Conheça alguns dos personagens da campanha das Diretas Já| Foto:
Dante de Oliveira, o autor da emenda da eleição direta para presidente
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Os meses de comícios em defesa da escolha do presidente pelo voto e o apoio popular à proposta valeram pouco no dia 25 de abril de 1984 – data da votação, na Câmara dos Deputados, da emenda constitucional que previa a eleição direta, de autoria de Dante de Oliveira (PMDB-MT). Como se tratava de uma proposta de alteração da Constituição da época, o projeto necessitava de 320 votos dos parlamentares para ser aprovado, o equivalente a dois terços da Câmara. Mas recebeu apenas 298. Sessenta e cinco deputados votaram contra a proposta, três se abstiveram e 113 não compareceram à votação.

"Naquele dia, os militares cercaram o Congresso. Era um clima ameaçador. Havia uma pressão muito grande contra a emenda", conta o senador Pedro Simon (PMDB-RS), líder do PMDB na Câmara dos Deputados na época da votação.

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Apesar de decepcionante, o resultado da votação no Congresso já era esperado no meio político. "Claro que nós tínhamos uma pequena esperança de ganhar, mas o partido do governo (o PDS) era muito forte no plenário", conta Alceni Guerra, secretário de Planejamento de Curitiba, na época deputado federal pelo PDS. Alceni foi um dos 13 deputados do partido governista que votaram a favor da emenda. "Lembro que, no dia de votação, o deputado Saulo Queiroz, do Mato Grosso do Sul, que era muito bom em contas, em avaliar a votação, me disse: ‘não vai dar’. E, realmente, não deu."

A assistente social curitibana Elza Campos, que em 1984 fazia parte do movimento sindical, lembra do sentimento da população naquele dia. "Nossa reação, quando saiu o resultado, foi de desgosto. Éramos milhares de pessoas em todo o país clamando por liberdade e veio aquela bomba, um balde de água fria", conta Elza.

Embora a campanha pelas eleições diretas não tenha conquistado seu objetivo imediato, políticos que participaram do movimento dizem que foi graças a ela que Tancredo Neves acabou sendo eleito presidente da República, em janeiro de 1985, na eleição indireta do colégio eleitoral. Isso marcou a redemocratização do país.

"Claro que valeu a pena. Depois do movimento das Diretas, o povo continuou na rua, pela candidatura do dr. Tancredo e pela Constituinte", afirma o senador Pedro Simon. Uma nova Constituição foi promulgada em 1988 e, em 1989, o país votou para presidente. "Se não fosse essa mobilização da população, talvez tivéssemos partido para uma luta armada ou teríamos demorado muito mais para ver restabelecida a democracia no país", diz Simon.

Já na avaliação da historiadora Marion Brepohl, da UFPR, a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral não teve relação direta com as Diretas Já. "Não é possível dizer que a eleição de Tancredo foi resultado da campanha. Isso já estava acertado entre os políticos e os militares. Tancredo era mais palatável para os militares. Mas o movimento não foi em vão. A ditadura não caiu porque os militares estavam cansados, mas porque havia uma pressão popular muito grande para o fim do regime."

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