Ele queria seguir carreira como treinador de futebol, longe da sombra do pai. O sucesso profissional veio por outro caminho. Aos 30 anos, Luis Claudio Lula da Silva comanda uma liga de futebol americano, cujo êxito financeiro é atribuído a sua filiação ilustre.
Caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele viu seu nome envolvido nas investigações da Operação Zelotes na semana passada, quando a Polícia Federal cumpriu mandado de busca em suas empresas de marketing esportivo, nos Jardins, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo.
Formado em Educação Física, o filho caçula de Lula já havia trabalhado nos outros três grandes times de São Paulo antes de chegar, em 2009, à equipe do coração do pai: o Corinthians. Colegas de trabalho o descreveram como uma pessoa discreta e com vontade de aprender com os mais experientes. Embora nunca tenha negado de quem era filho, não gostava de ser chamado de Lulinha, apelido usado por seu irmão mais velho, Fábio Luís.
“Ele nunca teve nenhuma regalia por ser filho do Lula. Tinha muito jogador que nem sabia quem era o pai dele”, disse um preparador físico.
Em 2010, iniciou uma agitada vida de empresário. Montou uma firma de marketing esportivo com dois sócios. Associou-se ao irmão, Fábio Luís, para criar uma holding, que durou seis meses.
A empresa dos irmãos Lula da Silva funcionou no mesmo escritório do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e acusado pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, de ter recebido R$ 2 milhões como comissão adiantada de um negócio da Petrobras.
As coisas começaram a mudar em 2011, quando juntou-se ao locutor esportivo André José Adler, morto em 2012, na organização de uma liga de futebol americano independente da confederação nacional do esporte.
“Como se pode esperar, com o pai dele sendo polêmico como é, o mundo de futebol americano se dividiu de vez em duas facções”, afirmou Mário Lewandowski, que cuidava do marketing da Confederação Brasileira de Futebol Americano.
Batizado de Torneio Touchdown, o campeonato comandado pelo filho de Lula cresceu mais do que a competição oficial. Hoje, tem 16 times, alguns ligados a equipes de futebol, como o Corinthians Steamrollers e o Flamengo FA.
Lewandowski conta que, após a chegada de Luis Claudio, o Torneio Touchdown passou a ser transmitido pelo canal Band Sports. A liga independente tem, entre seus patrocinadores, a cerveja Budweiser e o energético TNT. “Relacionamento acaba pesando na hora de fechar um patrocínio.”
Ligações com o pai
Há outras ligações com Lula. Um programa sobre o Torneio Touchdown foi gravado por Ricardo Stuckert, fotógrafo da Presidência no governo Lula e que hoje trabalha no instituto do ex-presidente. Sete programas foram transmitidos pela TV dos Trabalhadores (TVT), mantida pelos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e dos Bancários de São Paulo, filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). A TVT diz que não pagou pelo conteúdo.
Em entrevista dada em junho ao portal UOL, Luis Claudio mostrou confiança em seus próprios méritos: “Na minha vida eu nunca fracassei”.
O caçula de Lula criou uma empresa para cuidar do campeonato, a Touchdown Eventos, que pertence a outra firma dele, a LFT Marketing. Em 2014, a LFT recebeu R$ 2,4 milhões da Marconi & Maltoni, investigada na Zelotes sob a suspeita de ter articulado lobby em 2009 para aprovação de uma medida provisória que beneficiava empresas automotivas no Centro-Oeste.
A defesa de Luis Claudio nega irregularidades. Os advogados dizem que a LFT prestou serviço de marketing esportivo para a Marconi & Maltoni, mas não especificam que tipo de trabalho foi feito. O caçula de Lula poderá esclarecer isso à Polícia Federal em depoimento previsto para esta semana.
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