| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, revelou nesta terça-feira, 13, ao juiz federal Sergio Moro a ‘metodologia’ usada em 2014 pelos então senadores Vital do Rêgo - hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) - e Gim Argello (PTB-DF) para barrar as investigações da CPI da Petrobras. Segundo o executivo, a dupla de senadores traçou um plano de trabalho que postergava propositadamente a investigação sobre corrupção na estatal petrolífera.

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Léo Pinheiro foi questionado por seu advogado sobre medidas tomadas para que a CPI não aprofundasse os trabalhos investigativos. De acordo com o empreiteiro, retardar a investigação envolveu ajustes no calendário da CPI.

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O executivo declarou que tinha conhecimento do plano de trabalho da CPI - o documento foi apreendido pela Lava Jato com Léo Pinheiro.

“Eu li várias vezes para entender como era o processo desde que eu estava à frente 100% desse assunto”, afirmou. “Tinha propositadamente as datas de reunião, por exemplo. Só votava requerimento de depoente a cada 15 dias. Reunião para escolha de temas passava por um outro processo postergatório. Eram quatro temas, no plano (de trabalho) ele chama de quatro eixos. RNEST (Refinaria de Abreu e Lima, investigada na Lava Jato e alvo da CPI), por exemplo, que tem a ver conosco. RNEST era um eixo, então, para que o assunto RNEST voltasse, se ele foi para uma reunião, demorava 45 dias.”

O empreiteiro disse detalhes a Moro. “A CPI tem um calendário que pegava dois recessos parlamentares. O do mês de junho e o do final do ano, que acabou encerrando com recesso. Isso tudo, eu vou usar a palavra, mas não sei se ela é correta, me perdoe, mas inteligentemente traçado isso e com alguns feriados para que não houvesse reuniões. Eu tratei disso juntamente com o senador, presidente da CPI, Vital do Rêgo, e com o senador Gim. Eles me mostrando esse calendário”, afirmou.

“Outra coisa importante, as horas dessas reuniões que às vezes coincidiam com sessões do plenário da Câmara, do Senado ou do Congresso. Automaticamente as sessões são encerradas. Havia toda uma metodologia para que não se chegasse às investigações que o Ministério Público e a Justiça chegaram.”

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É a primeira vez que Léo Pinheiro, que perdeu no último mês sua negociação de delação premiada com o Ministério Público Federal, confessa crimes no esquema de cartel e corrupção na Petrobras.

A confissão de Léo Pinheiro faz parte de sua estratégia para tentar reconquistar a liberdade que a Lava Jato lhe tomou.

Após ver malograr sua delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República, o empreiteiro está preso desde a semana passada, por ordem do juiz federal Sergio Moro.

Moro acolheu pedido da força-tarefa do Ministério Público Federal que atribui a Léo Pinheiro obstrução da Justiça nos autos do processo em que é réu o ex-senador Gim Argello.

A confissão pode render benefícios ao empreiteiro, que já foi condenado em outra ação penal da Lava Jato a 16 anos e quatro meses de prisão.

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Esta sentença encontra-se sob o crivo do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, que deverá confirmar a primeira condenação, impondo a Léo Pinheiro regime de prisão fechada por uma longa temporada.

Nesta terça-feira (13), ele foi interrogado por Moro porque também é réu acusado de pagar propina de R$ 350 mil a Gim Argello, via doação a uma igreja.

Léo Pinheiro foi preso pela primeira vez na Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato, em novembro de 2014, e ficou custodiado preventivamente até abril de 2015 quando o Supremo Tribunal Federal (STF) deu habeas corpus a nove executivos de grandes empresas.

Em agosto de 2015, ele foi condenado a 16 anos e 4 meses de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

O executivo voltou a ser preso pela Lava Jato em 5 de setembro, desta vez por obstrução de investigação.

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A reportagem entrou em contato com a assessoria de Vital do Rêgo e Gim Argello, mas ainda não obteve retorno.