O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró se manteve ontem em silêncio durante depoimento à Polícia Federal (PF) sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal, em 2006. A recusa em falar sobre a aquisição, que causou prejuízo de US$ 792 milhões à Petrobras, representa nova mudança de estratégia da defesa de Cerveró. Na semana passada, o advogado dele, Edson Ribeiro, havia anunciado que o ex-diretor responsabilizaria a presidente Dilma Rousseff e o resto do Conselho de Administração da estatal pela compra de Pasadena.
Não é a primeira vez que a defesa de Cerveró muda de postura repentinamente em relação à possibilidade de envolver Dilma nas investigações da Operação Lava Jato. Nesta semana, seus advogados protocolaram na Justiça pedido para que Dilma fosse ouvida como testemunha de Cerveró na ação penal em que ele é acusado de receber propina de R$ 40 milhões na compra de dois navios-sonda para a Petrobras . Entretanto, horas depois, a defesa do ex-diretor voltou atrás e retirou o pedido, alegando ter ocorrido um engano em arrolar Dilma como testemunha de defesa.
Segundo reportagem de ontem do jornal O Globo, a movimentação do início da semana foi calculada. O jornal informou que fontes próximas a Cerveró disseram que era um "recado" ao Palácio do Planalto de que ele não vai aceitar sozinho a culpa pelo prejuízo de Pasadena. Seria uma forma de mostrar a disposição do ex-diretor em responsabilizar a presidente pela compra da refinaria.
Ribeiro rebateu a reportagem. Disse se tratar de "pura especulação jornalística". "Se eles [os jornalistas de O Globo] têm fontes próximas [de Cerveró], só pode ser o carcereiro", ironizou o advogado.
O defensor do ex-diretor disse ainda que a decisão de colocar Dilma no rol de testemunhas foi motivada pelo fato de ela ter sido presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Entretanto, ele disse que, logo após o pedido, conversou com Cerveró e foi alertado de que, no caso da compra dos navios, as decisões não passaram pelo conselho logo, Dilma não teria qualquer ingerência sobre o assunto.
Competência do juiz
Segundo o advogado Edson Ribeiro, Cerveró só falará quando a Justiça decidir se o juiz Sérgio Moro é ou não competente para julgar a ação penal da qual o ex-diretor é réu.
Na segunda-feira, a defesa de Cerveró pediu ao Tribunal Federal da 4.ª Região (TRF4) a saída de Moro do caso. Os advogados pedem que o caso seja transferido para o Rio de Janeiro. "Todo o objeto da denúncia trata de assuntos que teriam ocorrido na sede da Petrobras, que fica no Rio", justifica Ribeiro. A defesa do ex-diretor também considera que Moro estaria impedido de julgar o caso de seu cliente, pois o juiz teria antecipado seu julgamento ao determinar a prisão preventiva de Cerveró.
No seu entendimento, se Cerveró se pronunciasse agora, estaria "legitimando" a competência da Justiça Federal e da PF do Paraná. "Entendemos que nem [a Justiça do] Paraná, nem o Sérgio Moro tem competência sobre esse caso. Não sou eu quem vai ficar legitimando isso", disse Ribeiro.
O advogado afirmou, entretanto, que assim que houver decisão definitiva da Justiça sobre a competência do caso, Cerveró pretende se pronunciar. "Não mudou nada. Quem sempre quis ser ouvido foi o Nestor, nunca ninguém quis ouvir o Nestor."
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