Para formar sua base aliada e montar o novo governo, o presidente interino Michel Temer teve de escolher entre agradar a população ou o Congresso. Ficou com o segundo.
Assim, criou ao menos dois grandes obstáculos para conquistar a confiança dos brasileiros: as nomeações de investigados pela Operação Lava Jato e a acusação de fisiologismo ao distribuir ministérios e cargos entre partidos que até há pouco tempo faziam parte do governo Dilma Rousseff.
Temer tem dito que apoia integralmente a Lava Jato, embora ele próprio tenha sido citado nas investigações e alguns de seus principais ministros – como Romero Jucá e Geddel Viera Lima – sejam suspeitos de participar do esquema de corrupção investigado pela operação. Além disso, o PMDB, sigla de Temer, é um dos partidos mais envolvidos nos desvios de recursos da Petrobras, juntamente com o PP e o PT.
Oficialmente, o discurso é de que a suspeita que paira sobre alguém não é uma condenação e não deve impedir sua nomeação. Mas aliados do presidente admitem que isso cria desconfiança na população. “É difícil [para as pessoas compreenderem]”, diz Rodrigo Rocha Loures, assessor direto de Temer. “Mas cada um responderá por seus atos. E, se houver evidências novas de que qualquer integrante do governo não pode ocupar cargo público, será afastado.”
Na cerimônia em que falou pela primeira vez como presidente interino, Temer citou rapidamente a Lava Jato. E prometeu que não vai interferir no andamento das investigações. “A Operação Lava Jato tornou-se referência e, como tal, deve ter seguimento e proteção contra qualquer interferência que possa enfraquecê-la”, disse.
Sem demagogia
Já o loteamento de cargos e ministérios assegurou a Temer uma ampla maioria no Congresso, com o apoio de pelo menos 367 dos 513 deputados e de 56 dos 81 senadores, nas estimativas de aliados do novo presidente. Por outro lado, a partilha do governo interino deixou a impressão de que a nova gestão não é muito diferente da administração de Dilma.
Rocha Loures, porém, acredita que Temer vai conquistar o apoio da opinião pública falando a verdade para a população: é preciso negociar com a classe política e o Congresso para aprovar as medidas que vão garantir a retomada do crescimento econômico. “A realidade é que precisamos discutir com o Congresso. Não é possível agir demagogicamente com a atual situação do país.”
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