Jogo de empurra revela desorganização
A descoberta de que a Assembleia fez uma licitação para comprar aparelhos antiescutas e para bloquear telefones celulares revela a desorganização administrativa da Casa e a falta de transparência e de controle no gasto do dinheiro público. Ontem, o atual presidente da Assembleia, deputado Valdir Rossoni (PSDB), afirmou que nunca soube de licitação, feita em abril de 2010, para a compra de aparelhos de escuta e empurrou o problema para o ex-presidente Nelson Justus (DEM).
Foi na gestão de Justus que a licitação foi aberta e os equipamentos adquiridos por R$ 29,5 mil. Mesmo assim, segundo Rossoni, Justus lhe informou que também desconhecia a compra dos aparelhos. Justus ainda teria, segundo o tucano, empurrado o problema para a gestão passada. "O Justus me disse que antigamente o Hermas Brandão [presidente que antecedeu Justus na Casa] teria instalado um bloqueador [de celular]. Agora apareceram notas do ano passado. Uma coisa um pouco estranha. Melhor é perguntar para eles", disse Rossoni. Hermas rebateu o que Justus teria dito a Rossoni. "Não tenho absolutamente nada a ver com isso", disse ele. "Nunca comprei nem mandei comprar equipamento nenhum."
A reportagem buscou ouvir a versão de Justus e solicitou entrevista e esclarecimentos à assessoria dele. Mas não houve retorno. Procurado ontem no plenário, Justus não atendeu à imprensa e se retirou antes de terminar a sessão.
Já o deputado Alexandre Curi (PMDB), que foi primeiro-secretário na gestão passada e era responsável pela gestão administrativa da Casa, informou que sabia da licitação porque foi ele quem autorizou o pagamento para a compra dos equipamentos. Curi disse não haver qualquer irregularidade no processo licitatório. E defendeu a continuidade da CPI da Escuta. "Se existe duvida da atual Mesa [Executiva] sobre este ato, deve ser investigado e esclarecido."
Ele ainda disse não ver qualquer anormalidade na compra dos aparelhos para bloquear sinal de celular porque estes existiriam em outras Assembleias e órgãos públicos. Curi explicou que o pedido para a compra dos aparelhos de escuta foi feito pelo ex-coordenador técnico da Casa Francisco Ricardo Neto. Esse servidor seria o responsável pelo recebimento e instalação do equipamento.
"A solicitação foi feita pelo ex-diretor para dar privacidade e atender a algumas reclamações de deputados sobre o incômodo da utilização dos celulares durante as reuniões [do comando da Casa]", disse Curi. Ricardo Neto confirmou o recebimento dos equipamentos e a instalação deles na antessala da primeira-secretaria e na sala de reuniões da presidência.
Sobre o fato de não comunicar a nova presidência da Assembleia sobre a licitação, Curi afirmou que, no início do mês, quando os aparelhos foram encontrados, ele estava de licença por causa do nascimento dos filhos gêmeos. Segundo ele, depois de tomar ciência do processo licitatório com Ricardo Neto, comunicou o deputado Marcelo Rangel, que preside a CPI, sobre a compra do sistema antiescuta.
Ninguém soube informar, porém, onde estão tais aparelhos, já que eles não foram encontrados na varredura.
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