A principal diferença entre os planos de FHC e o de Lula – a investigação de abusos cometidos por militares durante a ditadura – deve ser um dos pontos a serem revistos pelo Palácio do Planalto. Mas, para os militantes de direitos humanos, qualquer mudança seria um retrocesso e abriria brechas para barrar as investigações dos abusos cometidos nos "anos de chumbo".

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Muitos militares chamaram o plano de "vingança" ou "revanchismo". Para eles, se forem feitas investigações sobre os atos cometidos durante a ditadura, elas devem incluir também as ações de grupos de esquerda que se formaram na época.

"Queremos investigar o que foi mascarado. O resto a sociedade já sabe", rebate o coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH-PR), Luiz Antonio Tannous. "As atividades das pessoas que se insurgiram na época já são conhecidas, tanto que elas foram punidas, torturadas, mortas ou exiladas."

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Para Vera Chueiri, professora de Direito Constitucional da UFPR, transformar vítimas em algozes "é mais do que uma bobagem, é um absurdo". "As pessoas não se organizaram em grupos na época da ditadura por simples convicção, mas sim para combater uma situação que era insuportável." Ela defende o plano de Lula e a criação da Comissão da Verdade. "O que o governo está fazendo é simplesmente concretizar algo que há muito vinha sendo discutido – e que países como Argentina e Chile já fizeram. É preciso garantir o direito à verdade e à memória." Na avaliação dela, se ocorrerem pe­­quenas alterações no texto, o princípio do plano ainda pode ser mantido. Mas, para Tannous, a modificação no texto pode tirar o foco da investigação principal.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, responsável pelo programa, disse que pretende deixar o governo caso o capítulo que fala sobre a Comissão da Verdade passe por alterações substanciais. Mas ele se mostrou disposto a negociar ou­­­tros pontos. (RF, com Agência Estado)

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