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| Foto: Elton Bonfim/Ag. Câmara Federal

Entrevista com Abelardo Lupion, presidente estadual do DEM.

Brasília - As acusações contra o presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus, serão tratadas internamente pelo DEM a partir do momento em que a Justiça acatar as denúncias feitas pelo Ministério Público. É o que garante o presidente estadual da legenda, deputado federal Abelardo Lupion. Até agora, os democratas não tomaram qualquer atitude sobre o caso, posição bem distinta do histórico recente do partido no plano nacional.

A executiva nacional do DEM fez força, por exemplo, para que o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda e seu vice, Paulo Octávio, pedissem desfiliação. O mesmo aconteceu com o "deputado do castelo", Edmar Moreira. No caso dos atos secretos do Senado, similar ao da Assembleia, o DEM também se posicionou formalmente favorável ao afastamento do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

Para Lupion, entretanto, todos esses casos são diferentes do que ocorre no Paraná e que, a princípio, a executiva nacional do DEM não irá se manifestar. Apesar de assumir desavenças pessoais contra Justus, ele garante que atuará apenas como árbitro na questão e que não opinará sobre o possível afastamento da presidência da Assembleia.

As denúncias contra Nelson Justus serão tratadas apenas pela executiva estadual do DEM ou podem ser levadas à executiva nacional?

Nós estamos esperando um posicionamento da Justiça para tomarmos uma posição. Não vamos jogar nada para debaixo do tapete. Mas esse é um problema da executiva estadual. E, se necessário, eu mesmo vou encaminhar à executiva nacional. O que nós não podemos esquecer é que esse não é o problema de um deputado, é um problema de um poder. É a Assembleia Legislativa do Paraná que está sob investigação, não apenas o seu presidente. Nós precisamos ter mais dados, mais transparência desses dados para que possamos tomar uma medida. É só por isso que o partido não se pronunciou até agora. Não podemos simplesmente tomar qualquer atitude sem embasamento e sem direito à ampla defesa. Para eu instalar qualquer tipo de processo, eu preciso dessas informações.

Então a denúncia por improbidade administrativa feita pelo Ministério Público do Paraná não é suficiente para municiar um processo interno, por exemplo, for falta de decoro?

A partir do momento em que ela for aceita pela Justiça, sim. Existe um monte de denúncia vazia do Ministério Público, que também é falível. Se a Justiça acatar, aí sim estamos tratando de um caso sub judice.

Ou seja, o partido não tomará nenhuma medida interna, nem de investigação nem de sanção, sem estar amparado judicialmente?

Nós não temos poderes de investigação. O que é o partido? Ele só pode usar aquilo que é produzido pelos poderes que têm a prerrogativa de investigar. No caso do Arruda, tínhamos uma gravação contra ele, uma coisa patente, e imediatamente tomamos as medidas. No caso do Paulo Octavio, o principal assessor dele estava recebendo propina. O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal foi flagrado com dinheiro na meia. No Paraná, nós não temos esses dados. O que temos é uma profusão de atos da mesa da Assembleia, que precisam ser analisados. Quem era o responsável? Era o diretor-geral, era o presidente, era o vice-presidente? Nós precisamos que a Justiça diga isso.

Mas não há provas de que havia funcionários fantasmas ligados a Nelson Justus e de que ele tinha relações, inclusive financeiras, com a família do ex-diretor-geral da Casa Abib Miguel?

Não foi provado ainda, está com a Justiça. É diferente também porque estamos em um período de pré-eleição. Qualquer medida exasperada que tivermos pode ser prejudicial. E se foi tudo uma grande armação? Eu não tenho conhecimento de causa para dizer se foi ou não. É muito difícil um presidente de partido, que não é populista, administrar uma situação dessas. Para mim seria muito cômodo eu fazer a exclusão do Nelson Justus e ganhar mídia como salvador da pátria. Aí eu perderia o respeito daqueles que querem a investigação do caso. Eu não posso fazer isso, ele é um pai de família, tem uma vida pública. Não tenho a mínima condição de ser leviano e populista. O partido precisa se ater a regras. Se a Justiça acatar as denúncias, eu requeiro o conteúdo das investigações e mando para o Conselho de Ética do partido. É assim que funciona.

Voltando ao Distrito Federal, foram só as imagens que determinaram a ação mais dura do partido?

Aqui [em Brasília] todo mundo sabia o que estava acontecendo. Foi sexo explícito, um assalto aos cofres públicos. No Paraná, são atos administrativos dentro de um poder, feitos por membros desse poder e a sua assessoria. Eles precisam ser averiguados. Se você me disser que foi com ordem do presidente da Casa que foram cometidas irregularidades, você tem que provar. Quem fazia isso era o diretor-geral. Você pode comparar esse caso da Assembleia com os atos secretos do Senado. O diretor-geral do Senado chamou para si a responsabilidade de fazer contratações, publicar atos. Não posso dizer que concordo, mas o presidente do Senado continua sendo o José Sarney (PMDB-AP). Ninguém conseguiu nada para derrubá-lo do poder.

O senhor é a favor do afastamento do presidente da Assembleia?

Eu não sou a favor nem contra. E não tenho poder para afastá-lo. Todos sabem que o presidente da Assembleia já assinou uma carta contra mim quando dirigia o partido. Para mim, seria extremamente cômodo me posicionar pelo afastamento. Mas seria apenas uma vingança. Eu não converso com o Nelson Justus desde que ele se transformou no grande coordenador do Beto Richa (PSDB) na Assembleia. Eu fui contra e nós entramos em uma discussão pública. Ele é um adversário dentro do partido. Nessa altura, eu sou árbitro da questão porque sou presidente do partido. Não tenho direito de ter posição. Eu tenho de ser justo. E não Justus.

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