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A investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) que levou à operação Águas Profundas identificou indícios de que parte dos recursos obtidos em fraudes nas licitações da Petrobras foi parar no caixa de campanha de um grupo de políticos fluminenses nas últimas eleições. As suspeitas apareceram durante a análise da quebra do sigilo fiscal das empresas usadas no esquema e do sigilo telefônico dos denunciados pelo MPF. O mesmo indício teria sido encontrado no caminho dos recursos captados por ONGs que tinham convênios com o governo do Rio e que fizeram contratos com empresas fantasmas.

Segundo a PF, os envolvidos nas fraudes foram flagrados em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Federal, detalhando como o dinheiro seria entregue aos políticos. Os candidatos beneficiados não foram revelados. A Justiça Federal também decretou a quebra do sigilo financeiro das ONGs. A análise do material está sendo feita por um grupo restrito do Núcleo de Investigações Especiais da PF do Rio.

Pelo menos quatro das seis empresas laranjas identificadas por procuradores e investigadores da PF têm ou tiveram sócios em comum. Um deles, Wilson Ribeiro Diniz, citado como laranja de Ruy Castanheira, aparece na composição das empresas, junto com Joaquim D'Almeida Ribeiro (que não está na lista de denunciados). Castanheira tem outras conexões com o Estado do Rio: foi diretor financeiro do Instituto Vital Brazil até abril de 2007. Segundo o MPF, o instituto repassou recursos para as ONGs contratadas pela Fundação Escola de Serviço Público (Fesp), do governo do Rio.

A prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que o contador doou R$ 50 mil ao deputado federal Carlos Santana (PT-RJ) e R$ 14.360 à deputada federal Solange Pereira de Almeida (PMDB-RJ). Um dos assessores de Santana estaria envolvido no esquema de fraudes na Petrobras. O deputado afirmou ontem que conversou com os 19 funcionários de seu gabinete — 13 no Rio e seis em Brasília — e nenhum deles foi procurado pela PF ou sofreu ação de busca e apreensão. Ele pediu informação ao Ministério da Justiça para saber quem seria o suspeito. Segundo o site do TSE, o estaleiro Mauá Jurong — que teve executivos presos na operação — doou R$ 180 mil para a campanha de quatro candidatos do PT a deputado federal. Três foram eleitos.

Segundo cálculos feitos pela PF, há suspeitas de movimentações financeiras de até R$ 7 milhões nas contas de laranjas e das empresas fantasmas administradas, teoricamente, por Castanheira. "

O procurador Carlos Alberto Aguiar vai pedir que o inquérito que corre na PF para investigar as operações feitas pelas empresas que fizeram doações ao PMDB, em 2006, seja anexado às investigações da Operação Águas Profundas. O MPF enviou esta semana ofício à Petrobras no curso de um outro procedimento administrativo, sobre convênios com repasses de R$ 31 milhões a entidades ligadas ao PT e ao MST e que fizeram campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o procurador do MPF Carlos Alberto Aguiar, as fraudes nas licitações começaram quando alguns funcionários da estatal passaram a negociar com a Angraporto Offshore Logística a venda de informações sigilosas sobre os contratos. As propinas eram pagas em dinheiro vivo e viagens para o exterior. O funcionário Carlos Alberto Feitosa, segundo o procurador, teria iniciado o esquema. Aguiar disse que dois funcionários da estatal também estão sendo investigados.Leia a íntegra desta reportagem na edição desta quinta-feira do Globo Digital.

Feitosa teria sido o responsável por todas as licitações da Petrobras vencidas pelo estaleiro Angra Porto. Uma testemunha ouvida nesta quinta-feira pela Polícia Federal confirmou que Feitosa recebia dos diretores do Angra Porto, envelopes de dinheiro para pagamento de propinas, com quantias que variavam de R$ 100 mil a R$ 200 mil, dependendo da operação realizada.Já a empresa Iesa, também envolvida no escandâlo, afirmou que a contratação do estaleiro Angra Porto era uma exigência da Petrobras, já prevista na carta-convite enviada às empresas convidadas a participar das licitações da estatal.

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