Os cerca de mil agricultores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) não sairão da Rua Doutor Faivre, em frente ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), enquanto não tiverem respostas do governo federal sobre, basicamente, três reivindicações: ter definido um plano emergencial para cerca de 10 mil famílias acampadas há anos no Paraná, um programa para melhorar a estrutura técnica da agricultura das famílias assentadas (há cerca de 20 mil famílias assentadas no estado) e a definição de um superintendente técnico para a direção da superintendência regional.
Os acampados, que chegaram na manhã desta quarta-feira (8), também criticam o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
- Integrantes do MTST ocupam prefeitura e conseguem reunião com Fruet
- Temer transfere reforma agrária para a Casa Civil; MST anuncia mobilização
- Despejo de área ocupada vai colocar 800 famílias nas ruas
- Em reunião “de pacificação”, MST e Richa retomam planos de reforma agrária
A manifestação faz parte da Mobilização Nacional do Campo e da Cidade programada pelo MST, mas a chegada dos agricultores coincidiu com a exoneração do superintendente regional do Incra no Paraná nesta terça-feira (7) Nilton Bezerra Guedes. O medo dos trabalhadores é que o Incra passe por um processo de sucateamento.
“Se já temos necessidades com o Incra, imagine se ele for sucateado. Esperamos que o cargo não sirva para loteamento político”, disse o representante da direção nacional do MST, que está em Curitiba, Diego Moreira.
Ao lado dos agricultores, a Associação dos Servidores do Incra também manifestou receio da possibilidade de a instituição ser usada politicamente apenas. Segundo o representante da entidade, Luciano Guimarães, é fundamental que o próximo superintendente regional seja servidor do órgão, conforme determina o decreto presidencial nº 3.135/1999. “Ainda não sabemos o motivo da saída do Guedes”, afirmou Guimarães.
Acampados
Entre os agricultores que ocupam a Rua Doutor Faivre estão acampados e assentados de várias regiões do Paraná. Há idosos, homens e mulheres várias crianças. Gente que trabalha no campo há muitos anos e busca um espaço para sobreviver. A ocupação tomou uma quadra inteira entre a Avenida Sete de Setembro e a Avenida Visconde de Guarapuava.
Durante todo dia desta quarta-feira, os acampados trabalharam rapidamente para construir um galpão de lona na extensão da quadra, esperando o frio de zero grau que chegará na próxima madrugada.
Joel Zanatto, 63 anos, nasceu em Coronel Vivida, Sudoeste do Paraná. Enrolado no cobertor, tímido, estava sentado em frente ao Incra, na calçada da rua, aguardando uma resposta. Chegou de ônibus a Curitiba, como a maioria de seus companheiros. Há alguns anos deixou sua cidade natal para ir até Porecatu, região Norte do estado, com a esperança de ter uma terra para plantar e sobreviver.
Não conseguiu uma propriedade própria. Mas está acampado, onde consegue plantar, a muito custo, feijão, milho e abóbora. Seus produtos são vendidos em estabelecimentos comerciais daquela região. “Desde criança trabalho na roça. Meus pais até hoje estão tentado também uma terra própria”, disse.
Já Delfino José Becker, 53 anos, tem jeito mais despachado, distante da timidez de Zanatto. Logo fala que ficou indignado ao ser maltratado quando os trabalhadores ocuparam a rua. “Quando chegamos, perguntaram se a gente não tem mais o que fazer? Nós temos. Eu planto arroz e forneço para merenda das crianças de escolas em Curitiba. Mas estou aqui por todos, porque precisamos melhorar”, disse.
Ele nasceu em Capitão Leônicas Marques, também sudoeste do estado e está assentado em Querência do Norte. “Estamos com expectativa que pode cair tudo, perder o Incra, piorar situação dos acampamento e assentamento”, ressaltou.
-
Lula usa alta do dólar para antecipar jogo eleitoral e minimizar o rombo fiscal
-
A disparada do dólar não tem nada de anormal
-
Apadrinhados por Bolsonaro e Caiado, dois candidatos de direita devem disputar 1º turno em Goiânia
-
Reino Unido realiza eleição com trabalhistas favoritos e direita nacionalista ameaçando conservadores