O STF poderá investigar o deputado André Vargas, do PT-PR, sobre a relação dele com o doleiro Alberto Youssef| Foto: Antônio More / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Oposição representa contra André Vargas por quebra de decoro

PSDB, DEM e PPS protocolaram nesta segunda-feira (7) uma representação pedindo a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra André Vargas (PT-PR). O processo pode levar à cassação do parlamentar.

Na representação, os partidos da oposição pedem a abertura de processo no Conselho de Ética e pedem que o órgão convide o doleiro Alberto Yousseff a prestar depoimento. A investigação da PF afirma que o deputado teria auxiliado o doleiro em negociações do laboratório Labogen com o Ministério da Saúde. O PSOL protocolou uma representação na Corregedoria da Casa. A bancada pede a apuração das denúncias envolvendo a relação do petista.

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse que a apuração dos fatos acontecerá "sem qualquer preocupação político-partidária".

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Empresário diz que Youssef tinha contatos na Saúde

O empresário Leonardo Meirelles, dono da Indústria e Comércio de Medicamentos Labogen Química Ltda, revelou que o doleiro Alberto Youssef, o "Primo", alvo maior da Operação Lava Jato, "fazia contatos políticos para viabilizar reuniões entre representantes da empresa e o Ministério da Saúde"

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PT discutirá relação de Vargas com doleiro preso

O PT irá discutir em reunião na quinta-feira a relação entre o deputado federal e vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef, preso sob acusação de lavagem de dinheiro, remessa ilegal de dólar e financiamento ao tráfico de drogas.Segundo o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o partido trabalhará com a presunção da inocência, mas "não convalida esse tipo de relação, se é que ela existiu".

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A Justiça Federal do Paraná decidiu enviar nesta segunda-feira (7) ao Supremo Tribunal Federal (STF) todos os documentos dos autos da operação Lava-Jato da Polícia Federal, que ligam o doleiro Alberto Yousseff ao deputado André Vargas (PT-PR). Na condição de parlamentar, Vargas detém foro privilegiado perante o Supremo, ainda que agora tenha pedido licença do cargo por 60 dias. Caberá à Corte encaminhar o caso à Procuradoria Geral da República. A Procuradoria decidirá se pede ou não abertura de investigação contra Vargas. A Justiça considera que entre os diversos fatos investigados foram colhidos "em verdadeiro encontro fortuito de provas elementos probatórios que apontam para relação entre Yousseff e o deputado".

A decisão foi tomada pelo juiz Sérgio Fernando Moro após constatar "elementos probatórios" que apontam para relação entre Vargas e o doleiro Alberto Youssef. O deputado não é investigado na operação, mas diálogos e mensagens entre os dois foram encontrados durante as investigações. Moro determinou também que a Polícia Federal reúna, em uma investigação separada das provas colhidas na operação, os fatos que envolvem Vargas e o doleiro para que a relação entre os dois seja analisada pelo Supremo.

A Justiça avalia que ainda é prematura afirmação de que o relacionamento entre o doleiro e André Vargas "teria natureza criminosa". Mas, as frequentes citações a Vargas nos autos da Lava Jato já são suficientes para o deslocamento dessa etapa do caso para o Supremo. "Revendo os autos, constato que entre os diversos fatos investigados foram colhidos, em verdadeiro fortuito de provas, elementos probatórios que apontam para relação entre Alberto Youssef e André Vargas, deputado federal. Prematura a afirmação de que tal relação teria natureza criminosa", afirmou o juiz.

Apenas a parte relativa ao parlamentar seguirá para o STF. A investigação aponta para crimes de evasão de divisas, "corrupção de empregado público da Petrobras (Paulo Roberto da Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal)" e crimes de lavagem de dinheiro, até com produto do tráfico de drogas. Essa parte dos autos continuará aos cuidados da PF no Paraná.

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Deputado André Vargas pede afastamento da Câmara

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), pediu licença - tanto do mandato como da vice-presidência - e ficará afastado por 60 dias, sem receber o salário de R$ 26.723,13 e outros benefícios. Vargas, que fez o pedido na tarde desta segunda-feira (7), alegou "motivos pessoais" para a solicitação. O petista vem sendo questionado por sua relação com o doleiro Youssef. Apesar da licença, Vargas não perderá o cargo de vice-presidente da Câmara.

Novas mensagens de celular interceptadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato mostram que Vargas cobrou do doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba, a falta de pagamentos a "consultores". Em 19 de setembro de 2013, conforme o site da revista Veja informou, Vargas reclamou com o doleiro: "Sabe por que não pagam o Milton?", perguntou o deputado.

Em resposta, Youssef escreveu: "Calma, vai ser pago. Falei para você que iria cuidar disso". Mas André Vargas insistiu. "Consultores que trabalham com ele há meses e não receberam", teclou Vargas. O doleiro tentou tranquilizar o deputado: "Deixa que já vai receber", garantiu Youssef.

A troca de mensagens não permitiu a identificação da origem desses"consultores". A conversa é, segundo Veja, mais um indício recolhido pela Polícia Federal para reforçar uma suposta sociedade secreta entre o doleiro e vice-presidente da Câmara.

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Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Vargas usou um jatinho pago pelo doleiro para viajar em férias com a família à João Pessoa (PB). A viagem teria custado R$ 100 mil. Da tribuna da Câmara, Vargas pediu desculpas aos colegas e à família. E negou qualquer envolvimento em um contrato de R$ 150 milhões para fornecimento de remédios entre o laboratório Labogen e o Ministério da Saúde.

No fim da tarde, uma nota da assessoria de imprensa do deputado informou os motivos do afastamento. "Com a licença, ele (Vargas) pretende, antes de tudo, preservar a instituição da qual faz parte, a Câmara dos Deputados, enquanto prepara sua defesa diante do massacre midiático que está sofrendo, fruto de vazamento ilegal de informações. Importante ressaltar que André Vargas não é alvo de nenhuma investigação e não foi comunicado oficialmente acerca dos temas tratados pela imprensa."

A nota ainda explica: "a licença não interrompe prazos nem suspende quaisquer procedimentos que possam ser instaurados pela Câmara dos Deputados. O deputado segue à disposição dos órgãos competentes para prestar quaisquer esclarecimentos que se façam necessários. O deputado reafirma seu compromisso com sua história política e sua luta em defesa do povo paranaense e do Brasil, sempre."

Na semana passada, Vargas chegou a subir à tribuna do plenário para se explicar. Na ocasião, ele admitiu ter sido um "equívoco" a viagem que fez no jatinho. "Em relação ao avião, eu reconheço: fui imprudente. Foi um equívoco. Deveria ter exigido um contrato. Deveria ter quitado. E peço desculpas aqui por ter exposto a minha família. [...] Compareço aqui com serenidade, com o coração machucado, mas leve", disse o deputado na última quarta-feira. Mesmo estando ausente do mandato, o Conselho de Ética poderá aceitar a representação e abrir o procedimento de investigação. Se o conselho entender que Vargas cometeu atos ilegais, ele pode até perder o mandato. Nos bastidores, cogita-se que Vargas possa renunciar ao mandato antes do processo ser iniciado.