De acordo com reportagem publicada nesta quinta-feira pelo jornal "O Globo" , o ex-vice presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região desembargador José Eduardo Carreira Alvim, preso durante a Operação Hurricane ("Furacão" em inglês), da Polícia Federal, sabia que estava sendo investigado. Em conversa gravada por grampo instalado em seu gabinete, Carreira diz ao desembargador José Ricardo de Siqueira Regueira, que também foi preso durante a operação, ter sido informado, por alguém do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sobre o pedido de quebra do seu sigilo bancário, encaminhado ao órgão pela juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Criminal Federal.
"Eu fui procurado e me contaram uma sacanagem, que a tal Ana Paula pediu ao STJ a quebra de meu sigilo bancário e o STJ indeferiu". Em seguida, Carreira alega que o pedido foi indeferido. "Porque Gonçalves é meu amigo", diz ele. De acordo com o relatório da PF, o desembargador referia-se "provavelmente ao ministro Fernando Gonçalves, coordenador-geral da Justiça Federal do STJ".
Carreira diz que, se Ana Paula não fosse titular da vara, mandaria a juíza ao "raio que a parta". Ele diz a Regueira que xingou quem o estaria escutando, para mostrar que já sabia dos grampos em seus telefones, e pediu ao desembargador que evitasse levar a ele novos pedidos de liminar referentes a bingos. Na gravação ele cita ainda "Maria Thereza" (identificada no relatório da PF como ministra do STJ).
Os ministros Fernando Gonçalves e Maria Thereza, que supostamente aparecem nas transcrições das gravações, de acordo com a análise da PF, negaram com veêmencia qualquer relação com o caso ou com Carreira. Fernando Gonçalves, por meio da assessoria de imprensa do STJ, negou qualquer contato com Carreira. A ministra Maria Thereza informou que não conhece pessoalmente o desembargador Carreira Alvim. Ela garantiu, segundo a assessoria do STJ, que só conhece o desembargador de nome.
O ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou no sábado a soltura de três desembargadores e do procurador regional da República que estavam presos na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília, entre eles Carreira Alvim e Regueira. A decisão desmembrou o processo e os magistrados, que têm foro especial, serão julgados no STF. Os demais 21 bicheiros, policiais e advogados presos continuarão atrás das grades e o processo será conduzido pela 6ª Vara da Justiça Federal, no Rio, que decretou a prisão preventiva do grupo . Nesta quinta-feira começam os depoimentos .
Nesta quarta-feira STF autorizou o acesso do STJ e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ao inquérito que tramita na corte sobre a Operação Hurricane. Os órgãos solicitaram cópias das investigações para instruir procedimentos disciplinares internos contra os magistrados suspeitos de integrar o esquema de venda de sentenças à máfia dos caça-níqueis.
Na última terça, o relator do caso no CNJ, ministro Vantuil Abdala, afirmou que os magistrados não têm mais condições de continuar em suas funções . O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Rodrigo Colaço, afirmou ainda que o Judiciário não pode aceitar a corrupção, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, Wadih Damous, defendeu que os juízes investigados pela Hurricane peçam afastamento.
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