Um relatório da Polícia Federal (PF) que analisou mensagens de telefone do ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e do engenheiro Paulo Gordilho reforça indícios de que obras no Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e no tríplex do Edifício Solaris, no Guarujá, foram realizadas pela empreiteira sob orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia, inclusive com o pedido de construção de uma ‘igrejinha’ na propriedade rural. Para a Operação Lava Jato, o imóveis são bens ocultos de Lula - sua defesa nega taxativamente.
“Importante ressaltar que em uma das conversas, Paulo Gordilho (engenheiro da OAS) ao ser questionado por sua filha quando iria visitá-la responde negativamente pois de acordo com próprio Paulo Gordilho ‘estão inventando mais coisa’, logo após menciona que seria construção de uma ‘igrejinha’ que ainda faria projeto da mesma”, registra relatório de análise 329/2016, da PF de Curitiba, base da Lava Jato.
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Leia a matéria completaO documento foi anexado nesta quarta-feira (24) ao inquérito que apura supostas reformas realizadas pela OAS no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá, que para a força-tarefa da Lava Jato pertencem a Lula e receberam benfeitorias de empresas acusadas de cartel e corrupção na Petrobras.
“Em troca de mensagens com sua filha, Isnaia, Paulo Gordilho corrobora, além de sua atuação em obras no sítio em Atibaia/SP, sua relação com empresa Kitchens, empresa esta qual teria sido responsável pela fabricação montagem da cozinha instalada no referido local”, destaca a análise da PF.
No mesmo diálogo via mensagens de celular, Gordilho “conta que seu trabalho em Atibaia está ficando pronto, referindo-se montagem da cozinha Kitchens ao conserto do lago também no sítio”. Em outro diálogo do engenheiro, ele afirma que costuma ir “2 vezes por semana” ao sítio, ao ser indagado sobre a frequência de suas idas a Atibaia.
Nesta semana, a Procuradoria Geral da República (PGR) encerrou negociações preliminares com os executivos da OAS, após um suposto anexo que citava o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter sido publicada pela revista Veja.
Em mensagens entre Gordilho e Léo Pinheiro, a PF também identificou que o conteúdo sugere que “Lula possuía influência importante nas obras no sítio em Atibaia” e faz menção ao projeto da “capela”.
“Léo Pinheiro questiona Paulo Gordilho se ‘o outro tema está indo bem’, fazendo referência aos trabalhos de Paulo Gordilho em Atibaia. Mais adiante, Paulo Gordilho relata que ‘nosso tema pediu pra fazer uma capela’, conteúdo este que coincide com tema das mensagens trocadas via WhatsApp entre Paulo Gordilho sua filha, Isnaia Gordilho”, registra o documento ao resumir o diálogo.
“Teor desses diálogos indica que ex-presidente Lula possuía influência importante nas obras no sítio em Atibaia, fato que causa estranheza, pois, até momento, as declarações são no sentido de que Lula não seria proprietário do imóvel.”
“Léo nosso tema pediu pra fazer uma capela numa parte alta. Pra 7 a 8 pessoas. Faço?”, questiona Gordilho. “Cozinha ficou beleza gostaram muito. Ok. Vou começar lagoa impermeabilização.”
Para a PF, “Gordilho também relata acerca da reforma no lago, também localizado no referido sítio, dizendo Léo Pinheiro sobre cada etapa da obra sobre finalização da cozinha, mencionando ainda que ‘gostaram muito’, fazendo referência, possivelmente, ao casal Lula Marisa Letícia”.
Encontros
Na análise das mensagens, estão registrados supostos encontros de Gordilho, Léo Pinheiro e a família Lula. Numa delas, o engenheiro da OAS conta para a filha “sobre um encontro a ser realizado em Atibaia “na fazenda de Lula’ no qual estarão presentes ele, Léo Pinheiro, Lula, dona Mariza, esposa de Lula, para tratarem de assuntos de arquitetura relacionados ‘a casa na lagoa que está vazando’“.
“Vale destacar também que Paulo Gordilho tem demasiada preocupação com sigilo do encontro, pedindo sua filha ‘sigilo absoluto’ do mesmo.”
“As mensagens demonstram atuação de Paulo Gordilho, consequentemente da Construtora OAS, em obras realizadas no sítio em Atibaia/SP, indicando ainda ciência por parte do ex-presidente Lula acerca do assunto, pois em certo trecho da conversa Paulo Gordilho escreve “Ele quer uma coisa Mariza (sic) quer outra lá vai eu Léo dar opinião”, além de citar encontro entre os mesmos.”
Defesa
O advogado José Roberto Batochio, que coordena a estratégia de defesa do ex-presidente Lula, afirma que a Justiça Federal no Paraná, base da Lava Jato, não detém competência para conduzir os feitos relativos ao petista.
“A defesa de Lula arguiu a incompetência do juiz do Paraná para apreciar e julgar estes casos que envolvem o apartamento do Guarujá, o sítio de Atibaia e o Instituto Lula por uma razão muito simples.”
“A lei diz que o juiz competente para julgar os fatos é o juiz do local onde os fatos teriam ocorrido. O apartamento que, indevidamente, é apontado como de propriedade de Lula, fica no Guarujá, que não se confunde com Guaratuba. Guaratuba fica no estado do Paraná. De outro lado, o sítio se situa em Atibaia, que é estado de São Paulo. Atibaia não é Atalaia, uma cidade do Paraná.”
“Não há nenhuma razão para esses processos estarem no Paraná. Como questionamos isso, que o caso não tem nada a ver com o Paraná, o Ministério Público Federal, para contestar nossa exceção de incompetência, escreve setenta páginas. Só pelo fato de ter escrito setenta páginas significa que a tese é insustentável. Guarujá é, de fato, no estado de São Paulo. E Atibaia é, de fato, no estado de São Paulo. Guarujá e Atibaia não são no Paraná.”
“Para ‘provar’ que Guarujá e Atibaia estão no Paraná, os procuradores escrevem setenta páginas.”
“Isso vai ser resolvido pelos tribunais superiores, de modo a colocar as coisas nos devidos lugares. A não ser que tenham mudado Guarujá e Atibaia para o estado do Paraná.”
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