O Palácio do Planalto deflagrou estratégia para tentar esvaziar ao longo desta semana o caso envolvendo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. A avaliação interna é que, se conseguir desidratar o episódio envolvendo as consultorias de Pimentel antes do recesso de fim de ano, o caso estará encerrado. O GLOBO revelou que o ministro recebeu R$ 2 milhões em consultoria antes do governo Dilma.
A ordem do Planalto é barrar uma convocação do ministro para falar sobre caso no Senado. Para o governo, o risco de um depoimento é maior do que o desgaste para abafar uma convocação. Essa ação do governo tem o respaldo pessoal da presidente Dilma Rousseff. Segundo interlocutores, diferente dos outros episódios de queda de ministros, Dilma não emitiu sinais de substituição de Pimentel. Pelo contrário: a orientação é de que ele permanece na reforma ministerial.
Mas já há o reconhecimento interno de que ele ficará enfraquecido politicamente. De forma reservada, ministros admitem que, apesar das explicações, as denúncias criaram forte desgaste na imagem de Pimentel.
Nesta terça-feira, será votado o requerimento apresentado pelo líder do PSDB, senador Alvaro Dias, para convocação de Pimentel na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle. Mas, segundo um ministro, é melhor sofrer um pequeno desgaste para barrar a convocação, do que realimentar o noticiário com um depoimento considerado arriscado.
"Se ele não for, ficará muito mal para o governo. Até porque, os demais ministros que foram prestar esclarecimentos não eram do PT. A operação para barrar a convocação de Pimentel mostra que o governo está preocupado com as denúncias", ressaltou Alvaro Dias.
Se eles estivessem tranquilos, essa seria a melhor oportunidade para dar explicações. Ou esse dinheiro da consultoria é resultado de tráfico de influência ou, pior, é lavagem de dinheiro de caixa dois de campanha.
O PT também reforça essa estratégia de esvaziar o caso, apesar do constrangimento dos aliados, que viram pela primeira vez a presidente Dilma mudar de ideia e blindar o ministro de sua cota pessoal. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), descartou a possibilidade de aprovar uma convocação: até o momento, não há motivação que justifique a convocação do ministro Pimentel. Os fatos citados não dizem respeito ao governo federal. Ele não exercia função pública quando prestou consultoria. E as empresas citadas não têm relação com o Executivo. Se tiver que falar sobre isso, o local adequado não é o Congresso, mas a Câmara dos Vereadores (de Belo Horizonte).
Estratégia de proteger ministro já incomoda aliados
Para reforçar Pimentel internamente, Dilma tem dado demonstrações de apreço por ele e chegou a aconselhá-lo a resistir às acusações, algo que não fez com os ministros que caíram ao longo desse ano. Essa estratégia já incomoda os aliados, pois, até então, os ministros acusados de irregularidade eram pressionados pelo Planalto a prestar depoimento no Congresso.
Pelo jeito, a conta do PR foi muito alta se comparada com a crise envolvendo Pimentel - comenta o vice-líder do governo, deputado Luciano Castro (PR-RR), numa referência ao episódio que derrubou, em julho, o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento.
"O governo usou dois pesos e duas medidas. Pimentel tem que dar explicações. Se todo mundo foi, por que ele não vai? Se não for, vai ficar parecendo que esconde algo", disparou o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), numa comparação com o caso envolvendo o ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
"Houve critério na convocação dos ministros. Eles falaram sobre temas relacionados ao governo federal. Mas não há razão para chamar Pimentel para falar sobre temas anteriores ao governo Dilma. Não há movimento para poupar o PT e fragilizar os aliados", rebateu o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP).
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