Na semana passada, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) disse que mais do que em qualquer outro momento era preciso deixar de lado as questões eleitorais e pensar em como resolver os problemas do ônibus. Quis dizer com isso que não ia tomar qualquer decisão só pensando em como isso lhe traria dividendos eleitorais. Vai saber o que se passa na cabeça de cada um: pode ser que estivesse sendo sincero. Mas o fato é que não seria exagero dizer que a carreira política de Fruet depende de ele acertar a mão com o problema do ônibus.
A decisão de como enfrentar o problema tem dois lados bem diferentes. Se um dos dois falhar, o prefeito está com problemas. Vejamos. O primeiro é o aumento da tarifa. Trata-se de uma tentativa de correção do populismo a que o próprio Fruet aderiu em 2013, talvez assustado com as manifestações que tomaram as ruas em junho. Baixou a tarifa na época de R$ 2,85, que já não fechavam a conta, para insustentáveis R$ 2,70. Talvez tenha reconhecido no ano passado que foi um erro que só aumentou o buraco em que estamos todos enfiados. Aumentou novamente para R$ 2,85, mas isso não resolveu.
Pode-se questionar (deve-se questionar, aliás) que o valor é alto demais e que certamente há gordura no contrato com as empresas para baixar esse preço. Toda auditoria que é feita no sistema e na licitação mostra isso. Mas enquanto não se conseguir mudar o contrato, há que se continuar pagando às empresas um valor baseado no contrato que elas têm. Um contrato de pai para filho, que tem de ser discutido na Justiça. Mas calote, a essa altura, não é uma opção. Portanto, manter uma tarifa mais baixa significa só que nós deixamos de pagar na catraca para pagar no IPTU.
Fruet deve ter feito um cálculo simples. A "bondade" com o passageiro, ainda mais num período de vacas magras, impediria que ele mantivesse o caixa em dia. Levaria a ainda mais atrasos de salários e de pagamentos (e como essa gestão tem atrasado pagamentos!) e a problemas nos serviços públicos. E o povo que depende desses serviços certamente julgará o prefeito pelos serviços que recebe ou não recebe na unidade de saúde, na creche, na escola... Ou seja: aumentar a tarifa é um jeito de sobrar dinheiro para outras áreas. Ou pelo menos de não faltar.
A segunda decisão, que parece mais acertada, mas também tem seu custo político. Fruet decidiu forçar a mão com o governo do estado. Era evidente que as linhas metropolitanas puxavam a passagem para cima, embora o governo negue. Deixar claro que o governo precisa pagar a sua conta é excelente para o prefeito, que precisará colocar menos subsídio no sistema (sem elevar ainda mais a tarifa). Mas é óbvio que, com isso, Fruet perde a chance de se aproximar de novo de Beto Richa (PSDB).
Depois da eleição do ano passado, os dois, que já militaram juntos (é essa a palavra?) no PSDB voltaram a se encontrar. Foi depois da eleição. Cogitou-se que os dois podiam ir juntos para 2016. Richa não lançaria candidato contra Fruet e, em compensação, Fruet voltaria a fazer parte do grupo do governador. Ninguém nunca vai saber se isso teria ocorrido caso Richa não estivesse com o cofre estadual em frangalhos e continuasse pingando mensalmente o subsídio do transporte coletivo. Agora, no entanto, isso parece coisa de um passado distante. E Fruet provavelmente vai ter uma pedreira pela frente, caso deseje se reeleger
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