O juiz da 3ª Vara Criminal em Londrina, Juliano Nanúncio, ouviu os depoimentos de sete testemunhas no processo que investiga fraude em licitação para contratar a oficina Providence, em Cambé, para a manutenção de viaturas de órgãos do governo do estado.
Em dezembro de 2014, a empresa venceu a licitação para um contrato emergencial de R$ 1,5 milhão para realizar o serviço por seis meses. A empresa conseguiu o contrato porque apresentou orçamento mais barato que outras duas oficinas, mas, segundo o Ministério Público, os orçamentos foram forjados para favorecer a Providence.
Na quarta-feira (18), na primeira audiência do processo, um dos sócios da Automotor Centro Automotivo, Osvaldo Lopes, declarou que nunca apresentou proposta orçamentária para firmar contrato com o governo estadual. “A proposta não é da nossa empresa.” Segundo Lopes, o policial militar Ricardo Batista – que era seu amigo – colheu a assinatura dele, alegando que o orçamento seria usado para o encaminhamento de viaturas “baixadas” para Curitiba. De acordo com a testemunha, a alegação do policial militar era que a operação seria necessária para mostrar que a viatura era inservível e que a reforma custaria mais que o próprio veículo.
O dono da Daniel Car Londrina, Daniel Passos, também reforçou as informações colhidas durante as investigações. O empresário, que já trabalhou com Ismar Ieger em uma concessionária em Londrina e na própria Providence – registrada em nome de Ieger – afirmou que assinou a proposta de orçamento a pedido dele sem saber do que se tratava. “Era muito amigo, a gente jogava bola no fim de semana, eu nunca imaginava que iria acontecer isso daí [o processo]”. O Ministério Público acredita que os dois empresários não agiram de má-fé.
Segundo a denúncia do MP, o dono de fato da Providence seria Luiz Abi Antoun, parente do governador Beto Richa. O empresário Roberto Tsuneda, dono da KLM, empresa separada por um barracão da Providence, seria o emissário financeiro de Abi e teria entre suas atribuições o pagamento de contas da Providence Auto Center.
Em depoimento, a funcionária responsável pelo setor de cobrança da empresa Araguaia Turbo Diesel, Juliana André, declarou que Tsuneda foi à loja para quitar débitos em nome de Ismar Ieger. “Ele perguntou o que estava em aberto da empresa e se propôs a pagar.” A testemunha afirmou que o débito era de R$ 4,6 mil e a dívida já havia sido protestada em cartório. Ainda segundo o depoimento, logo após a ida de Tsuneda à loja, a dívida foi quitada no cartório.
Outro ouvido foi o administrador José Wilson de Souza, contratado para fazer um levantamento das finanças da Providence em janeiro deste ano. Souza afirmou que a contratação foi intermediada pelo advogado José Carlos Lucca e que todos os dados sobre os pagamentos realizados pela Providence eram fornecidos por Tsuneda. Souza disse também que a KLM custeou despesas da reforma e da compra de equipamentos da Providence. Segundo o administrador, Lucca dizia que trabalhava para “o Tsuneda e o Luiz”. O administrador não soube dizer se Luiz seria Luiz Abi.
A promotora do caso classificou como “excelentes” os depoimentos das testemunhas de acusação. “Houve a confirmação praticamente integral de todos os fatos que foram imputados, inclusive confirmando detalhes que estão nos autos”, declarou Leila Shimiti.
Audiências continuam
Nesta quinta (19), devem ser ouvidas outras sete testemunhas de acusação e iniciada a fase de depoimentos das testemunhas indicadas pelos advogados de defesa. Na sexta (20), o juiz da 3ª Vara Criminal deve continuar a ouvir as testemunhas de defesa.
A expectativa do juiz da 3ª Vara Criminal em Londrina, Juliano Nanúncio, é que na próxima segunda-feira já será possível interrogar os acusados de Londrina. Nesta lista estão Ismar Ieger, Roberto Tsuneda, Luiz Abi Antoun e José Carlos de Lucca. Os réus que não são de Londrina serão interrogados nas cidades deles por carta precatória. Ainda não foram marcados os depoimentos do ex-diretor do Departamento de Transporte Oficial (Deto) Ernani Delicato e do empresário Paulo Roberto Midauar. Delicato deve depor em Curitiba e Midauar, em Bandeirantes.
Os advogados dos acusados não quiseram falar com a imprensa.
Recursos suspenderam ação
A ação chegou a ser suspensa em caráter liminar pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná. O órgão havia acolhido o recurso da defesa de Luiz Abi Antoun, que sustentava que a ação deveria ser remetida ao TJ-PR porque a secretária estadual de Administração e Previdência, Dinorah Nogara, – que tem direito a foro privilegiado e não poderia ser investigada pelo Gaeco –, havia sido citada nas investigações. Em outubro, o mesmo órgão revogou a decisão e as audiências de julgamentos puderam ser remarcadas.