que, em tese, tais pessoas não poderiam ser incluídas na folha de pagamento sem a documentação completa.
A funcionária Cleia Carazzai confirmou que era responsável pelo registro em livro da sequência dos atos de nomeação e que recebeu ordem do ex-diretor de pessoal Cláudio Marques da Silva de deixar espaços não preenchidos para serem completados quando necessários. Também admitiu que, em 2008, preencheu no livro uma sequência de atos referentes aos anos de 2003 e 2006.
O processo, que corre na 9.ª Vara Criminal, é o primeiro que chega à fase de depoimentos. O ex-diretor, acusado de chefiar um esquema de desvio de recursos públicos por meio da contratação de funcionários fantasmas, é réu em mais uma ação judicial e alvo de uma série de investigações do Ministério Público.
Sem imprensa
A defesa de Bibinho solicitou à juíza Ângela Ramina que a imprensa não estivesse presente na audiência. Pediu ainda que, como havia apenas um advogado de defesa, só um promotor participasse dos interrogatórios. A juíza decidiu que a imprensa poderia permanecer na sala de audiência porque o processo é público e determinou que não fossem feitas gravações de imagem e áudio ou entrevistas, em respeito à privacidade das pessoas que estavam lá.
A previsão inicial era de que o interrogatório levaria três dias. Mas a defesa que avaliou que os depoimentos do dia não acrescentaram novidades ao processo e que o Ministério Público não apresentou ainda nenhuma prova cabal do envolvimento de Bibinho em ações ilícitas decidiu dispensar as 46 testemunhas que falariam a favor do ex-diretor-geral. O julgamento, então, foi suspenso, até que a última testemunha de acusação seja ouvida.
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