Parlamentares da CPI dos Correios suspeitam de combinação nas últimas declarações do empresário Marcos Valério e do ex-Tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Ao longo da última semana surgiram rumores de que os dois teriam se encontrado, mas nada foi confirmado.
Segundo o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), nos dois casos a origem do dinheiro é atribuída a empréstimos bancários. "Essa história é fruto de ação combinada entre Marcos Valério e Delúbio Soares para justificar a origem e o destino do dinheiro. Isso me lembra muito a Operação Uruguai do Collor", disse ACM Neto.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) também vê similaridades entre as ações. "São muitas as coincidências com a Operação Uruguai". O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, é mais cauteloso. "É preciso saber como essas operações foram feitas, que garantias foram dadas".
O objetivo da versão contada por Marcos Valério, na opinião do deputado ACM Neto, é tentar provar para a CPI que não houve corrupção, nem desvio de recursos públicos, que o publicitário não negociava os empresários em nome do PT e não existia o chamado "mensalão". "Vamos fazer uma avaliação minuciosa de toda a movimentação e mostrar se houve lavagem de dinheiro para pagar o mensalão", disse ACM Neto.
Antes de marcar a data do novo depoimento de Marcos Valério na CPI, os parlamentares pretendem ouvir Delúbio e Silvio Pereira, ex-secretário do PT, e confrontar as declarações. "Vamos checar quem sacou o dinheiro", disse o relator do CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Serraglio afirmou ainda que a comissão poderá denunciar candidatos petistas por falsidade ideológica, se forem confirmados os termos do depoimento de Delúbio Soares à Procuradoria-Geral da República. "Se ele admitiu isso, admitiu que os candidatos do PT cometeram crime. O efeito eleitoral já prescreveu, mas ainda há crime", disse Serraglio, antes de ser informado de que pelo menos mais seis partidos estariam no esquema, segundo o depoimento de Delúbio.
ACM Neto também afirmou que os candidatos do PT podem ser envolvidos. "Se Delúbio afirmou isso, vai comprometer todos candidatos do PT. A CPI terá que pedir uma auditoria nas contas do PT, porque isso é crime e todos terão que responder".
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) disse que há pontos obscuros na versão contada por Marcos Valério e que precisam ser esclarecidos pela CPI. Para ele, o depoimento do publicitário só deve ser marcado depois que forem esclarecidas algumas questões, como quantos empréstimos foram feitos para o PT, qual o valor repassado e quem recebeu o dinheiro.
"Enquanto não respondermos estas perguntas, haverá muita névoa sobre os fatos e não adiantará tomar novo depoimento de Marcos Valério. Ele poderá se esquivar ou mentir como fez da primeira vez", disse Cardozo, que considera fundamental analisar os documentos antes de ouvir o publicitário novamente. "Precisamos dos dados para dar um xeque-mate nele".
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), por sua vez, disse que o publicitário Marcos Valério "só mentiu" à CPI dos Correios e que deverá voltar, provavelmente em agosto, para novo depoimento. Mas Eduardo explica que agora o objetivo é ouvir o depoimento de Delúbio Soares. Para o deputado, é preciso ver como foram feitos esses empréstimos.
Para os parlamentares, a acareação entre Marcos Valério e Delúbio só deve ser decidida após uma comparação do seu depoimento com os de Delúbio e Sílvio Pereira, marcados para quarta-feira. Ontem, o relator da CPI dos Correios sustentou a tese defendida por Fruet, de que a CPI deve pedir a prisão preventiva de Marcos Valério.
"Ele está destruindo provas e o hábeas-corpus da Justiça era somente para o depoimento", disse Serraglio, referindo-se a documentos da DNA queimados em Belo Horizonte.
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