Com a mesma discrição com que atuou em causas relacionadas ao TCU (Tribunal de Contas da União), Tiago Cedraz movimenta-se como uma autoridade no mundo politico, com forte influência no Solidariedade.
Suspeito de receber propina do empreiteiro Ricardo Pessoa, o dono da UTC que fez acordo de delação premiada com a Justiça, o filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz foi o advogado responsável pela criação do Solidariedade. Ele é apontado por lideranças do partido como o homem que viabilizou financeiramente a criação do partido comandado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP).
Desde a fundação do partido, Cedraz atua internamente numa situação atípica: não é filiado ao partido, mas faz parte da Executiva Nacional como secretário de Assuntos Jurídicos. A atuação de não-filiados na executiva não é vedada pela Lei de Partidos Políticos.
Cedraz também foi o responsável pela indicação de seu primo, Luciano Araújo, para a tesouraria-geral do Solidariedade e para a presidência do partido na Bahia. Assessor parlamentar do tio Aroldo Cedraz até 2006, quando era deputado federal, Luciano vinha atuando na política de Valente, cidade do sertão baiano que é a principal base política da família Cedraz.
Em menos de dois anos, Araújo saiu da posição de presidente do PR na cidade de 27 mil habitantes para tesoureiro nacional do novo partido. Ele foi apontado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, como emissário de propina no valor R$ 1 milhão que seria destinada por Tiago ao então presidente do TCU, Raimundo Carreiro. O ministro nega ter recebido o dinheiro.
Membros do Solidariedade na Bahia, sob condição de anonimato, confirmam a influência de Tiago Cedraz nos rumos e na política de alianças do partido na Bahia, mesmo vivendo em Brasília.
O filho do ministro do TCU é apontado como principal fiador de uma guinada política dada pelo Solidariedade da Bahia às vésperas das convenções da eleição de 2014. O partido já havia anunciado que apoiaria Rui Costa (PT) para o governo do Estado, mas acabou recuando para participar da chapa de Paulo Souto (DEM), derrotada nas urnas.
A operação política, aprovada pela Executiva Nacional, desautorizou o presidente do partido na Bahia na época, o então deputado federal Marcos Medrado (SD-BA). Além dele, o ex-deputado Luiz Argôlo (SD-BA), hoje preso e indiciado por corrupção na Operação Lava Jato, também defendia o apoio ao PT.
Em janeiro deste ano, Luciano Araújo assumiu a presidência do partido na Bahia e foi apresentado à classe política e à imprensa em almoço em Salvador que reuniu deputados, o prefeito ACM Neto (DEM) e Tiago Cedraz.
Cedraz também atuou na filiação do secretário de Urbanismo de Salvador, Sílvio Pinheiro, ao Solidariedade. Também advogado, o secretário diz ter sido apresentado por Tiago Cedraz ao presidente nacional do partido, Paulinho da Força. Ainda confirma ser amigo e parceiro profissional do filho do ministro do TCU há mais de dez anos.
Questionado sobre sua atuação política no partido, Tiago Cedraz informou por meio de sua assessoria que exerce tão somente a função de “representar judicialmente os interesses do partido”. Ele afirma, ainda, que exerce função de secretário de assuntos jurídicos “tão somente nas reuniões da executiva nacional” e complementa que não é filiado ao partido “por opção pessoal”.
O escritório Cedraz Advogado Associados informa que nunca defendeu o grupo UTC perante o TCU e que pautava sua atuação pelo “rigoroso cumprimento da legislação vigente”.
Questionado sobre a indicação para o cargo de tesoureiro, Luciano Araújo afirma que foi eleito pela Convenção Nacional do Partido Solidariedade após o trabalho que desempenhou durante a criação do partido.
Sobre a delação de Ricardo Pessoa, informa que “qualquer relação mantida com a empresa UTC se deu em função do cargo de Tesoureiro Nacional do Solidariedade”.
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