Battisti, com um livro na mão, recebeu a visita de deputados e senadores| Foto: José Cruz/ABr

Paris - A perspectiva de uma decisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), hoje, em Brasília, sobre o futuro do ex-militante de extrema esquerda Cesare Battisti está deixando familiares de vítimas, em Roma e em Milão – ambas na Itália –, sob a expectativa de que a Justiça, enfim, lhes seja rendida. Causa que reagrupa direita e esquerda na Itália, a extradição do ex-membro dos Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) é visto no país como um passo à frente para curar as feridas abertas pelos "anos de chumbo" italianos.

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Verdadeiro porta-voz dos que defendem a punição dos ex-guerrilheiros, Alberto Torregiani, 45 anos, é um dos símbolos da defesa da extradição de Battisti na Itália. Filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, morto em 16 de fevereiro de 1979, em Milão, durante um ataque das PAC, Alberto vive preso a uma cadeira de rodas desde então, quando foi atingido por disparos que o deixaram paraplégico. "Esperamos que a corte suprema brasileira se manifeste em definitivo, e que seu parecer seja afirmativo", disse. "Há muitas famílias de vítimas que estão em contato permanente. Em geral os ânimos estão serenos. Todos aguardam o resultado com expectativa, mas com tranquilidade."

Segundo Torregiani, embora o STF seja a última instância da Justiça no Brasil, os protestos e a luta pela extradição de Battisti não se acabarão caso os ministros votem a favor do refúgio político, acordado em 14 de janeiro pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. "Se a extradição não for aceita, seguramente haverá manifestações. Nosso propósito não é em primeiro lugar trazer Battisti à Itália, mas fazer Justiça. Aqui ele está condenado por crimes comuns, e não políticos, em processos justos. Queremos que ele responda pelos crimes."

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Giovanni Bachelet, 54 anos, físico e deputado pelo Partido Democrático (PD), da oposição de centro-esquerda, também demonstra expectativa pela decisão do STF. Filho de Vittorio Bachelet, jurista e membro democrata-cristão da Aliança Católica, morto em 12 de fevereiro de 1980 pelas Brigadas Vermelhas – grupo ao qual Battisti não estava ligado –, Giovani deixou de tratar a extradição do ex-guerrilheiro como tema de foro íntimo desde que se tornou homem público, em abril de 2008. Desde então, assumiu posição conciliadora, em favor do "perdão e da reconciliação" nacionais, mas também pela punição dos responsáveis pelos crimes cometidos nos anos 70, 80 e 90 na Itália.

"Eu sempre tive muita confiança na independência da Justiça brasileira. Assim como nós, tanto dos partidos do governo, quanto dos da oposição, demonstramos estar de acordo com os resultados dos julgamentos que resultaram nas condenações de Battisti na Itália", ponderou Giovanni, que evita estimar um resultado no STF. "Meu pai, que era jurista, sempre me dizia que é difícil fazer prognósticos sobre julgamentos. Tratam-se de duas democracias, nas quais a Justiça é independente e não é possível fazer prognósticos. E isso é bom para o processo."

Para Giovani, um capítulo dos "anos de chumbo" italianos pode estar próximo do fim, mas nem a eventual extradição de Battisti significará final feliz: "Ninguém está feliz com nada disso".