Uma maleta de espionagem se transformou no centro das atenções da CPI dos Grampos, que vai ouvir o ministro da Defesa. Os deputados querem saber por que a agência de inteligência do governo comprou um equipamento que pode ser usado para bisbilhotar a vida alheia sem autorização judicial.
José Milton Campana, que era o número dois na hierarquia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), confirmou a compra dos equipamentos, mas que não servem para fazer grampo: "A Abin realmente comprou equipamento para a realização de varreduras".
O equipamento da Abin foi adquirido por meio de uma compra feita pelo comando do Exército em 2005, nos Estados Unidos. O aparelho serve para identificar a existência de grampos e custou cerca de R$ 60 mil. Até aí, nada demais.
A Abin pode ter um equipamento anti-grampo, mas esse aparelho, se adaptado, pode ser usado para grampear telefones, o que seria ilegal. Não cabe a Abin fazer escutas telefônicas.
O equipamento, que fica em uma maleta, é um pequeno computador com uma antena. O computador rastreia os sinais emitidos por antenas de celular das operadoras e, captado o sinal, ele identifica a freqüência do celular. A máquina decodifica o sinal e passa a gravar os diálogos.
Na sessão desta quarta-feira, a CPI aprovou a convocação do diretor da Polícia Federal Luis Fernando Corrêa, do diretor afastado da Abin Paulo Lacerda e do ministro da Defesa Nelson Jobim.
Foi Jobim quem revelou, em uma reunião com o presidente Lula, que a Abin tinha um equipamento que poderia ser usado para bisbilhotar conversas alheias. Os deputados querem um esclarecimento do ministro da Defesa.
"O esclarecimento é se a Abin tem ou não o equipamento para escutar o monitoramento telefônico", disse o deputado Gustavo Fruet, do PSDB do Paraná.
"O documento do ministro Jobim é muito importante para esclarecer. Ou ele está falando a verdade ou ele vai ter que explicar o que ele declarou", alegou o deputado Domingos Dutra, do PT do Maranhão.
O ministro da Defesa não comentou a convocação da CPI dos Grampos.