Desde antes do nome da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) ser confirmado pelas urnas em 2014, o movimento Vem pra Rua já começava a marcar manifestações contra o governo, na expectativa que a presidente não se reelegesse. A expectativa do grupo não se confirmou, mas, desde o dia seguinte das eleições, a mobilização aumentou, chegando a mais de 3 milhões de pessoas no último dia 13 de março. O grupo, que é signatário do pedido de impeachment contra Dilma, volta às ruas no dia 31 de julho para mostrar apoio à Operação Lava Jato, às Dez Medidas Contra a Corrupção, do Ministério Público Federal (MPF), e pressionar pela condenação de Dilma Rousseff no processo de impeachment, o que a afastaria definitivamente na presidência.
A coordenadora nacional de cidades do movimento Vem Pra Rua, Adelaide Oliveira, falou à Gazeta do Povo sobre as pautas do movimento e sobre as críticas que pairam sobre a mobilização dos movimentos pró-impeachment. “Somos tachados de movimento anti-Dilma, mas não é isso. Somos um grupo pró-Brasil”, disse. A coordenadora garante que a mobilização deve continuar caso Michel Temer (PMDB) ou qualquer outro governo assuma a presidência de forma definitiva. “Depois do dia 31, vai ficar muito claro para a sociedade e para os políticos que nós não viemos aqui só para tirar a Dilma. Não é isso. A gente quer um Brasil melhor e não vamos parar agora”, afirmou. Leia a entrevista completa:
As manifestações começaram a crescer em 2015 e ainda mais antes da votação do impeachment em 2016. Qual foi o maior “combustível” que levou as pessoas para as ruas e quando foram definidas as pautas levadas pelo movimento?
Nos últimos meses do primeiro mandato em 2014, já começaram a aparecer os fatos que tinham sido escondidos durante a eleição, e já se sabia que muita coisa não ia ser cumprida. Nós então decidimos as pautas de longo prazo, o nosso propósito. Ele foi escrito em dezembro de 2014 e continua extremamente atual. Nós defendemos três pilares básicos - combate à corrupção, a renovação política e um estado eficiente. No combate à corrupção entra o apoio à Lava Jato, a defesa das Dez Medidas Contra a Corrupção e a prisão de todos os corruptos. Na renovação política, queremos tanto a renovação de representatividade eleitoral com o voto distrital, como a renovação política também - ou seja, a forma com que os políticos fazem o jogo. Queremos o fim das coligações, o fim do foro privilegiado. Queremos também um estado desinchado, eficiente, transparente e mais cuidado com a coisa pública. Neste percurso, nós descobrimos que isso só seria possível se a gente tirasse esse governo, porque essa não era a pauta deles. Começamos então a estudar a questão do impeachment.
Quando ao possibilidade do impeachment se tornou uma realidade?
Muitos movimentos aderiram ao processo de impeachment muito rapidamente. Nós fomos um dos últimos, porque queríamos realmente um embasamento jurídico, queríamos ser convencidos de que aquele era o caminho correto. Nós prezamos muito pela credibilidade. Tudo o que entra na nossa página é checado, já que há uma responsabilidade muito grande nas nossas mãos. Nós temos 1,5 milhão de seguidores na nossa página, nós levamos 6 milhões de pessoas às ruas, temos responsabilidade por isso.
Nós começamos então a trabalhar pelo impeachment, com seriedade. Nós fizemos um mapa do impeachment, que foi um importante marco na democracia brasileira. A história fará justiça a essa ferramenta, já que pela primeira vez nós pudemos ter uma ponte entre o eleitor e o candidato. No nosso sistema proporcional distanciou os políticos da população. Hoje nós vemos os jovens já incrédulos com os políticos, dizendo: “eles não nos representam”.E não representam mesmo. Fomos signatários do pedido que hoje está sendo julgado, porque acreditamos nele. Nosso futuro agora é trabalhar no restante dos pilares. Muitas vezes fomos taxados de grupo anti-Dilma, mas não é isso. Somos um grupo pró-Brasil.
Qual foi o papel da população na aprovação do pedido de impeachment pela Câmara e pelo Senado?
Foi decisivo. O brasileiro comum não sabe como ele pode influenciar. Na verdade, ele nem sabe que ele pode influenciar. O mapa do impeachment foi uma ponte e criou uma relação do eleitor com o parlamentar que ele nunca teve: quanto foi o crescimento patrimonial do deputado, onde ele foi votado, qual é o telefone, o e-mail, a página do Facebook. É só perguntar para qualquer deputado que ele vai dizer que a pressão popular pesou, e que ele tomou a decisão com base no pedido da população. Os argumentos eram reais, não como muitas vezes se tentou colocar, que era o time de lá contra o time de cá.Não é. Isso também fez com que eles se amedrontassem, que dissessem: “Eu estou sendo observado”. Por isso que esse foi um movimento democrático muito importante, colocamos uma lente de aumento na Câmara e no Senado.
O movimento volta para as ruas agora, depois da abertura do processo de impeachment, no dia 31 de julho. O foco da manifestação ainda é o impeachment?
Nós temos quatro pautas para o dia 31 - o apoio à Lava Jato, o apoio às Dez Medidas Contra a Corrupção, do Ministério Público, a prisão dos corruptos e o impeachment. Se eu pudesse dar uma frase: não é só pelo impeachment, é pelo Brasil. Este é o dia 31. Depois disso, vai ficar muito claro para a sociedade e para os políticos que nós não viemos aqui só para tirar a Dilma, porque a gente não gosta dela. Não é isso. A gente quer um Brasil melhor e não vamos parar agora.
Muitas críticas são feitas aos movimentos pró-impeachment em relação à falta de mobilização com os atos do governo interino Michel Temer. O movimento deve se manifestar em relação ao governo de Temer ou qualquer outro governo que venha a assumir?
Na verdade, não fomos nós que votamos no Temer. Nós não defendemos o Temer, nós defendemos a Constituição e ela diz que quem assume é o vice. Ele será criticado ou elogiado se atender às pautas que vem da rua. Exatamente da mesma maneira, com o mesmo nível de cobrança, porque nós não temos nenhum compromisso com nenhum político. Nós acreditamos que se eu estiver a serviço de algum partido, eu ficarei comprometido e o povo não é comprometido. O povo é uma força política que não pode ser ignorada. O Rodrigo Maia [presidente da Câmara dos Deputados] falou certa vez que o povo é o quinto poder. Ele está errado, nós somos o primeiro poder. Como essa força política, “o povo”, é que nós vamos continuar trabalhando, não embaixo do guarda-chuva de algum político ou de algum partido. Isso não quer dizer que a gente não fala com políticos, pelo contrário. A política é o caminho para todas as nossas conquistas. Eles devem fazer a parte deles e nós a nossa. Vamos continuar neste mesmo caminho, inclusive cobrando cada vez mais, de olhos bem abertos nas eleições municipais de 2016 para que haja essa renovação política que queremos.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada