Com a perspectiva do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) retomou a arregimentação de pessoal nas periferias para engrossar suas bases no campo. O objetivo é reforçar os quadros para enfrentar a “direita golpista”, como é chamado o possível governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Num primeiro momento, o MST vai participar com centrais sindicais e outros movimentos populares da paralisação prevista para o dia 10, véspera da votação do impeachment no Senado.
Líderes do MST consideram que os 13 anos de governo do PT deixaram a militância “enferrujada”, além de terem contribuído, com programas sociais como o Bolsa Família, para esvaziar os acampamentos em todo o país. De acordo com o dirigente nacional do MST Gilmar Mauro, o movimento se prepara para “novas batalhas” em caso de vitória do impeachment. “Não vamos aceitar um governo sem legitimidade. À medida que a classe trabalhadora se der conta de qual é o projeto do possível governo Temer, a tendência é o processo de mobilização aumentar cada vez mais”, afirmou.
Acampamentos reforçados
Em vários estados os acampamentos começaram a ser reforçados. Na manhã do domingo (1º), um comboio de caminhões e carros ocupou longa faixa do acostamento da BR-261, entre Campo Grande e Terenos, em Mato Grosso do Sul, desembarcando dezenas de famílias recrutadas na periferia da capital. Os recém-chegados engrossaram o Assentamento Olga Benário. No mesmo dia, integrantes do movimento instalaram um novo acampamento às margens da BR-163, entre Naviraí e Itaquiraí, no sul do estado. Os barracos foram erguidos numa área invadida pelos militantes.
Na segunda-feira (2), no Pontal do Paranapanema, oeste do estado de São Paulo, integrantes do MST invadiram as fazendas Nazaré, em Marabá Paulista, e Santa Cruz, em Mirante do Paranapanema. Parte dos grupos que ergueram barracos nas áreas ocupadas era composta por desempregados e moradores de rua recrutados nas periferias de Presidente Prudente e Presidente Venceslau. Sob um extenso barraco de lona, os novatos ouviram dos coordenadores uma exposição sobre o atual momento político, com a “sabotagem” do governo Dilma e a “direita assumindo com Temer” para acabar com as conquistas sociais. “Nós vamos dar trégua a eles? Não, nós vamos lutar, marchar, ocupar!”, apregoavam.
De acordo com Márcio Barreto, da direção estadual, além da mobilização pela reforma agrária, o movimento faz um trabalho de conscientização política. “Mostramos o que foi o governo Fernando Henrique e o que fez o governo Lula para os movimentos sociais”, disse, acrescentando que, no primeiro, houve preocupação em investigar os movimentos, enquanto se “encobria” a corrupção. Segundo Barreto, o MST tem mil famílias acampadas no Pontal, “mas o número de famílias aptas a se cadastrarem no programa de reforma agrária é muito maior”.
A crise política levou o MST a buscar uma reaproximação com grupos dissidentes, como o Movimento Social de Luta (MSL), que atua principalmente em Goiás, no entorno do Distrito Federal e na região de Bauru, interior de São Paulo. De acordo com o líder do MSL, Luciano de Lima, o risco da “volta da direita” ao poder está unindo os movimentos. “Fomos procurados pelo pessoal do MST e estamos juntos na luta contra o golpe.”
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